EM CASO DE DESPRESSURIZAÇÃO…
Martha Medeiros
Eu estava dentro de um avião, prestes a decolar, e pela  milionésima vez na vida escutava a orientação da comissária: "Em caso de  despressurização da cabine, máscaras cairão automaticamente à sua  frente. Coloque primeiro a sua e só então auxilie quem estiver ao seu  lado.” E a imagem no monitor mostrava justamente isso, uma mãe colocando  a máscara no filho pequeno, estando ela já com a dela.
         É uma imagem um pouco aflitiva, porque a tendência de todas  as mães é primeiro salvar o filho e depois pensar em si mesma. Um  instinto natural da fêmea que há em nós. 
Mas a orientação dentro dos  aviões tem lógica: como poderíamos ajudar quem quer que seja estando  desmaiadas, sufocadas, despressurizadas?
         Isso vem ao encontro de algo que sempre defendi, por mais  que pareça egoísmo: se quer colaborar com o mundo, comece por você.
         Tem gente à beça fazendo discurso pela ordem e reclamando em  nome dos outros, mas mantém a própria vida desarrumada. Trabalham  naquilo que não gostam, não se esforçam para manter uma relação de amor  prazerosa, não cuidam da própria saúde, não se interessam por cultura e  informação e estão mais propensos a rosnar do que a aprender. 
Com a  cabeça assim minada, vão passar que tipo de tranqüilidade adiante? Que  espécie de exemplo? E vão reivindicar o quê?
         Quer uma cidade mais limpa, comece pelo seu quarto, seu  banheiro e seu jardim. Quer mais justiça social, respeite os direitos da  empregada que trabalha na sua casa. Um trânsito menos violento, é  simples: avalie como você mesmo dirige. E uma vida melhor para todos?  Ajudaria bastante pôr um sorriso neste rosto, encontrar soluções viáveis  para seus problemas, dar uma melhorada em você mesmo.
Parece simplório, mas é apenas simples. Não sei se esse é o  tal “segredo” que andou circulando pelos cinemas e sendo publicado em  livro, mas o fato é que dar um jeito em si mesmo já é uma boa  contribuição para salvar o mundo, essa missão heróica e tão bem  intencionada.
         Claro que não é preciso estar com a vida ganha para ser  solidário. A experiência mostra que as pessoas que mais se sensibilizam  com os dilemas alheios são aquelas que ainda têm muito a resolver na sua  vida pessoal. Por outro lado, elas não praguejam, não gastam seu latim à  toa: agem. A generosidade é o seu oxigênio.
Tudo o que nos acontece é responsabilidade nossa, tanto a  parte boa quanto a parte ruim da nossa história, salvo fatalidades do  destino e abandonos sociais. E, mesmo entre os menos afortunados, há os  que viram o jogo, ao contrário daqueles que apenas viram uns chatos.  Portanto, fazer nossa parte é o mínimo que se espera.
         Antes de falar mal da “Caras”, pense se você mesmo não anda  fazendo muita fofoca. Coloque sua camiseta pró-ecologia, mas antes  lembre-se de não jogar lixo na rua e nem de usar o carro  desnecessariamente. Reduza o desperdício na sua casa. Uma coisa está  relacionada com a outra: você e o universo. Quer mesmo salvá-lo? Analise  seu próprio comportamento. Não se sinta culpado por pensar em si  próprio. Cuide do seu espírito, do seu humor. Arrume seu cotidiano.  Agora sim, estando quite consigo mesmo, vá em frente e mostre aos outros  como se faz.
 SELVA DE PEDRA
 







 
 
Martha é uma cronista genial!
ResponderExcluir