Páginas

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

'O GUARANI' RENOVADO

UM NOVO 'O GUARANI'
Das óperas de CARLOS GOMES, a mais conhecida talvez seja "O Guarani" - mas,  mesmo dela, o fato é que sabemos pouco. Ao longo das décadas, a partitura foi  cortada e adaptada até um ponto em que foi necessário voltar às fontes originais  e estabelecer uma nova edição. O responsável pela empreitada foi o maestro  Roberto Duarte - e é ele que, a partir de hoje assina a direção musical de uma  nova montagem da ópera no Teatro São Pedro.

  A edição de Duarte corrige algumas passagens, reintroduz outras que deixaram  de ser executadas - e, com isso, oferece nova dimensão a alguns personagens e ao  próprio enredo, baseado no romance de José de Alencar. Mas, na montagem do São  Pedro, o "novo" Guarani também encontra eco na concepção cênica do diretor João  Malatian, que procurou, diz, criar uma linguagem econômica, desprovida de  exageros - e com a intenção de narrar a história de maneira mais clara  possível.

"A minha primeira preocupação foi criar uma montagem que se adequasse ao  palco do Teatro São Pedro", diz o diretor. "O Guarani é uma ópera de grande escala e encená-la em um palco menor era um desafio sobre o qual precisávamos refletir. Li muito Hans Staden para chegar a uma cenografia ideal, que não podia  ser grandiosa. E encontrei no formato dos telões, figurativos mas não realistas,  a saída adequada."

Malatian, em parceria com o maestro Duarte, não quis tirar a ópera de seu  contexto original. "Depois fiquei até pensando que dava para ambientá-la no  Congresso Nacional", brinca o diretor. "Mas o que busquei foi um meio termo,  digamos assim. Não precisamos tirar o enredo do ambiente em que ele se passa  mas, ao mesmo tempo, não pareceu necessário recriar no palco o século 16. No  final das contas, nossa montagem tem um caráter estilizado, pensando muito na  economia de recursos e em ressaltar elementos que esclarecem a trama, deixam a  narrativa mais clara. O libreto do Guarani é irregular e então foi preciso  limpar alguns excessos, indo ao cerne."

José de Alencar publicou "O Guarani" em forma de folhetim entre fevereiro e  abril de 1857. O cacique dos guaranis, Peri, se apaixona por Ceci, filha do  fidalgo português D. Antônio; mas a jovem é também o alvo do amor de Álvaro e  torna-se vítima do aventureiro Gonzales, que trama com os aimorés para derrubar  D. Antônio e destruir a tribo de Peri. A base do enredo parece simples, mas  esconde uma série de ideias como a oposição entre o bem e o mal, a idealização  da natureza, o conceito do selvagem e mesmo de civilização, tudo isso ao sabor  da construção de uma certa identidade nacional. "O Guarani, seja o livro ou a  ópera, faz parte da identidade nacional brasileira, até mesmo no que tem de mais  europeizante", diz Malatian. "A história de Alencar, e também a música de Carlos  Gomes, já fazem parte de um inconsciente coletivo", completa.

Dois elencos se revezam na montagem do São Pedro. Hoje, sexta e domingo, Peri  será interpretado pelo tenor Marcelo Vanucci; a soprano Edna D? Oliveira será  Ceci. Os baixos Eduardo Janho-Abumrad e Lício Bruno interpretam D. Antonio e  Cacique; o barítono Inácio de Nonno será Gonzales e o tenor Gilberto Chaves, D.  Alvaro. Na quinta e sábado, sobem ao palco Nadja Sousa, Rinaldo Leone, Gustavo  Lassen, Jeller Felipe, Leonardo Páscoa e Gilberto Chaves. 
As informações são do  jornal O Estado de S. Paulo.

O Guarani - Theatro São Pedro (Rua Barra Funda, 171). Tel. (011)  3667-0499. 4ª a 6ª, 20h, sáb. e dom. 17h. R$ 30.
 GIGANTE GENTIL

Nenhum comentário:

Postar um comentário