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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

HISTÓRIA DOS TULLIO 8


A MORTE DO MAESTRO
 by Jolumá Brito
 
TRANSCRIÇÃO:

... quando o maestro vibrava com as cordas musicais de uma sinfonia, quiçá de uma ‘berceuse’ (canção de ninar) e de olhos quase fechados, pensava adormecer ao ritmo suave de uma romanza talvez, e empunhava a batuta, tocando-a suavemente sobre a estante, como se fora um coração pulsando em sua mão, havia uma derradeira esperança na vida de Luiz de Tullio e a morte veio colhê-lo por entre um turbilhão de melodias...
Era a música divina, vinda de Deus, descendo dos céus, para extasiar os seus sentidos, como as ondas e as águas e os regatos e as cascatas e os ribeiros que se percebiam na musicalidade da orquestra transformada na carícia branca e luminosa da harmonia..
Naquele instante, no templo de sua memória, toda gente está rezando: reza a luz, o ar, a pedra, a água, os lábios, a flor, a natureza é uma oração de melodias, um cantochão na montanha e a oração de Jesus é mais alta, porque o hino de amor cantado pela dor, pelo beijo infinito, úmido de sangue, escorrendo lágrimas...
E pode ele ouvir ainda o som de esferas perdidas, de sons que iam se desvanecendo, quando a cidade estava vibrando de harmonias no instrumento que tornou Luiz de Tullio no spalla famoso...
E todo som que nascia da terra agora, é como se fora uma canção musical de gratidão daqueles a quem o maestro ensinara uma canção musical de gratidão do espírito agradecido de milhares de antigos alunos, vibrados na caixa do violino morto com a sensação de notas que não foram escritas em pauta alguma – que é a da gratidão de seus antigos discípulos...
Quando Tullio alçou a braço empunhando a batuta pela última e derradeira vez, não sabia que comandava os passos da Morte em sua direção, porque aos poucos, seu braço já cansado e sem forças, foi baixando lentamente, como as asas de um pássaro ferido...
Mas, não foi só da lembrança agradecida de seus velhos companheiros e alunos, que Luiz de Tullio recebeu a paga em sua vida...
Teve, dentre outros, um gesto digno de sua vida, cheia de altivez.
Quando foi afastado da direção da Orquestra Sinfônica Campineira, por imposição, ofereceram-lhe como recompensa certa importância em dinheiro, que poderia suavizar os últimos dias de sua vida.
Mas, Luiz de Tullio teve uma atitude de altivez que lembra Carlos Gomes quando, pouco antes de sua morte, em 16 de setembro de 1896, ora informado de que a Assembléia Legislativa do Estado de SP havia lhe votado uma pensão mensal.
E o velho maestro campineiro, sacudindo a cabeleira branca e revolta, recusou a oferta, talvez generosa até como esmola para seu coração, respondendo cheio de dignidade a quem fora informá-lo: - “De São Paulo eu não quero nada... nada... nem nunca...”
Também Luiz de Tullio, quando lhe disseram que iria receber da Prefeitura Municipal de Campinas uma mensalidade estipulada em dinheiro, respondeu a quem o informara:
-“ Desta Prefeitura Municipal de Campinas, eu não quero nada, nada – prefiro ficar com os meus companheiros também pobres como eu, na Orquestra Sinfônica Campineira que sempre manejaram seus instrumentos e fizeram-nos vibrar por amor a Campinas.”
O maestro morreu num palco de ensaios de sua Sinfônica, nos braços de todos eles, por entre lágrimas de desespero dos que tentavam salvá-lo !
Foi a recompensa justa de Deus ao coração de um homem.
E quando ouvia ele os derradeiros ritmos de sua orquestra morrendo e também morria aquele que soubera conduzir sua vida sob os acordes e embalo do próprio coração !
E foi por ele que morreu !
AMEAÇA DE TEMPORAL...

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