ORAÇÃO ANTE O MONUMENTO TÚMULO DE CARLOS GOMES
by Alcides Acosta
Alcides Acosta - presidente da ABAL CARLOS GOMES de Campinas, emocionado, proferiu esta oração, na manhã de hoje, em frente ao túmulo do Maestro, por ocasião da homenagem feita pela ABAL, ao aniversário de morte de CARLOS GOMES.
Devemos todos, em reverência, nos emocionar diante deste magnífico Monumento Túmulo, que serve de última morada ao Maestro Antônio CARLOS GOMES, o músico de cuja inspiração saíram, brotaram, jorraram acordes grandiosos, geniais, muitas vezes originais, do modo que somente ele saberia criar. Este monumento se deve a um projeto do artista Rodolfo Bernardelli e foi inaugurado em 2 de julho de 1905.
Anualmente, a semana que abriga a data de 16 de setembro, falecimento de Antônio CARLOS GOMES em Belém do Pará, no distante ano de 1896, há 115 anos transcorridos, é programada para festejos em memória ao excelso Maestro, compositor das óperas A Noite do Castelo, (que este ano completou 150 anos de sua estreia no Rio de Janeiro, no Teatro Imperial), Joanna de Flandres, Il Guarany, Fosca, Salvator Rosa, Maria Tudor, Lo Schiavo, Condor e Colombo.
Neste gramado, que ladeia o Monumento, podemos ler os títulos de suas óperas, trabalhos que tornaram o Maestro CARLOS GOMES famoso em toda Europa e nas Américas, em seu tempo.
Mas, neste momento, juntamente com a população de Campinas, e com a comunidade cultural e artística, aqui viemos para homenagear mais do que o músico arrojado e inspirado, revolucionário e inovador em sua arte mas, também, e principalmente, reverenciar o ser humano que ele foi.
Um homem modesto, corajoso apesar de sua origem humilde, inteligente e espirituoso, nascido nesta Campinas que, nas primeiras décadas de 1800 era apenas uma pequena Vila de São Carlos, com cerca de 400 casas e uma população que não chegava a 7 mil habitantes, entre os quais cerca de 3 mil indivíduos livres e uns 4 mil cativos, que trabalhavam em todos os ofícios e na lavoura do café. No ano de 1836 a cidade tinha 4 músicos que aqui viviam, um deles, o pai de CARLOS GOMES, Manoel José Gomes.
Nesse contexto histórico, o menino Tonico de Campinas iria crescer e sob a influência do pai e dos irmãos, acabaria fascinado pelo poder inebriante da Música, já que seu pai lhe ensinaria bem cedo a ler partituras e a tocar diversos instrumentos, do triângulo e instrumentos de percussão, na primeira banda que Campinas conheceu, a Banda do Maneco Músico, até o piano. Essa formação musical diversificada, encaminhou-o a compor as primeiras modinhas, canções, pequenas peças de iniciante mas que, aos 18 anos, lhe possibilitariam compor a primeira Missa, dedicada a São Sebastião.
Outros trabalhos viriam depois, mais elaborados e dentro de seu estilo romântico, onde despontariam a conhecida modinha Quem sabe?!, por inspiração de seu primeiro amor platônico, a jovem Ambrosina Correia do Lago, e “Bella nympha de minh`alma”...
Então, ainda jovem e com a cumplicidade e, também, estímulo de seu irmão mais velho, outro músico de grande qualidade, violinista e compositor, José Pedro de Sant’Anna Gomes, CARLOS GOMES aventurou-se pela região, em saraus musicais, serestas, festas musicais em fazendas e no ofício de ensinar música, paralelamente às atividades na banda e até em uma alfaiataria, costurando calças, como contam divertidos seus biógrafos.
Visionário, ambicioso de realizar mais e mais, na área da Música, com gosto por aventuras e viagens, o Tonico e seu irmão cultivaram o sonho por futuras glórias como compositores. Daí surgiram a viagem a S. Paulo, o encontro com os estudantes universitários da Faculdade de São Francisco, que reconheceram sua genialidade musical, e o encorajaram mais a ir tentar a sorte no Rio de Janeiro, a capital do Império, onde existia o ambiente musical à altura do músico ansioso e ambicioso por produzir obras grandiosas.
Ir ao Rio, conseguir ser recebido na Corte Real, impressionar a todos, inclusive o próprio Imperador Dom Pedro II, que iria se tornar seu grande protetor, foi a maior façanha do Tonico de Campinas. E foi o que determinou toda a sua trajetória de vida.
As primeiras óperas, ainda escritas em Português, já deixavam claro para todos a sua destinação, o seu talento ímpar, a sua vocação inescapável. E uma conjugação de esforços se estabeleceu para catapultar CARLOS GOMES para a Europa, o grande centro da Cultura e da Civilização ocidental.
Cercado pela simpatia de quase todos os músicos do Rio e beneficiado por Dom Pedro II, CARLOS GOMES (por alcançar o primeiro lugar em um concurso e ganhar medalha de ouro) seguiu para a Itália, mais precisamente para a cidade de Milão, onde iria rivalizar com os compositores italianos e de outros países avançados, na arte de compor óperas. Segundo musicólogos como Marcos Góis, CARLOS GOMES causou em Milão um grande impacto, talvez um pequeno “tsunami” musical, com suas óperas e o seu jeito brasileiro e atrevido de criar melodias. E influenciou a renovação da ópera, sendo praticamente um divisor de águas entre compositores como Rossini, Bellini, Donizetti e Verdi, e os veristas Mascagni e Puccini.
CARLOS GOMES deve ser admirado por sua coragem e talento, por ter ousado sonhar e ansiar por glórias na arte, dando os passos para concretizar esse destino grandioso. Para ele não importaram a origem humilde, a vila modesta, o País de um mundo recém descoberto e que buscava o caminho incipiente do progresso, mas sim, a necessidade de dar vazão à paixão musical que alimentava em seu âmago, que o faziam delirar em seus devaneios de jovem brasileiro.
Esse é, em breves palavras, nesta despretensiosa alocução, o homem vibrante, especial, predestinado e destemido que foi Antônio CARLOS GOMES, o qual nos dá lições de como se deve perseguir um ideal e como é possível construir e edificar sonhos. Foi por haver dado o primeiro passo, ter o destemor de se lançar em busca de seu destino, indiferente às dificuldades, percalços, obstáculos, riscos e privações, que CARLOS GOMES foi, é e deve continuar a ser um super herói para nós, Campineiros de todos os recantos, brasileiros de Campinas, fonte de inspiração, de coragem e superação. Salve, CARLOS GOMES! Nós te saudamos, agradecidos!"
NA PONTA DA AGULHA
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