Uma senzala chamada Brasil
Cláudio Schamis
Somos escravos 
      legalizados, pagadores de impostos e com título eleitoral.
 Só pode ser isso. Vivemos numa 
      senzala. Somos escravos da nossa própria incapacidade de enxergar o óbvio 
      ululante. Ou apenas o óbvio. Que se enxergado já poderia ser considerado 
      um avanço da ciência moderna. Mas não.
 Somos escravos das mentiras, 
      faltas de decoro, desmandos dos poderosos, da vulgaridade que se tornou 
      nossa política e nossos políticos (de forma geral, salvo raríssimas 
      exceções). Somos escravos legalizados, pagadores de impostos e com título 
      eleitoral. Recebemos salários, alguns têm plano de saúde, graduação, 
      pós-graduação e até doutorado.
E tudo isso pra quê? Pra ver a 
      história ou novela, como você preferir, se repetir a cada eleição, sempre 
      com o mesmo elenco, que no máximo muda de partido. Não a sua conduta e o 
      seu pensar.
Somos um país desmemoriado. Será 
      que não tivemos passado ? Será que nosso passado foi bloqueado em nossas 
      mentes que somente um profissional fazendo uma regressão conseguiria 
      despertá-lo? Será também que sob hipnose conseguiríamos mudar a nossa 
      história futura?
A nossa história futura deveria 
      ser construída hoje. Teríamos que ser visionários. Deveríamos ter a mesma 
      preocupação em fazer um plano de previdência privada pensando na nossa 
      velhice, em deixar um país melhor para nossos filhos e netos.
Não consigo conceber certas 
      coisas. Não consigo entender que algumas das pessoas que organizam 
      movimentos de protesto sejam as mesmas que na hora H, na hora do apertar 
      de um botão fraquejam e ponham tudo a perder.
Se não fosse verdade alguns 
      desses senhores de engenho não estariam na ativa depois da primeira 
      chibatada. Mas eles são soberanos, imortais na política, imortais em suas 
      falcatruas. Às vezes pegam um como bode expiatório mais como um cala boca 
      do que propriamente pela justiça da Justiça.
Eles podem até falar que não 
      estão nem aí para a opinião pública com a plena convicção que já nas 
      próximas eleições essa fala soará como apenas um maldito por uma pessoa 
      que no momento estava sob pressão. Essa certeza ninguém tira deles. E eles 
      estão certos.
Nós somos os errados. Nós somos 
      os que vivem em devaneios achando que o mundo será melhor algum dia. Que 
      viveremos em harmonia e que nossos representantes irão lutar com o coração 
      por nós. Pensando em nosso bem. Pensando em nosso estar. Ledo 
      engano.
A realidade é nua e crua. Mas se 
      quiser cozida é só pagar. E pode ser com pacotinhos de dinheiro como fez o 
      empresário Walter Paulo que comprou a casa de Marconi Perillo.
Somente na 
      nossa senzala tupiniquim é que iríamos também ver um ex-presidente se 
      achando o tal, o maioral e com a desfaçatez de quem nunca se livrou do 
      poder de tentar dissuadir um ministro a adiar a votação do mensalão que 
      poderia ameaçar a continuidade da ação da quadrilha formada, regulamentada 
      com CPF e todos os documentos em dia. E claro com o alvará de 
      funcionamento dado por nós.
Sinceramente, a cada novo dia 
      vejo ficar mais distante a nossa libertação. 
Estamos presos com raízes que 
      não nos deixam andar nem pensar. Os poucos que andam e pensam não estão 
      tendo a força suficiente para romper as correntes e libertar e dar o grito 
      de independência sem morte que muitos de nós buscamos 
      incessantemente.
Já assinaram uma Lei Áurea. Mas 
      a contrapartida tem sido cara demais. Extasiante demais. Será que se 
      marcarmos um encontro em Berlim ou Paris podemos ter mais 
sorte?
 VERTIGEM
 








 
 
Somos, apenas, contribuintes!
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