domingo, 3 de outubro de 2010
FAZENDO ARTE DA FLORESTA
A ARTE DA TRIBO DAS MARGENS DO RIO OMO, ETIÓPIA - ÁFRICA
Dus, é um vilarejo com choças de pau a pique numa ribanceira acima do rio Omo. Desde sua nascente, no planalto central, o largo e profundo rio corre rumo à fronteira sudoeste da Etiópia com o Quênia e ali deságua no lago Turkana. Em seu curso de 800 quilômetros serpenteia através de gargantas de rocha vulcânica e canais em terrenos lamacentos.
Perto da divisa com o Quênia, o Omo escava sinuosas curvas fechadas à medida que se aplaina o terreno e faixas de floresta aparecem ao longo de suas margens. Criaturas fluviais, como crocodilos e hipopótamos, tornam-se mais abundantes. A paisagem é cada vez mais povoada por tribos - Kara, Mursi, Hamar, Suri, Nyangatom, Kwegu e Dassanech, entre outras -, uma população em torno de 200 mil pessoas.
Pastores conduzem seus animais pela mata e lavradores avançam com suas rústicas canoas. Conforme a estação, as margens do rio ficam douradas com o restolho das colheitas passadas ou recobertas com o verde úmido de novas safras.
Os rebanhos de bois e cabras são a riqueza mais significativa de uma família, mas é a lavoura, irrigada com a água do Omo, que alimenta a população.
Assim que as cheias sazonais encharcam e fertilizam as várzeas, os lavradores karas perfuram a lama escura com varetas e ali depositam sementes de sorgo ou milho. Se as cheias são insuficientes, as safras se reduzem.
A previsibilidade do rio possibilita aos 2 mil karas uma existência mais sedentária que tribos vizinhas, obrigadas a uma busca constante de novas pastagens para os rebanhos. O próprio nome do vilarejo, Dus, significa algo como "já vi outros lugares, mas fico por aqui, onde a vida é boa".
Por muitas gerações, as tribos do rio Omo foram protegidas do mundo externo por montanhas, pela savana e pela singular condição da Etiópia como o único país africano jamais colonizado pelos europeus.
No fim da década de 1960 e na de 70, os antropólogos começaram a dar conta do significado disso - os moradores próximos ao rio haviam escapado à influência prejudicial da colonização e aos conflitos que dilaceraram outras sociedades.
Ali as tribos permaneceram intactas, migrando, guerreando e convivendo em paz de acordo com costumes já extintos em quase todas as outras regiões.
Indícios dessa África ancestral ainda se notam nos discos labiais usados como símbolos de beleza pelas mulheres mursis ou nas temporadas de duelos realizados pelos suris, que vestem armaduras de pele de cabra e se enfrentam com bastões compridos.
Há também o ritual no qual as mulheres hamars pedem para ser açoitadas até sangrar ou o rito de iniciação no qual os meninos correm por cima do lombo do gado a fim de provar que estão prontos para a vida adulta.
Hoje o vale do Omo é um destino de turistas ricos para assistir a esses rituais - caminhonetes repletas de rostos brancos em busca de uma África arraigada na imaginação ocidental, cheia de bichos, rostos pintados e danças exóticas. Todos afirmam que querem conhecer a região antes que se torne igual a outras partes, como se um McDonald’s estivesse prestes a cair do céu.
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FRASE DO DIA:
"CRIATIVIDADE É INVENTAR, EXPERIMENTAR, CRESCER, CORRER RISCOS, QUEBRAR REGRAS, COMETER ERROS, E SE DIVERTIR."Mary LouCook)
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