Páginas

domingo, 16 de outubro de 2011

CARLOS GOMES - HERÓI DA PÁTRIA 3



CANDIDATO A HERÓI
Correio Popular de Campinas - publicação em 16 de outubro de 2011 - um mes após seu aniversário de morte.
TRANSCRIÇÃO:
by Fábio Trindade

Projeto de Lei
quer inscrever o
nome do maestro
Carlos Gomes
no Livro dos
Heróis da Pátria.

O maestro Carlos Gomes
(1835-1896), como sabemos,
já descansa faz tempo. Seu talento
e obra, entretanto, estão
longes de serem esquecidos.
O mais importante compositor
brasileiro de ópera
destacou-se pelo estilo romântico,
com o qual conseguiu,
deixando a pequena
Campinas do século 19, por
uma carreira de destaque internacional.
Nhô Tonico, como
era conhecido e até assinava
sua dedicatórias, 115
anos após sua morte, em Belém,
no Pará, pode ganhar
mais uma homenagem —
grande, diga-se de passagem.
O projeto de lei 1546/2011,
do deputado Paulo Freire (PR/
SP), quer inscrever o nome
do maestro no Livro dos Heróis
da Pátria, que repousa no
Panteão da Pátria e da Liberdade,
em Brasília. Aqueles
que têm seus nomes inscritos
nas reluzentes páginas de aço
ainda recebem o título de herói
nacional.
O primeiro passo para o
projeto sair do papel foi dado
no final do mês passado. O relator
do caso e membro da Comissão
de Educação e Cultura,
o deputado Tiririca (PR/
SP), aprovou o projeto e encaminhou,
na semana passada,
para a Comissão de Constituição
e Justiça e de Cidadania.
“Tenho certeza que todos irão
aprovar, porque Carlos Gomes
tem obras fantásticas. O
Guarani é fantástico. Ele realmente
é um herói da pátria
porque faz parte da cultura
nacional”,
explicou Tiririca.
O deputado foi escolhido
pelo próprio autor do projeto
para ser o relator do caso.
“Paulo Freire é meu amigo, e
o que ele está fazendo é muito
bacana. Ele me disse que
estava com esse projeto e aceitei
na hora.”
Tiririca afirmou
que já conhecia a obra de Carlos
Gomes antes de ser convidado
para ser relator. “O
maestro é ótimo, e como faço
parte da cultura, sou artista,
precisava conhecer bastante
coisa. Se não me engano, ele
foi o primeiro artista a levar a
música clássica do Brasil para
o Exterior. Então isso é importante.”

O Livro de Aço apresenta
arquitetura modernista, simbolizando
uma pomba, e foi criado por Oscar Niemeyer.
São três pavimentos, somando
área total construída de
2.105 m². Sua pedra fundamental
foi lançada pelo então
presidente da França, François
Mitterrand, em 15 de outubro
de 1985.
Com o intuito
de homenagear todos aqueles
que se destacaram em
prol da pátria brasileira, sejam
naturais do País ou não,
o livro possui apenas dez nomes
inscritos. Tiradentes foi o
primeiro a conseguir o feito,
com inscrição em 21 de abril
de 1992. Também figuram como
heróis nacionais em Brasília
nomes como Zumbi dos
Palmares, Dom Pedro I, Santos
Dumont e Duque de Caxias.
Outras personalidades propostas
para o Livro de Aço,
apesar de seus projetos de lei
terem entrado em vigor, ainda
não foram efetivamente inseridos
no monumento, entre
eles Getúlio Vargas e Ana Neri.
O deputado Paulo Freire
justifica a entrada de Carlos
Gomes porque a história de
uma nação não é feita apenas
pelos governantes, como reis,
presidentes, primeiro-ministro,
líderes políticos e militares.
Artistas, cientistas e intelectuais
constroem também o
País, por meio de suas obras
que enaltecem a identidade
cultural de uma nação.

MATÉRIA ARQUIVADA

Em 2003, tal iniciativa foi
apresentada pelo ex-deputado
Elimar Máximo Damasceno,
sendo a matéria arquivada
em 2007 ao final da legislatura.
“A visão de herói como
a de alguém que se sacrifica,
às vezes com a própria vida,
em prol do seu próximo, é restrita
e está hoje ultrapassada.
Herói é isso, sim, mas é também
quem, com seus atos e
sua obra, eleva o homem, dignificando-
o e resgatando-o
ao patamar da essência do
que é verdadeiramente humano.
E esse resgate tem o valor
de um salvamento, retirar o
homem dos escombros de
uma vida tediosa, vazia e
cheia de percalços, dando a
ele o alimento do conhecimento,
do belo, do sublime”,

justificou Freire no projeto.

SAIBA MAIS:
 ÓPERAS DE CARLOS GOMES

- A Noite do Castelo (Rio de
Janeiro,1861)
- Joanna de Flandres (Rio de
Janeiro,1863)
- O Guarani (Milão, 1870)
- Fosca (Milão, 1873)
- Salvador Rosa (Genova, 1874)
- Maria Tudor (Milão, 1879)
- O Escravo (Rio de Janeiro, 1889)
- Condor (Milão, 1891)
- Colombo (Rio de Janeiro, 1892)

SOBRINHA-TRINETA APOIA INICIATIVA E ESPERA APROVAÇÃO 

Denise Maricato diz que a reativação do assunto é importante para a cultura nacional; acadêmicos também estão otimistas com o projeto.

Para Denise Maricato, sobrinha-
trineta do maestro campineiro,
tudo o que for feito
para engrandecer o nome de
Carlos Gomes é muito benvindo.
“Nosso País tem ainda
muito o que crescer culturalmente,
então devemos aplaudir
cada passo dado em direção
à cultura. O Paulo Freire
escolheu o Tiririca, que é do
mesmo partido, para relator
porque acredita nele. Acho a
discriminação existente contra
o Tiririca uma bobagem,
uma vez que há gente no Congresso,
com uma listagem
enorme de cursos e PhDs,
que é apenas peça decorativa,
quando não outra coisa”,

disse.
Denise acredita que, como
o projeto de 2003 de Elimar
Máximo Damasceno foi arquivado,
a reativação do assunto
é importante para a cultura
nacional. “Os políticos
precisam parar de fazer projetos
que acabam no meio do
caminho, assim como pontes,
viadutos, prédios etc. Temos
uma política do começo
sem fim. Paulo Freire, Tiririca,
Elimar... todos eles são instrumentos
para um objetivo
maior, que é colocar Carlos
Gomes no Lugar que sempre
mereceu.” (...)
(...) O presidente da Academia
Campineira de Letras e Artes,
Sérgio Caponi, também
apoia a iniciativa. “Tem pouca
gente no livro e acho que
Carlos Gomes merece. Todos
os países têm um lugar que
faz referência aos grandes heróis.
No Brasil, o lugar é o livro,
e se fizer uma retrospectiva
de quem merece, o maestro
tem que estar lá. Uma pessoa
que nasceu em uma vilazinha
e consegue se igualar
aos melhores da música, como
compositor, é brilhante.
Esse é um reconhecimento
que falta para ele.”

O problema do Brasil, segundo
Caponi, é que o mundo
político não se preocupa
com a cultura. “É uma triste
realidade, porque existem
dois Brasis: o real e o idealizado.
A falta de interesse dificulta
a visão para entender Carlos
Gomes. Eles não sabem
avaliar o tamanho do maestro,
não conseguem captar
ou saber quem ele realmente
foi.”

Agostinho Toffoli Tavolaro,
presidente da Academia
Campinense de Letras, espera
que outras entidades
apoiem a iniciativa. “É uma
iniciativa digna de louvor,
porque é um nome de destaque,
o maior nome da música
brasileira do século 19.
Que me perdoem os críticos,
mas ainda acho que é o
maior compositor brasileiro
da história. Ele deve ser lembrado
e Campinas deve ser
apoiar.”


LIVRO DOS HERÓIS DA PÁTRIA TEM HOJE APENAS 10 NOMES
É um clube seleto, heterogêneo e exclusivamente masculino, mas pode muito em breve ganhar pelo menos uma dezena de novos integrantes, entre eles mulheres. O Livro dos Heróis da Pátria, que repousa no Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília, tem hoje apenas dez nomes inscritos em suas reluzentes páginas de aço, todos nascidos quando o Brasil ainda era, pelo menos, Império. 
 No início do mês, a Comissão de Educação do Senado aprovou projeto que insere o nome do ex-presidente Getúlio Vargas no livro, reativando a discussão: afinal, o que dá a um vulto histórico a dimensão heróica? Ou, como lembram os historiadores, vale a pena cultuar heróis?


O dramaturgo alemão Bertolt Brecht cunhou a frase "Infeliz o país que precisa de heróis". Mas todos os países têm os seus. Os americanos cultuam a memória dos seus chamados founding fathers (pais fundadores), como Thomas Jefferson e Benjamin Franklin. Um Panteão em Paris abriga os restos mortais de célebres franceses como Voltaire e Victor Hugo. As guerras são pródigas em produzir heróis (conforme o lado que se vê e dependendo de que lado você esteja). Mas, hoje, até este conceito - em um mundo onde o terrorismo sem face é muitas vezes o maior adversário de uma nação - perdeu essência.
 O modelo brasileiro, de seleção de heróis por meio de projetos de lei, não tem paralelo em outros países. Em geral, o status de herói - aliás, duramente criticado pela historiografia contemporânea - é alcançado por meio do tempo e pelo reconhecimento do povo. No caso mais recente, da indicação pelo senador Marconi Perillo (PSDB-GO) de Getúlio Vargas para integrar a lista, entra em cena outro aspecto do debate: afinal, os "heróis" precisam ser "perfeitos", à imagem dos personagens mitológicos como Hércules e Aquiles?
Se o fossem, teríamos que reescrever a história do Brasil. Esta postura só revela a ignorância sobre a competente historiografia que vem sendo realizada em nossas universidades, que traz à tona não "heróis" cuidadosamente maquilados, mas atores históricos de carne e osso, interagindo com os diferentes momentos políticos, a sociedade, a economia e as mentalidades de uma época.
Para se sair da vida e entrar na história - como disse Getúlio em sua famosa carta-testamento -, é preciso descartar as representações falsas e estereotipadas sobre os atores históricos, adaptando-as às imagem dadas pelas pesquisas mais recentes.
 Não é assim, todavia, que os congressistas encaram a questão. Além dos quatro nomes já aprovados e aguardando inclusão no Livro dos Heróis da Pátria, há quase duas dezenas de projetos propondo novos candidatos, inclusive, e por uma questão de justiça, também mulheres (Maria Quitéria, Ana Néri e Anita Garibaldi). Até hoje, o único projeto do tipo a receber parecer desfavorável por causa do mérito foi o que indicava o maestro e compositor Heitor Villa-Lobos.

CATORZE NOMES JÁ APROVADOS 
 Catorze leis já estão em vigor, incluindo nomes no Livro dos Heróis da Pátria. Porém, quatro deles ainda não foram efetivamente inseridos
Herói
Data da lei
Data da inscrição
Tiradentes 11/12/1989 21/4/1992
Deodoro da Fonseca 11/12/1989 15/11/1997
Zumbi dos Palmares 20/11/1996 21/3/1997
Dom Pedro I 30/8/1999 5/9/1999
Plácido de Castro 2/5/2002 17/11/2004
Duque de Caxias 28/1/2003 28/1/2003
Almirante Tamandaré 5/12/2003 13/12/2004
Chico Mendes 22/9/2004 Ainda não ocorreu
José Bonifácio 19/5/2005 21/4/2007
Almirante Barroso 25/5/2005 11/6/2005
Santos Dumont 9/5/2006 26/7/2006
Frei Caneca 11/10/2007 Ainda não ocorreu
Marechal Osório 27/5/2008 Ainda não ocorreu
Barão de Serro Azul 15/12/2008 Ainda não ocorreu

Agência Senado - Senado Federal | E-mail: agencia@senado.gov.br
Praça dos Três Poderes, Anexo I, 20.º andar.
70165-900 - Brasília DF

 COMENTÁRIO DA DENISE:


Dando um passo de cada vez, a gente chega lá !...

RED ROAD

5 comentários:

  1. Recebi de minha amiga, Eliana, por e-mail:

    Parabéns!!! Finalmente as energias estão sendo dirigidas aos seus lugares. Tudo a seu tempo e à sua hora. Tudo acontece como tem que acontecer. Depois dessa atitude justa do Dep. Paulo Freire, o seu livro vai ser editado. Sendo esse o desfecho perfeito do trabalho de pesquisa que começou a pequenos passos e foi se engrandecendo, tomando vulto e, como um prêmio de coroamento à toda sua incansável pesquisa de resgate de um ícone - seu trio-avô, finda nesse Projeto Lei onde ele vai ser colocado em seu lugar de direito.

    Tudo isso para que sua gestão como vereadora não seja em causa própria e sim em prol da Cultura de Campinas como um todo.

    ResponderExcluir
  2. Uma colheita farta de um trabalho bem estruturado.
    Parabéns, Denise!

    ResponderExcluir
  3. Fiquei muito feliz quando saiu a notícia. Foi sempre assim que retratei Carlos Gomes paras as crianças de todas as escolas municipais de Campinas e algumas estaduais. Ele foi um herói da pátria e foi um herói como homem, ser humano que luta e consegue realizar seus sonhos. Marisilda

    ResponderExcluir
  4. Realmente, Carlos Gomes foi um herói, por toda sua tenacidade !

    ResponderExcluir