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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

GARCÍA MÁRQUEZ

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García Márquez em voz alta
Numa reunião inédita de discursos, o autor diz que não gosta de escrever, preferia ser cineasta e revela uma paixão secreta pela atriz Sophia Loren
by Ivan Claudio 
 
Mestre do realismo mágico, García Márquez não queria ser escritor:
seu sonho era fazer filmes neorrealistas

                           "O escritor colombiano Gabriel García Márquez, 83 anos, autor do clássico romance “Cem Anos de Solidão”, detesta falar em público. E não por timidez: não lhe agrada a autoridade conferida a quem fala para uma plateia e, muito menos, a formalidade que essas cerimônias envolvem. 
                           Quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, García Márquez não pôde evitar o púlpito. Ainda assim, rompeu uma tradição em toda a história da instituição sueca e fez o seu discurso de agradecimento vestido não de smoking, mas enfiado num informal traje caribenho branco, conhecido como liquiliqui. 
                          Com a sucessão de homenagens e convites mundo afora, a má vontade com a oratória teve de ser contornada. Ainda assim, Gabo, como ficou conhecido em razão de sua popularidade, ainda recusa ao máximo os pronunciamentos e, algumas vezes, chega
a enviar seus discursos gravados em fitas cassete. Para ele, encarar uma plateia é o “mais terrível de todos os compromissos humanos”. 

                          É com surpresa e certa dose de ironia que chegou às livrarias dos países de língua espanhola na semana passada o livro “Yo no Vengo a Decir um Discurso” (Não Vim Aqui Fazer um Discurso), com a reunião dos textos que García Márquez escreveu para serem lidos em voz alta. Com lançamento garantido no Brasil, o livro já figura entre os mais vendidos de diversos países e ganha de cara o leitor pela constatação óbvia: mesmo não gostando de pronunciamentos, García Márquez consegue transformar esses textos numa produção da melhor literatura.

                         Tome-se o discurso intitulado “Em Homenagem a Belisario Bentacur pela Passagem de seus 70 anos” (fevereiro de 1993), escrito para saudar o aniversário do ex-presidente colombiano. Gabo conta que ligou por engano para o Palácio Presidencial às três da manhã, e espanto: o presidente atendeu e disse que tudo bem, estava só a ler poesias. “Naquela madrugada trêmula do poder, Belisario Betancur relia os versos matemáticos de don Pedro Salinas, antes que chegassem os jornais para amargar-lhe o novo dia com as fantasias da vida real”, escreveu.
                         A solidão do poder, confirma Gabo em outros textos, sempre foi o seu assunto predileto em romances como “O Outono do Patriarca” e “O General em Seu Labirinto”. Em abril de 1996, o romancista aceitou o pouco usual convite para falar a uma plateia de militares de seu país e afirmou, lá pela metade da conferência, que sua “obsessão pelos distintos modos do poder é mais que literária, é quase antropológica, e começou quando meu avô me contou a tragédia de Ciénaga”. Gabo era um recém-nascido quando se deu a chamada “Matança das ananeiras”, massacre de mil trabalhadores da United Fruit Company pelas Forças Armadas colombianas. “Muitas vezes me perguntei se não é essa a origem de um viés temático que atravessa todos os meus livros.”

                         A ideia de reunir os 22 discursos de García Márquez veio de sua agente literária Carmen Balcells. Durante um ano e meio, ele remexeu caixas e gavetas em busca dos textos. O que abre o volume, escrito aos 17 anos, foi encontrado por um professor da Universidade de Yale, nos EUA; o revelador “Como Comecei a Escrever” (maio de 1970) reapareceu graças a uma prima do escritor. “Esse eu escrevi, tenho certeza”, disse ao lê-lo. É uma espécie de profissão de fé. “Nunca sei quanto vou escrever nem o que vou escrever. Espero que me ocorra algo e, quando me ocorre uma ideia que julgo boa, me ponho a dar-lhe voltas na cabeça e deixo que vá amadurecendo”, conta. “Quando tenho a ideia terminada (e às vezes passam-se muitos anos, como no caso de “Cem Anos de Solidão”, que passei 19 anos pensando-o), então me sento a escrevê-la e aí começa a parte mais difícil e a que mais me aborrece.” Agora, por exemplo, uma história nova anda “dando voltas” na cabeça de García Márquez. Trata-se do romance “Em Agosto nos Vemos” – ainda dá voltas porque ele acha que um personagem não está bem acabado.
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FRASE DA VEZ:
 "Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade." (Gabriel García Marquez)
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