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quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHER FACEIRA

 

MULHER FACEIRA

 Artur da Távola

 
Ninguém mais sabe o que é ser faceira. 
A palavra foi se desgastando pela 

deformação semântica tão comum em atitudes revogadas.


Quem hoje, saberá o que representa para uma mulher ser faceira? Hoje a
moçada não está nem aí para ser faceira. Quer é ser gostosa, expressão
algo grosseira nada obstante sua veracidade.


Não! Não! Não! Faceiro é muito mais do que isso. Amiga minha, bela
mulher, "racé", classuda, com ar de princesa, mais para Grace Kelly
outro dia reclamava a quem lhe elogiava a beleza de cisne: "Estou
cansada de ser princesa, elegante, classuda! Nunca ninguém me chamou de
gostosa."
Pois tive vontade de lhe dizer que muitas vezes subjaz na mulher faceira
uma sensualidade refinada, intensa mas calada, discreta,
sofisticada até, longe e superior à concepção atual da "gostosa" que nos
é imposta pela propaganda de cerveja, essa insuportável e deletéria
propaganda de cerveja. Pois fico com a mulher faceira.


Faceira é a mulher que tem o gosto do garbo, da tafularia, da afetação,
do dengo, como formas de expressar alegria, prazer de viver, vitalidade,
delicadeza de sentimentos, uma certa ânsia de harmonia, de mansidão, de
conviver gostoso.
 
Faceira vem de face, que deriva do latim "facies" ou "facia", no latim
popular. O sentido desta expressão é o de "forma exterior", "aspecto
geral de alguém", "ar". Pois faceira é a mulher que consegue fazer de
seu "aspecto geral", um ar de beleza, juventude, alegria, leveza. Em
Portugal esse sentido ainda perdura e é falado.


Leveza é a virtude, minha doce leitora. A vida é tão carregada de
densidades, dores e problemas, que passar por dentro deles e
conseguir manter uma face jovem, taful e um ar alegre, indica uma
filosofia de vida, uma energia, uma saúde interior. A pessoa faz-se leve
às demais. Desobriga os outros do peso de suportá-la, entendê-la,
ouvir-lhe os sofrimentos.
Faceira, portanto, é graça, e muita, na mulher!


Um amigo português usa outra palavra correta, devido ao hábito do falar
preciso de Portugal: garrida sim, a faceirice faz as mulheres garridas,
elegantes, enfeitadas, brilhantes, casquilhas. Por falar nisso,
ocorre-me uma outra característica a da mulher catita. Essa
caiu em desuso. Mas os portugueses ainda têm outros recursos no idioma
para elogiarem as mulheres: "airosa".


Faceira, garrida, catita, airosa, seria a bela mulher carioca a
recuperar nos seus modos feminis, alguns adjetivos que caíram em desuso.
Seria a mulher a recuperar, com novas modas e contornos, os
adjetivos que envelheceram. Soem as trombetas. Está cheio de faceiras,
airosas e garridas pelas ruas e praias deste Rio de Janeiro. Deus as
abençoe! Quanto à hoje badalada gostosa, cuidado: isso só sabe na hora
do amor.


O resto é voyeurismo.

CRAQUES
 
 

2 comentários:

  1. Acima de tudo, meu ídolo!
    Não é preciso comentar.

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  2. Carmen Lins de Carvalho9 de março de 2012 às 13:40

    Idolo da Rosângela e meu também!
    Quem tem medo de música clássica, era o seu programa incentivador.
    Eita homem faceiro!

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