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sábado, 1 de outubro de 2011

HISTÓRIA DOS TULLIO 1



ARTIGO PUBLICADO BEM 25 DE MARÇO DE 1965 NO 'DIÁRIO DO POVO'

UM CERTO PROFESSOR LUIZINHO
by Léa Maselli Ziggiatti
 Léa Ziggiatti - diretora do Conservatório Musical CARLOS GOMES
 "Conheci sempre professor Luizinho. Aliás, os di Tullio estão indissoluvelmente ligados à minha infância como uma indestrutível onda sonora.
Eram homens que tocavam instrumentos estranhos e que eu mal conhecia: violino, viola, violoncelo.
Tiravam sons melodiosos, deslizando arcos nas cordas e transmitiam uma sensação de felicidade...
Alguém me disse que eram filhos do maestro da Banda.
E a frase perdeu-se...
Ficou a lembrança dos músicos risonhos tocando peças ligeiras no restaurante do Bosque.
Mas depois, perdeu-se também esta última lembrança.
É que Campinas crescera.
E não contratava mais (infelizmente) música ao vivo para o jantar.
O disco era mais barato.
E a aridez e pressa do homem moderno exigia do jantar apenas o seu sentido material.
 Mas é nessa Campinas nova que se deu o reencontro.
Revi o professor Luizinho empolgado já num ideal.
Num ideal que ele trazia talvez latente dentro de si, desde os seus tempos de café concerto.
Seu pai, João di Tullio fôra bom músico e legou a seus filhos a missão mais alta.
O objetivo será a orquestra. A orquestra de música fina, erudita.
E professor Luizinho começou.
Primeiro, ensinando desesperadamente o seu violino.
Iniciando crianças e jovens num instrumento quase esquecido.
Mas o objetivo era a orquestra.
 A música de conjunto que reflete assim a sêde da humanidade desse homem extremamente bom.
E o milagre aconteceu.
As crianças cresceram, sempre fiéis ao professor. E aglomeraram-se.
E o seu esforço de anos começou a produzir frutos maiores.
Formara-se uma pequena orquestra.
E professor Luizinho ensaiou timidamente sua primeira regência.
E deu para a orquestra o nome de seu pai - Orquestra Maestro João di Tullio.
E Orquestra Maestro João di Tullio foi um produto de anos de esforços.
Árduos esforços e persistência tenaz para conservar unidos os seus elementos.
Mas a fé do professor Luizinho não deixava que ele esmorecesse.
Onde sabia encontrar um novo músico, tocando um instrumento raro, lá estava o professor Luizinho, para convidálo a fazer parte de sua orquestra.
E contagiava de entusiasmo.
E seguiram-se concertos.
Concertos pequenos em que a fé de Luiz di Tullio fazia crescer a sua música e a sua orquestra.
Orquestra Maestro João di Tullio foi-se firmando e aparecendo.
E o esforço do professor Luizinho não passou despercebido.
 Monsenhor Emílio José Salim soube de seus esforços.
E resolveu dar o seu apoio, aliando-se ao que já era dado pelo Conservatório Carlos Gomes para tornar maior o sonho de Luiz di Tullio.
Com a organização da Orquestra Universitária Campineira, a Orquestra Maestro João di Tullio tomou novo impulso.
 Sob a presidência do sr. Saulo Barbosa, fatos muito positivos foram acrescentados às realizações da orquestra.
O último concerto da Orquestra Universitária, realizada no Clube Semanal de Cultura Artística foi uma afirmação da fé do professor Luiz di Tullio que vence até mesmo as barreiras das dificuldades técnicas e do extremo materialismo de nossa época.
A sua regência simples e espontânea, conquistou músicos e ouvintes.
E fez música da boa.
E conquistou novos sócios para a Orquestra Universitária Campineira, que nasceu da imensa capacidade de acreditar desse homem verdadeiramente excepcional."
  RAIOS VERMELHOS

4 comentários:

  1. Recebi este e-mail da Léa Ziggiatti:

    Denise, fiquei emocionada com a crônica que escrevi num começo de carreira no Diário. O prof. Luizinho era um menino travesso e devo tanto a ele!.Maroto, como não tinha muita paciência com criança e me obrigou a montar uma orquestra experimental com crianças e jovens, porque a mãe americana de alguns alunos queria que eles tocassem numa orquestra: -" Mas, seu Luizinho! Eu nem sei afinar um violino!" " - Vem aqui, que eu ensino já!" E foi assim que começou a história da Orquestra Infanto juvenil do Conservatório, que eu dirigi por vinte e cinco anos, para depois passar para os jovens que saiam, tinindo do curso de regência da UNICAMP. Mas foi fascinante! E eu nunca poderei esquecer esse gesto do seu tio e a confiança que depositava em mim, e que me proporcionou momentos marcantes na minha vida! Ele foi um grande homem! melhor que isso! Foi um homem que fez da Música a razão da sua Vida! Ressuscitou uma orquestra e despejou sobre nós todo o Amor contido no seu imenso coração!

    Abraço carinhoso

    Léa...

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  2. E mais este:

    Denise, não me lembrava que fazia tanto tempo que eu havia escrito "Um certo professor Luizinho" Mas, seu tio era fascinante! E, durante anos de jornal, muitas vezes abordei o seu idealismo, a sua teimosa resistência para construir a sua orquestra. Na época revolucionária em que ele sucumbiu diante das mudanças inevitáveis para que a orquestra se profissionalizasse, ele se transformou num herói. Escrevi páginas inteiras sobre a sua fortaleza e determinação... No auge da sua angústia , ao perceber que fora-lhe usurpado tudo aquilo que mais amava - a Orquestra - tentando, desesperadamente, reunir seus cacos para construir uma nova orquestra, maestro Luizinho lutava para fazê-la ressurgir. Captei o seu momento de desencanto e de teimosia na reconstrução do seu sonho e escrevi uma reportagem de página inteira: " POR FAVOR, NÃO MANDAM FLORES". Mas o Homem estava ali, feroz, alimentando o seu sonho com a força da sua fatalidade e do seu destino. Ensaiando a orquestra, desesperadamente, para uma reestréia como Orquestra Universitária, resvalou do pódio e morreu pelo seu sonho... Foi cruel demais... A única homenagem que pude lhe prestar, então, foi mais uma reportagem: " OS FORTES MORREM DE PÉ"... E campinas percebeu , então, que não existe revolução sem sangue!

    Abraço

    Léa

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