Numa reunião inédita de discursos, o autor diz que não gosta de escrever, preferia ser cineasta e revela uma paixão secreta pela atriz Sophia Loren
by Ivan Claudio
Mestre do realismo mágico, García Márquez não queria ser escritor:
seu sonho era fazer filmes neorrealistas
"O escritor colombiano Gabriel García Márquez, 83 anos, autor do clássico romance “Cem Anos de Solidão”, detesta falar em público. E não por timidez: não lhe agrada a autoridade conferida a quem fala para uma plateia e, muito menos, a formalidade que essas cerimônias envolvem.
Quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, García Márquez não pôde evitar o púlpito. Ainda assim, rompeu uma tradição em toda a história da instituição sueca e fez o seu discurso de agradecimento vestido não de smoking, mas enfiado num informal traje caribenho branco, conhecido como liquiliqui.
Com a sucessão de homenagens e convites mundo afora, a má vontade com a oratória teve de ser contornada. Ainda assim, Gabo, como ficou conhecido em razão de sua popularidade, ainda recusa ao máximo os pronunciamentos e, algumas vezes, chega
a enviar seus discursos gravados em fitas cassete. Para ele, encarar uma plateia é o “mais terrível de todos os compromissos humanos”.
É com surpresa e certa dose de ironia que chegou às livrarias dos países de língua espanhola na semana passada o livro “Yo no Vengo a Decir um Discurso” (Não Vim Aqui Fazer um Discurso), com a reunião dos textos que García Márquez escreveu para serem lidos em voz alta. Com lançamento garantido no Brasil, o livro já figura entre os mais vendidos de diversos países e ganha de cara o leitor pela constatação óbvia: mesmo não gostando de pronunciamentos, García Márquez consegue transformar esses textos numa produção da melhor literatura.
seu sonho era fazer filmes neorrealistas
"O escritor colombiano Gabriel García Márquez, 83 anos, autor do clássico romance “Cem Anos de Solidão”, detesta falar em público. E não por timidez: não lhe agrada a autoridade conferida a quem fala para uma plateia e, muito menos, a formalidade que essas cerimônias envolvem.
Quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, García Márquez não pôde evitar o púlpito. Ainda assim, rompeu uma tradição em toda a história da instituição sueca e fez o seu discurso de agradecimento vestido não de smoking, mas enfiado num informal traje caribenho branco, conhecido como liquiliqui.
Com a sucessão de homenagens e convites mundo afora, a má vontade com a oratória teve de ser contornada. Ainda assim, Gabo, como ficou conhecido em razão de sua popularidade, ainda recusa ao máximo os pronunciamentos e, algumas vezes, chega
a enviar seus discursos gravados em fitas cassete. Para ele, encarar uma plateia é o “mais terrível de todos os compromissos humanos”.
É com surpresa e certa dose de ironia que chegou às livrarias dos países de língua espanhola na semana passada o livro “Yo no Vengo a Decir um Discurso” (Não Vim Aqui Fazer um Discurso), com a reunião dos textos que García Márquez escreveu para serem lidos em voz alta. Com lançamento garantido no Brasil, o livro já figura entre os mais vendidos de diversos países e ganha de cara o leitor pela constatação óbvia: mesmo não gostando de pronunciamentos, García Márquez consegue transformar esses textos numa produção da melhor literatura.
Tome-se o discurso intitulado “Em Homenagem a Belisario Bentacur pela Passagem de seus 70 anos” (fevereiro de 1993), escrito para saudar o aniversário do ex-presidente colombiano. Gabo conta que ligou por engano para o Palácio Presidencial às três da manhã, e espanto: o presidente atendeu e disse que tudo bem, estava só a ler poesias. “Naquela madrugada trêmula do poder, Belisario Betancur relia os versos matemáticos de don Pedro Salinas, antes que chegassem os jornais para amargar-lhe o novo dia com as fantasias da vida real”, escreveu.
A solidão do poder, confirma Gabo em outros textos, sempre foi o seu assunto predileto em romances como “O Outono do Patriarca” e “O General em Seu Labirinto”. Em abril de 1996, o romancista aceitou o pouco usual convite para falar a uma plateia de militares de seu país e afirmou, lá pela metade da conferência, que sua “obsessão pelos distintos modos do poder é mais que literária, é quase antropológica, e começou quando meu avô me contou a tragédia de Ciénaga”. Gabo era um recém-nascido quando se deu a chamada “Matança das ananeiras”, massacre de mil trabalhadores da United Fruit Company pelas Forças Armadas colombianas. “Muitas vezes me perguntei se não é essa a origem de um viés temático que atravessa todos os meus livros.”
A solidão do poder, confirma Gabo em outros textos, sempre foi o seu assunto predileto em romances como “O Outono do Patriarca” e “O General em Seu Labirinto”. Em abril de 1996, o romancista aceitou o pouco usual convite para falar a uma plateia de militares de seu país e afirmou, lá pela metade da conferência, que sua “obsessão pelos distintos modos do poder é mais que literária, é quase antropológica, e começou quando meu avô me contou a tragédia de Ciénaga”. Gabo era um recém-nascido quando se deu a chamada “Matança das ananeiras”, massacre de mil trabalhadores da United Fruit Company pelas Forças Armadas colombianas. “Muitas vezes me perguntei se não é essa a origem de um viés temático que atravessa todos os meus livros.”
A ideia de reunir os 22 discursos de García Márquez veio de sua agente literária Carmen Balcells. Durante um ano e meio, ele remexeu caixas e gavetas em busca dos textos. O que abre o volume, escrito aos 17 anos, foi encontrado por um professor da Universidade de Yale, nos EUA; o revelador “Como Comecei a Escrever” (maio de 1970) reapareceu graças a uma prima do escritor. “Esse eu escrevi, tenho certeza”, disse ao lê-lo. É uma espécie de profissão de fé. “Nunca sei quanto vou escrever nem o que vou escrever. Espero que me ocorra algo e, quando me ocorre uma ideia que julgo boa, me ponho a dar-lhe voltas na cabeça e deixo que vá amadurecendo”, conta. “Quando tenho a ideia terminada (e às vezes passam-se muitos anos, como no caso de “Cem Anos de Solidão”, que passei 19 anos pensando-o), então me sento a escrevê-la e aí começa a parte mais difícil e a que mais me aborrece.” Agora, por exemplo, uma história nova anda “dando voltas” na cabeça de García Márquez. Trata-se do romance “Em Agosto nos Vemos” – ainda dá voltas porque ele acha que um personagem não está bem acabado.
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FRASE DA VEZ: "Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade." (Gabriel García Marquez)
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LAR... DOCE LAR...
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"Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu."
ResponderExcluirGabriel Garcia Marques