O HOMEM QUE FEZ OS RIOS CORREREM AO CONTRÁRIO
Engenheiro                    Billings - O homem que                    mudou São Paulo -Capa de uma revista em quadrinhos com a história de sua vida, publicada em 1962
No caminho entre o litoral paulista e a cidade de São Paulo, uma série de tubulações que se erguem pelo gigantesco paredão rochoso da Serra do Mar chamam a atenção.
As tubulações da Usina de Cubatão (Henry Borden)
São as tubulações externas da "Usina de Cubatão" (Usina Henry Borden), uma das mais excepcionais obras da engenharia brasileira, fruto da criatividade e excelência técnica de um engenheiro que poderia ser classificado como um dos mais brilhantes que já passaram por nossas terras: Asa White Kenney Billings.
Porém, conhecendo um pouco melhor a história desta octogenária obra-prima, você perceberá que as tubulações que desafiam a serra do mar são meros coadjuvantes nesta história.
Rua Líbero Badaró em foto de 1922
Ano em que Billings chegou ao Brasil
 Billings, um norte                  americano de Omaha, nascido em 8 de fevereiro de 1876, chegou ao                  Brasil em fevereiro de 1922 como engenheiro da Light, a empresa                  canadense responsável pelo fornecimento de energia elétrica da                  cidade de São Paulo, pensando em ficar alguns poucos meses.                  Naquela época, o rápido crescimento da cidade, que começava a                  dar sinais de industrialização, já apontava um aumento                  significativo da demanda por energia                  elétrica.
 A Light até                  hoje fornece energia elétrica para o Rio de                  Janeiro
 Obcecado pela ideia                  de criar uma maneira de gerar energia de forma eficiente,                  aproveitando a geografia da cidade, teve uma ideia: Por quê não                  usar a queda abrupta de mais de 700 metros do planalto paulista                  para gerar energia elétrica ?
O Sistema                  idealizado por Billings
Reverter as                  águas do Rio Pinheiros, e depois lançá-las montanha abaixo,                  gerando energia elétrica.A ideia era genial, mas ainda existia um enorme problema: a topografia da cidade fazia com que os rios que nasciam próximos à Serra do Mar, como o Tietê e o Pinheiros, corressem em direção ao centro do estado, e não para o litoral. O que tinha sido uma enorme vantagem para os Bandeirantes, que usaram os rios para explorar os rincões do Brasil, tornava-se um empecilho para as ideias de Billings.
"Piscina" em pleno Rio Pinheiros
Década de 20
 Mas a perseverança e          criatividade do engenheiro americano não tinham limites, e novamente ele          teve uma ideia que a princípio mostrava-se absurda: Se os rios não          correm para a Serra do Mar, por que não reverter seu curso através de          estações elevatórias, formando um reservatório que permita a geração de          energia ?
Pelo sistema de          Billings, a energia gasta para elevar as águas do Pinheiros
 até a Serra          do Mar é recuperada plenamente          pela Usina Hidrelétrica
Os estudos mostraram que a          reversão de toda a bacia do Tietê não seria factível, mas aplicar a          ideia de Billings até a confluência entre os Rios Pinheiros e Tietê          seria possível. Desta forma, o Rio Pinheiros seria transformado em um          canal desde sua foz até a estação de bombeamento da Traição, que          elevaria as águas em cerca de 5 metros, conduzindo-as até a base de uma          represa que seria construída nos arredores de Santo Amaro, de onde          seriam bombeadas até o Reservatório do Rio Grande, a ser formado por          esta barragem. As águas seriam conduzidas às turbinas através de          tubulações que desceriam a Serra. O maciço da Serra do Mar, que tantos          obstáculos havia criado para a colonização do planalto, seria finalmente          utilizado a favor dos paulistas. 
Confluência dos Rios          Pinheiros e Tietê, década de 20
 O Rio Pinheiros, antes          da retificação coordenada por Billings
 À época, o Rio Pinheiros          tinha um trajeto sinuoso, formando uma grande várzea inundável, cujos          habitantes sofriam com frequentes inundações. O plano de Billings ainda          teria a tarefa adicional de aumentar a eficiência do canal que levaria          as águas para o reservatório retificando o curso do rio, que traria um          efeito colateral interessante: acabar com as enchentes da          região. 
 A Barragem do Rio          Grande depois foi expandida, e desde 1949 é chamada de Represa          Billing 
Barragem do Rio das          Pedras,          
onde é possível ver          onde termina o planalto e começa o paredão da Serra do          Mar Casa das Vávulas da          Usina de Cubatão, no alto da Serra          
Vista espetacular da          Baixada Santista Em 1927 tiveram início as obras da Usina          Hidrelétrica de Cubatão, a barragem do Rio Grande (que depois foi          expandida e ganhou o nome de Represa Billings) e o deslocamento da          antiga Estrada Rio-São Paulo, que passava exatamente por uma área que          seria submersa.
 Fotos da Usina de          Cubatão (Henry Borden) durante sua construção
Barragem Rio das          Pedras, 1929          
Aqui o nível do          Reservatório é controlado, e quando sobe muito é jogado serra abaixo até          o Rio Cubatão Casa das Válvulas no          alto da Serra
Vista das tubulações          externas durante a construção da Usina 
Depois de problemas de          atrasos nas obras durante o período iniciado a partir da Revolução de          32, a retificação do canal do Rio Pinheiros e as estações elevatórias em          seu percurso foram concluídas em 1944, acabando com as grandes          inundações que ocorriam em suas margens durante séculos (depois, com a          impermeabilização do solo, as inundações voltaram, mas esta é outra          história...) 
 Usina Elevatória da          Traição, ao lado das avenidas dos Bandeirantes 
e Luis Carlos          Berrini.
Quando em funcionamento, eleva em 5 metros as águas do Pinheiros
Quando em funcionamento, eleva em 5 metros as águas do Pinheiros
 Interior da "Usina da          Traição"
 Com o sistema em pleno funcionamento, a Usina de          Cubatão mostrou-se um sucesso acima das expectativas, pois sua queda de          720 metros e o uso das turbinas Pelton, otimizadas para uso com pouco          volume de água, mas com alta queda, tornaram-na uma das mais eficientes          do mundo. 
Turbina          Pelton          
Apropriada para pouco          volume de água com alta pressão Turbina Pelton usada em          Cubatão entre 1926 e 1975
O reconhecimento mundial do          trabalho de Billings veio em 1936, quando a "Institution of Civil          Engineers" de Londres convidou-o a apresentar um relatório sobre o          trabalho feito no Brasil, especialmente em São Paulo. O documento          "Water-Power in Brazil" tornou-se um clássico no assunto, com leitura          recomendada nas Escolas de engenharia de todo o mundo. Seu nome é uma          constante na lista dos maiores engenheiros do séc.          XX. 
Ordem do Cruzeiro do          Sul          
Pelos serviços          prestados ao país, Billings a recebeu em 1946 Durante o período em que Billings esteve no          Brasil, entre 1922 e 1949, a geração de energia em São Paulo aumentou de          90 mil quilowatts para mais de 500 mil quilowatts. 
 Mostrando a Usina          Subterrânea de Cubatão (Usina Henry          Borden)         
Billings faleceu em sua residência na cidade californiana de La Jolla, em 3 de Novembro de 1949, poucos meses depois de ter se aposentado, deixando aquela que foi sua verdadeira pátria, por quem trabalhou incansavelmente.
Construída depois da          época de Billings, mas mesmo assim uma obra          fantástica          
Escavada na rocha, é          resistente a bombardeios de qualquer tipo
 Depois da aposentadoria de          Billings, foi construída outra obra fantástica, uma segunda usina          subterrânea ao lado da Usina de Cubatão, totalmente escavada na rocha,          com os mesmos 720 metros de queda e turbinas Pelton, aumentando a          capacidade de geração de energia para 800 mil          quilowatts. 
 Entrada da Usina          Subterrânea
Interior da usina subterrânea
 Além da geração de energia,          a Represa Billings tornou-se um dos principais mananciais da região          metropolitana de São Paulo. Infelizmente, na década de 80, a poluição          das águas do Pinheiros estava tornando as águas da Represa Billings          impraticáveis para consumo humano, e o bombeamento foi interrompido. Com          isto, hoje a Usina de Cubatão continua na ativa, mas opera com apenas          1/4 de sua capacidade.
 Capivaras à beira do          Rio Pinheiros
A poluição é tão alta que a água deixou de ser bombeada para a Represa Billings
A poluição é tão alta que a água deixou de ser bombeada para a Represa Billings
Billings faleceu em sua residência na cidade californiana de La Jolla, em 3 de Novembro de 1949, poucos meses depois de ter se aposentado, deixando aquela que foi sua verdadeira pátria, por quem trabalhou incansavelmente.
Da próxima vez que estiver dirigindo pela          Marginal Pinheiros, apreciando as margens agora um pouco mais limpas da          Billings, fazendo compras nos Shoppings paulistas na região do Brooklin, ou melhor, ao acender uma lâmpada ou beber um copo de água, lembre-se          que foi um perseverante e criativo engenheiro americano o responsável          por algumas das mais importantes intervenções já realizadas na maior          metrópole    sul-americana. 
AUTUMN
 









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Mais um belo trabalho de pesquisa.
ResponderExcluirParabéns, Denise!
Bjs