A INFELIZ(para SP )TROCA DE TELEGRAMAS
O jornal A FOLHA DO NORTE, em 23 de setembro de 1896, publicou a seguinte notícia:
LAURO SODRÉ
“O Dr. Lauro Sodré telegrafou ontem ao Dr. Campos Salles, lembrando àquele ilustre paulista o alvitre de solicitar do Presidente da República um vaso de guerra a fim de transportar os restos do glorioso maestro Carlos Gomes.
Momentos após haver S. Exa. expedido esse despacho, foi-lhe entregue um outro do Dr. Campos Salles, autorizando-o a fazer embarcar no primeiro navio mercante que daqui sair para a Capital Federal o cadáver do grande brasileiro.
Apesar disso, o Dr. Lauro Sodré aguarda a resposta do seu telegrama, que o Dr. Campos Salles não havia ainda recebido à hora em que expediu o da autorização a que acima aludimos.”
Na citada edição do dia 24, vem estampado este relevante editorial:
“Anteontem, o Sr. Dr. Lauro Sodré, Governador do Estado, acabava de telegrafar ao Presidente de São Paulo, a fim de lembrar-lhe a conveniência de solicitar do Governo Federal um vaso de guerra para transportar o precioso cadáver de Carlos Gomes, quando recebeu um despacho do Dr. Campos Salles rogando-lhe a remessa do féretro pelo primeiro vapor mercante a sair com destino ao Sul.
Divulgou-se ontem, cedo, a notícia desta correspondência telegráfica; e – devemos prestar culto à nossa sinceridade, dizendo logo a verdade inteira – não podia ser nem mais profundo nem mais doloroso o efeito desse pedido do honrado administrador da terra paulista. Por toda parte, não se tratou de outro assunto, nas conversações inflamadas a propósito dos acontecimentos que têm sido nota única da publicidade, em nossa capital. E não houve ninguém que se não revoltasse por aquele pedido extemporâneo, que é como que o telegrama comercial, em que o homem de negócios roga a remessa de uma partida de charque ou de café, necessária no mercado.
Não! É injusto e intempestivo transformarem a elegia em imprecação. Estamos ainda sangrando, com os seios da alma lacerados pela saudade… Como querem que o nosso espírito enlutado ainda na sua dor insondável, tenha pensamentos de repulsa e recriminação?
(…) Em nossa opinião, o povo paraense não pode, decentemente, sair desta alternativa: ou o ataúde de Carlos Gomes parte de uma maneira condigna, ou não vai daqui.
Que fique conosco o corpo querido do herói, como, durante tanto tempo, iluminou Belém o glorioso espírito do divino poeta da música.
Daqui não irá o féretro como vão os dos deserdados da sorte; quem foi grande e luminoso como Carlos Gomes só pode dormir o sono eterno em terra que seja tão grande como ele foi: a Amazônia.”
No dia 25, o jornal A FOLHA DO NORTE escreve:
“(…) Escritas estavam já estas linhas quando soubemos que o Sr. Dr. Lauro Sodré recebeu do Presidente da República um telegrama, comunicando-lhe que o transporte de guerra Itaipu é o vaso da Armada Nacional designado para conduzir desta capital para o Rio, sendo daí levados para São Paulo, os sagrados despojos de Carlos Gomes. O Itaipu partirá do Rio em 26 do corrente.”
Em 29 de setembro de 1896, o mesmo jornal transcreve os dois telegramas finais, que esclarecem às gerações futuras a verdadeira dimensão do histórico episódio, traçados entre o Dr. Campos Salles e o Dr. Lauro Sodré:
CAMPOS SALES
“Belém, 27 – Dr. Campos Salles, Presidente. São Paulo. Providência vinda transporte guerra para conduzir cadáver maestro Carlos Gomes geralmente aplaudida aqui. Pará vai restituir a São Paulo despojos seu dileto filho.
Que esse corpo seja perpétuo laço íntima confraternidade entre Pátria Paulista, onde para ele amanheceu a vida sorridente, e a Pátria Paraense, onde quis que ela se lhe enoitasse santificada pelo preito de veneração de todo um povo. Saúdo-vos – Lauro Sodré.”
CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES
Em 1978, Campinas pediu emprestado ao Pará o quadro Os últimos dias de CARLOS GOMES, que em ofício foi-lhe negado:
“Quanto ao pedido para que o quadro a óleo alusivo a Carlos Gomes, existente na Prefeitura dessa capital, seja concedido por empréstimo, para exposição durante a Semana de Carlos Gomes em Campinas, declaro que não é aconselhável o atendimento do pleito.
Trata-se de uma tela histórica, de valor inestimável, pintada em Roma em 1899 (de quase 80 anos, portanto), pelos geniais artistas Domenico De Angelis e Giovanni Capranesi e inaugurada nesta capital, na pinacoteca da então Intendência Municipal de Belém, em 17 de setembro de 1899, 3 anos após o desenlace do maestro.
Foi mandada executar pelo Intendente e Senador Antonio José de Lemos. Mede, no seu conjunto, 5,20 × 3,70 e é majestosamente ornada por moldura igualmente confeccionada em Roma, dourada a ouro fino, com 22 cm de altura, no estilo barroco romano, em obra de talha de excepcional valor, de autoria do insigne artista e afamado escultor em madeira, professor Giuseppe Bucci.
Tela e moldura dessa idade, dessa nobre origem e, sobretudo, desse sentido histórico, não podem, mesmo que por empréstimo, ser cedidas, posto que conduziria o governo à medida indubitavelmente temerária.
A tela dos Últimos dias de Carlos Gomes é o que nos resta como inapagável lembrança do crepúsculo épico do paulista – gigante que, após a via-crucis do seu lento calvário, aqui expirando nos legou a orquestração maior, o mais esplendente triunfo que poderíamos merecer, na hospitalidade de histórico instante e de que nos orgulhamos perante o mundo e perante a História.
De Angelis e Capranesi fizeram-no, sim, em Roma. Mas ambos estavam em Belém por ocasião da agonia e morte do maestro, assistiram-lhe as pompas fúnebres, participaram da comoção de que ficou impregnada a alma paraense, moldaram-lhe a máscara mortuária, ofertando-a ao Intendente Antonio Lemos e – detalhe mais importante que deve ser destacado – divulgaram na imprensa local, por ocasião do óbito, que estavam fotografando ângulos da casa em que ocorreu o desenlace, pessoas que o presenciaram, o cenário, enfim, dos últimos dias de Carlos Gomes, com a finalidade de reproduzí-lo, posteriormente, em grande tela que pretendiam executar.”
Trata-se de uma tela histórica, de valor inestimável, pintada em Roma em 1899 (de quase 80 anos, portanto), pelos geniais artistas Domenico De Angelis e Giovanni Capranesi e inaugurada nesta capital, na pinacoteca da então Intendência Municipal de Belém, em 17 de setembro de 1899, 3 anos após o desenlace do maestro.
Foi mandada executar pelo Intendente e Senador Antonio José de Lemos. Mede, no seu conjunto, 5,20 × 3,70 e é majestosamente ornada por moldura igualmente confeccionada em Roma, dourada a ouro fino, com 22 cm de altura, no estilo barroco romano, em obra de talha de excepcional valor, de autoria do insigne artista e afamado escultor em madeira, professor Giuseppe Bucci.
Tela e moldura dessa idade, dessa nobre origem e, sobretudo, desse sentido histórico, não podem, mesmo que por empréstimo, ser cedidas, posto que conduziria o governo à medida indubitavelmente temerária.
A tela dos Últimos dias de Carlos Gomes é o que nos resta como inapagável lembrança do crepúsculo épico do paulista – gigante que, após a via-crucis do seu lento calvário, aqui expirando nos legou a orquestração maior, o mais esplendente triunfo que poderíamos merecer, na hospitalidade de histórico instante e de que nos orgulhamos perante o mundo e perante a História.
De Angelis e Capranesi fizeram-no, sim, em Roma. Mas ambos estavam em Belém por ocasião da agonia e morte do maestro, assistiram-lhe as pompas fúnebres, participaram da comoção de que ficou impregnada a alma paraense, moldaram-lhe a máscara mortuária, ofertando-a ao Intendente Antonio Lemos e – detalhe mais importante que deve ser destacado – divulgaram na imprensa local, por ocasião do óbito, que estavam fotografando ângulos da casa em que ocorreu o desenlace, pessoas que o presenciaram, o cenário, enfim, dos últimos dias de Carlos Gomes, com a finalidade de reproduzí-lo, posteriormente, em grande tela que pretendiam executar.”
FRASE DA VEZ:
CARLOS GOMES escrevia:
“QUANDO CREIO QUE HOJE TERMINEI, AMANHÃ ME PARECE QUE DEVO REFAZER O TRABALHO ! E POR QUÊ ? NÃO POSSO DIZER-TE . NEM EU MESMO SEI... AS OBRAS PODERIAM ESTAR TERMINADAS SE NÃO CUIDASSE MUITO DO FUTURO E SE O MEDO DO FIASCO NÃO FOSSE MEU ETERNO PERSEGUIDOR."
“QUANDO CREIO QUE HOJE TERMINEI, AMANHÃ ME PARECE QUE DEVO REFAZER O TRABALHO ! E POR QUÊ ? NÃO POSSO DIZER-TE . NEM EU MESMO SEI... AS OBRAS PODERIAM ESTAR TERMINADAS SE NÃO CUIDASSE MUITO DO FUTURO E SE O MEDO DO FIASCO NÃO FOSSE MEU ETERNO PERSEGUIDOR."
Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado.
Belíssimo documento histórico nos dá
ResponderExcluirDenise Maricato. A celeuma em transportar o corpo de Carlosa Gomes para São Paulo. O sentimento -
nacionalista do Dr. Lauro Sodré foi de grande relevância para brasileiros saberem como foi ardente a enérgica posição do DR.Lauro Sodré. Entretanto, sabemos que Campinas não honra os méritos do maior compositor das américas.
Campinas e o Brasil, não é ?
ResponderExcluirSe soubessem fazê-lo, com certeza, Carlos Gomes estaria no lugar que merecia estar.
Perdemostodos nós e perde o futuro.
Mas isso não impede que a gente lute para que este reconhecimento um dia venha.
Obrigada por comentar.
Abraço
Belo quadro. Sempre é bom saber dos detalhes que envolveram nosso grande compositor. Marisilda Tescaroli
ResponderExcluirBom existir gente como você, Denise, ajudando a recuperar a memória músico/cultural do País.
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