UM NOVO 'O GUARANI'
Das óperas de CARLOS GOMES, a mais conhecida talvez seja "O Guarani" - mas, mesmo dela, o fato é que sabemos pouco. Ao longo das décadas, a partitura foi cortada e adaptada até um ponto em que foi necessário voltar às fontes originais e estabelecer uma nova edição. O responsável pela empreitada foi o maestro Roberto Duarte - e é ele que, a partir de hoje assina a direção musical de uma nova montagem da ópera no Teatro São Pedro.
A edição de Duarte corrige algumas passagens, reintroduz outras que deixaram de ser executadas - e, com isso, oferece nova dimensão a alguns personagens e ao próprio enredo, baseado no romance de José de Alencar. Mas, na montagem do São Pedro, o "novo" Guarani também encontra eco na concepção cênica do diretor João Malatian, que procurou, diz, criar uma linguagem econômica, desprovida de exageros - e com a intenção de narrar a história de maneira mais clara possível.
"A minha primeira preocupação foi criar uma montagem que se adequasse ao palco do Teatro São Pedro", diz o diretor. "O Guarani é uma ópera de grande escala e encená-la em um palco menor era um desafio sobre o qual precisávamos refletir. Li muito Hans Staden para chegar a uma cenografia ideal, que não podia ser grandiosa. E encontrei no formato dos telões, figurativos mas não realistas, a saída adequada."
Malatian, em parceria com o maestro Duarte, não quis tirar a ópera de seu contexto original. "Depois fiquei até pensando que dava para ambientá-la no Congresso Nacional", brinca o diretor. "Mas o que busquei foi um meio termo, digamos assim. Não precisamos tirar o enredo do ambiente em que ele se passa mas, ao mesmo tempo, não pareceu necessário recriar no palco o século 16. No final das contas, nossa montagem tem um caráter estilizado, pensando muito na economia de recursos e em ressaltar elementos que esclarecem a trama, deixam a narrativa mais clara. O libreto do Guarani é irregular e então foi preciso limpar alguns excessos, indo ao cerne."
José de Alencar publicou "O Guarani" em forma de folhetim entre fevereiro e abril de 1857. O cacique dos guaranis, Peri, se apaixona por Ceci, filha do fidalgo português D. Antônio; mas a jovem é também o alvo do amor de Álvaro e torna-se vítima do aventureiro Gonzales, que trama com os aimorés para derrubar D. Antônio e destruir a tribo de Peri. A base do enredo parece simples, mas esconde uma série de ideias como a oposição entre o bem e o mal, a idealização da natureza, o conceito do selvagem e mesmo de civilização, tudo isso ao sabor da construção de uma certa identidade nacional. "O Guarani, seja o livro ou a ópera, faz parte da identidade nacional brasileira, até mesmo no que tem de mais europeizante", diz Malatian. "A história de Alencar, e também a música de Carlos Gomes, já fazem parte de um inconsciente coletivo", completa.
Dois elencos se revezam na montagem do São Pedro. Hoje, sexta e domingo, Peri será interpretado pelo tenor Marcelo Vanucci; a soprano Edna D? Oliveira será Ceci. Os baixos Eduardo Janho-Abumrad e Lício Bruno interpretam D. Antonio e Cacique; o barítono Inácio de Nonno será Gonzales e o tenor Gilberto Chaves, D. Alvaro. Na quinta e sábado, sobem ao palco Nadja Sousa, Rinaldo Leone, Gustavo Lassen, Jeller Felipe, Leonardo Páscoa e Gilberto Chaves.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O Guarani - Theatro São Pedro (Rua Barra Funda, 171). Tel. (011) 3667-0499. 4ª a 6ª, 20h, sáb. e dom. 17h. R$ 30.
GIGANTE GENTIL
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