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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

UM SER EM EXTINÇÃO...

                                                       





O DRAMA NO DIA A DIA

Arita Pettená

            Quem não o conhece? Figura respeitada no passado, holerite que nada  perdia para o juiz da cidade, hoje não passa de um mendigo de gravata  tal a situação de penúria a que vem sendo exposto pelos donos do poder.  Achatado, cada vez mais, em seus vencimentos, era, entretanto, em tempos  que já vão longe, personagem central na comunidade em que estava  inserido, indivíduo diante do qual tirava-se o chapéu para reverenciá-lo  como cidadão, como responsável pela formação de nossas crianças e,  sobretudo, como veículo de informação de nossa história, da área  geográfica espalhada pelos mapas-múndi, de como interpretar textos  arrancados do cérebro criativo e da alma sensível de nossos poetas e  escritores. 





                Se antigamente dava doze aulas semanais, e tempo tinha para prepará-las,  hoje o professor virou caixeiro-viajante, porque, como um dos  formadores de opinião, se vê cada vez mais achincalhado por nossos  insensíveis governantes. Em 24 horas, para ganhar o amargo pão de cada  dia, locomove-se para várias unidades de ensino, o que o impede de  especializar-se como profissional da educação, quando esta deveria estar  no topo dos que governam países e estados e municípios. E estes  desconhecem o quão imprescindíveis são nossos educadores, na formação de  nossas crianças, no conduzir nossos jovens, muitas vezes sem ter quem  os oriente pelos ínvios caminhos de uma juventude sem freios, sobretudo  desfalcada de líderes que tragam, dentro de si, a sublime vontade de  servir.





           É tarde da noite. E o professor volta para casa extenuado, sem mais  sonhos para sonhar. De repente, não mais que de repente, dá um giro  pelos jornais. Quem sabe, entre as nuvens do imprevisível, flutue algo  de bom, algo que se chame esperança, ou quem sabe até a volta daquele  passado radiante em que o professor era respeitado como uma das molas  mestras do ensino. E tinha status. E tinha sua biblioteca particular. E  viajava para o estrangeiro porque condições não lhe faltavam para  conhecer países outros. Cansado, mas ainda cheio de ilusões, percorre as  páginas dos jornais. Olhos assustados, mal pode crer no que lê: “País  só cumpre trinta e três por cento de metas da Educação”. E mais abaixo:  “Relatório mostra que ainda há alta repetência, a taxa de universitários  é baixa e o acesso à Educação Infantil está longe do proposto”. (...)




                             Bem, é melhor parar por aqui e encerrar o assunto com nosso poema, A  crucificação do Professor, que retrata bem a dura realidade dos dias de  hoje: “Choque e cheque/ e xerox até/ no atestado de óbito/ de um infeliz  professor./ Golpe profundo/ nos fundos de um saldo/ de um soldo  minguado/ de um banco qualquer./ A vítima é o que vive,/ o vivo é o  defunto/ que morre sem cotas/ com mais custos nas costas./ Caixão  comprido/ de cumprida vida/ que se alonga fina/ por estreitos largos./  Morreu com nota,/ mas sem ser notado/ perdeu-se entre as pás/ sem  encontrar a paz”.


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FRASE DA VEZ:

 
"Quem de manhã compreendeu os ensinamentos da sabedoria, à noite pode morrer contente." (Confúcio)
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