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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

UM POUCO DE CARLOS GOMES 16


 A câmara de CARLOS GOMES, como a obra musical e vocal, possui elementos que afirmam seu espaço no universo de sua composição da mesma forma que as óperas, porém sempre passou para o segundo plano, como uma obra menor.
O melhor meio de se fazer conhecer a obra de grandes compositores são os pequenos concertos. A música de câmara não possui os elementos cênicos que criam o clima envolvente de uma ópera, nem o impulso sonoro de uma orquestra, coro e solistas que o lírico possui, mas contém a mesma beleza da linha melódica, a dramaticidade, a riqueza de acompanhamento e a utilização de recursos vocais na interpretação.
Modinhas e canções saíram dos salões imperiais para as ruas em forma de serestas e foi nas ruas, pelo povo, renascendo através dos tempos.

Essa foi uma parte da obra de CARLOS GOMES que chegou ao Brasil aos pedaços, descaracterizada, trazida por curiosos, amigos da família, algumas por ele mesmo, a maior parte depois de sua morte.
Dispersos pela Itália, os originais ainda estão por lá, assim como outros documentos ligados a ele.
Muitas informações se perderam, muita confusão se criou ao atribuir a ele peças que não lhe pertencem, comprometendo a identificação de seu estilo.
Canção e modinha são apenas duas das maneiras que ele encontrou para indicar o gênero de suas composições vocais para câmara.
Outros termos, como canzonetta, canzonatura, arietta, lamento, meditazione, Idilio, Barcarola, servem mais para sugerir a linha de interpretação desejada pelo autor, com base no tema proposto pelo texto do que propriamente para definir a forma musical.
A modinha brasileira de salão, a música popular do interior paulista da época, a música de banda e os lundus dos escravos, misturados à música dos grandes compositores europeus com os quais iria manter contato, seriam os elementos de sua estética musical muito bem definida já em suas primeiras óperas compostas no Brasil, causando a admiração nos europeus em "O GUARANI" de 1870, na "FOSCA" de 1873 e em "SALVADOR ROSA" de 1874 e influenciando novos estilos e novas estéticas de compositores italianos de ópera.
A influência da música italiana na obra de CARLOS GOMES é evidente e não poderia ser diferente: seus estudos foram feitos na Itália e sua relação com os grandes compositores da época deixou uma forte impressão, marcando sua escrita musical.
Mas antes de sua partida para a Itália, as escolas e os músicos com quem manteve contato no Brasil não escapavam à influência musical italiana.


CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES

Em maio de 1876, o Barão de Javari, remete um telegrama de Roma, com ordens do Imperador:
“Maestro Carlos Gomes – San Pietro all’Orto 16 – Milão
O Imperador quer que o Sr. componha Hino para ser tocado em Philadelphia a 4 de Julho, recebo telegrama ordenando dizer-lhe isto.
S.M. não admite desculpa – responda telegrafo – resposta paga – Ontem lhe escrevi pelo correio – Barão de Javari – Ministro do Brasil.”

CARLOS GOMES a princípio, se nega:
“Milão, 20 de abril de 1876
Meu poeta e amigo: Estou desolado, mas falta-me tempo material para isto… com o remodelamento da Fosca e com minha nova ópera Maria Tudor, que por contrato devo entregar ao editor Ricordi no mês de setembro… senão multa…”
Carlos”
(Carlos Gomes – Do Sonho à Conquista. Juvenal Fernandes, p.135); (A Vida de Carlos Gomes. Itala Gomes Vaz de Carvalho, pp.124, 125); (Carlos Gomes – Do Sonho à Conquista. Juvenal Fernandes, p.135)

Posteriormente, veio a quase imposição do Imperador e ele viu-se obrigado a obedecer. Disse D. Pedro:
“Quero um hino nacional digno do Brasil, de você, de mim. Eu o quero logo. Não admito desculpas. Espero eu mesmo”.

Ficou muito aborrecido, mas a ordem imperial era clara; obedeceu-a.
O Hino agradou imensamente a D. Pedro II, que agradeceu com afeto. IL SALUTO DEL BRASILE, que já em fins de maio, segue para a legação de Paris, amarrado em nove rolos e é executado sob aplausos entusiásticos naquela cidade americana, a 4 de julho de 1876. Dias depois, recebia notícias de que a Fosca fora cantada no Rio.
IL SALUTO DEL BRASILE, grande hino para vozes e orquestra e oito harpas, obtém um grande sucesso na Filadélfia naquele ano. O excelente maestro Roberto Schnorrenberg considerava esta partitura harmonicamente bastante avançada.
Os críticos de lá louvaram sua capacidade de sintetizar o melhor da escola italiana e da escola alemã, fazendo surgir, aqui e ali, sinais de wagnerianismo. Na verdade, a beleza da melodia, a harmonia avançada para a época e a sólida técnica orquestral nos impressionam até hoje e justificam os comentários da imprensa americana.
É o primeiro centenário da independência americana e em Filadélfia transcorrem as celebrações. E CARLOS GOMES está presente.
O Hino é arrebatado e passional, como sempre e em 4 de julho a grande orquestra do maestro Gilmore o executa na Praça da Independência diante de um público extraordinário.

A Presse de Filadélfia escreve:
“Saudação do Brasil, hino pelo primeiro centenário da independência americana, composto por A. Carlos Gomes, por ordem de S. M. Dom Pedro, foi uma das mais deliciosas peças musicais executadas nesta ocasião. Parece que o maestro Gomes tinha se apropriado das melhores qualidades tanto da escola italiana, quanto da escola alemã, sem cair nos excessos de uma e de outra.
O Hino tem todo o fascínio melódico da música italiana e ao mesmo tempo os envolvimentos, as belas harmonias da música alemã.
Aqui e ali se percebem traços do estilo wagneriano, mas assim como se encontram com frequência mudanças repentinas e harmonias complicadas, não fica ofuscada a base melódica, que aliás é posta em relevo maior pelas variações feitas sobre essa.
Há nesta música muitas frases, por efeito das quais se pode estar certo de que o Hino se tornará em qualquer parte uma das peças prediletas do público.
Executado como foi, vem a ser julgado uma das mais belas composições que já se tenha ouvido e despertou os mais entusiásticos aplausos.
Durante a execução, D. Pedro estava num local destacado, próximo à cadeira do presidente da festa e ali de pé pôs-se a seguir com os olhos todos os movimentos da orquestra. Os aplausos rumorosos com que foi acolhido o imperador se prolongavam tanto que S.M. se viu obrigado a retirar-se, a fim de que não fosse perdida pelo público nenhuma parte das belezas desta música estupenda.”


FRASE DA VEZ:
CARLOS GOMES dizia em cartas a amigos:

“(…) AMO A ITÁLIA COMO SEGUNDA PÁTRIA, MAS EU SOU CAIPIRA E BRASILEIRO HEI DE MORRER, MEUS FILHOS SÃO REGISTRADOS NO CONSULADO BRASILEIRO, MINHA FILHA CHAMA-SE ITALA EM HOMENAGEM À ITÁLIA, MAS MEUS FILHOS ITALIANOS ? NÃO QUERO ! HÃO DE SER BRASILEIROS, A PÁTRIA DELES É O BRASIL !
 
Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado.

ESTÁ TUDO AZUL ! 

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