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quinta-feira, 28 de julho de 2011

FERNANDO PORTARI


 THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO MONTA 10 ÓPERAS NA TEMPORADA DE 2012
                      O tenor Fernando Portari atua com sucesso no Brasil e no Exterior. Um dos poucos cantores brasileiros a possuir uma sólida carreira internacional.
                      Cantou nos grandes teatros líricos do mundo e, no Brasil, faz apresentações regulares.
                      Gravou o oratório Colombo de CARLOS GOMES (Premio Sharp), as canções de Gilberto Mendes com Lamosa e o pianista Rubens Ricciardi, “A Canção da Terra” pelo selo ALGOL, o DVD da ópera “Il Crociato in Eggito”, de Meyerbeer, produção do Teatro La Fenice de Veneza, com Patrizia Ciofi , regência de E. Villaume e direção de Pier Luigi Pizzi, realizado pela Dynamic e o DVD da ópera “La Rondine”, de Puccini, produção do La Fenice de Veneza , com Fiorenza Cedolins, regência de Carlo Rizzi e direção de Graham Vick .
                      Fernando Portari concedeu uma entrevista exclusiva ao blog de Ópera e Ballet:
 Fernando, como é que você surgiu como cantor?
Nasci numa casa muito musical: minha mãe é pianista, estudou na Escola de Música, e ensinou piano a mim e meu irmão. Meu pai Pedro Portari é tenor, tendo estudado com o famoso professor de canto Pasquale Gambardella. O professor tinha um estúdio na Rua das Laranjeiras e meu pai sempre conta que quando sai da maternidade a primeira casa onde entrei foi a do maestro. Bom augúrio.

Como foi seu trabalho de conquistar espaço em meio aos muitos tenores que atuavam por aqui?
Tudo ocorreu de forma muito natural, primeiro pela generosidade das pessoas que passaram pelo meu caminho no início: o tenor Alfredo Colósimo, que sempre me recebeu de braços abertos em seu estúdio na Academia Lorenzo Fernandes; o barítono Paulo Fortes, que tinha um carinho tão especial por mim que me chamou para cantar na cerimônia onde recebeu a medalha Pedro Ernesto; o tenor Amaury Rene, que deu a minha primeira oportunidade em sua companhia de ópera e tantas outras, como a inesquecível montagem de La Bohème no Teatro Dulcina; Fernando Bicudo, que me deu a fantástica oportunidade de estrear no teatro Municipal do Rj ao lado de Carlo Bergonzi e de construir amizades com os colegas do Ópera Brasil que perduram até hoje; o maestro Morelenbaum, que apostou em mim e estreei em Don Ottavio no TMRJ em uma produção do genial Gianni Ratto, este mestre que vinha da grande tradição do teatro italiano.
Em São Paulo fui um dos vencedores do concurso promovido pelo teatro lírico de equipe e abriram-se as portas para mim. Enfim, tudo foi muito natural e tive sempre muita sorte de encontrar pessoas que me incentivaram, me deram oportunidades e muito carinho , tanto público quanto os maravilhosos colegas que me acompanham nestes 20 anos de caminhada.

Você sempre teve no seu pai, que o acompanha sempre, um fiel companheiro e conselheiro. Como você vê a participação dele na sua carreira?
Tive a sorte e a honra de conviver com um artista sensível, um homem de caráter e um pai amoroso que transmitiu a mim e meu irmão valores inestimáveis da arte do bel canto e da arte da vida. Sem ele, nada faria sentido, tudo seria apenas esforço , mas através dos ensinamentos de meu pai e de minha mãe, a visão da vida e da arte se completam e não sei mais onde começa uma e termina a outra. Cantar para mim é exercício de vida, minha visão de mundo passa pelo filtro da arte de canto e uma se confunde na outra.
 Nesses últimos anos você tem atuado bastante Brasil afora, como está sendo agora? Está cantando muito?
Mais do que cantar muito, tenho tido oportunidades maravilhosas de vivenciar papéis maravilhosos e ter encontros com pessoas que engrandecem a minha vida. Não poderia deixar de citar os 15 anos de excelência de relação pessoal e artística com minha mulher Rosana Lamosa, pessoa encantadora e cantora que sempre me surpreende pela arte generosa, a beleza da voz, o fraseado sublime, a nobreza do gesto, o senso dramático e a presença sedutora . Uma artista que me encanta e estimula a continuar descobrindo novas dimensões da arte lírica.
Pouco mais de um mês atrás, morreu o excelente tenor Benito Maresca, um dos poucos que fizeram algum sucesso no exterior. Você tem conseguido se manter em evidência em meio aos "grandalhões” da atualidade. 

Como está sua carreira internacional?
É preciso dizer que Benito Maresca fez muito sucesso, pois por onde vou pergunto sobre ele e aqueles que o viram são unânimes em dizer da grande arte deste tenor, meu amigo que é contínua fonte de inspiração para mim. Não tenho a preocupação de me manter em evidência neste mundo enorme de grandes e célebres artistas. Procuro sim ser um crítico severo de mim mesmo e crescer como cantor e intérprete. Tenho uma responsabilidade muito grande pois tive grandes mestres e o nome destes titãs me obriga a entender o canto como um tesouro a ser protegido.
A estes sobretudo devo satisfações e elevar seus nomes é para mim a grande meta. Meu pai, oriundo da escola do grande professor Pasquale Gambardella, um napolitamo amigo de Caruso que chegou no Brasil la pelos anos 20/30 e que nos deixou sua brilhante escola de canto, a verdadeira “vecchia scuola italiana”, que originou cantores como Fernando de Lucia, Enrico Caruso e Rosa Ponselle , da qual o maestro Gambardella foi professor em Nova Iorque. Meu irmão Pedro Portari Filho, um grande tenor spinto, mas que se dedicou a cirurgia e ao ensino da medicina, mas que continua junto a meu pai me orientando e aconselhando com sua verdadeira e profunda sabedoria da arte lírica.
Antonio Mercado que é um diretor de teatro e professor de artes cênicas e com o qual pude descobrir as possibilidades dramáticas por trás dos personagens líricos, a grandeza deste gênero que não é música com teatro nem teatro com música, mas sim um gênero autônomo com suas regras e fascínios próprios. A minha mulher Rosana Lamosa por tudo aquilo que já citei. E todos os meus colegas cantores, instrumentistas, maestros, diretores, figurinistas, cenógrafos, contra-regras, iluminadores, maquinistas, camareiras, produtores, público, imprensa e alunos que contribuem com suas diferenças, suas particularidades, suas loucuras e suas paixões para enriquecer a minha vida.
 Cantar no Scala di Milano é diferente?
É muito diferente. Cantar no La Scala é como chegar à Terra Prometida, ao Olimpo, ao Walhalla, ao Everest. É ter a medalha olímpica de ouro, é ser o campeão mundial de futebol, é se sentir como Ayrton Senna, como Pelé, como Bernardinho, é um convite para se sentar à mesa onde te esperam Verdi, Gomes, Puccini, Gounod, Donizetti, Bellini, Rossini, Mozart, Viardot, Malibran, Callas, Di Stefano, Gigli, Caruso, Schippa, Ruffo, Maurel, Serafim, Karajan, Toscanini, Visconti e tantos outros gênios da lírica. Não é possível descrever e só mesmo usando essas referências divinas para poder tentar traduzir esta inigualável emoção.

Anna Netrebko é uma das grandes divas da ópera mundial, exibe uma voz e uma beleza ímpar. Como é encarar uma récita que tem Anna Netrebko a seu lado?
Anna é antes de tudo uma grande e generosa colega. Cantar ao seu lado foi uma das experiências mais gratificantes em minha vida de artista lírico. Ela traduz com exatidão a palavra diva: é uma grande artista e faz tudo parecer fácil e orgânico. Ela em sua enorme generosidade dividiu essa energia comigo.

O fechamento para reforma do Teatro Municipal de São Paulo foi um desastre para a comunidade lírica. Como você sobreviveu a esses anos de fechamento?
É muito importante a comunidade refletir sobre este momento difícil. E não foi só São Paulo, o teatro do Rio também fechou quase simultaneamente ao teatro de São Paulo. Faz-se necessário conquistar mais autonomia desses grandes teatros. Os profissionais da ópera precisam pensar em desenvolver projetos próprios e passarem a produzir espetáculos, mesmo que não sejam do tamanho que se faz nas grandes casas de ópera. Eu observo que em crise é tempo de rever conceitos e avançar em novas propostas estéticas, é um desafio de sobrevivência e para isso é preciso inteligência, visão e espírito de grupo. Eu tive a sorte de durante este período estar cantando fora do país, mas observei também que muitos colegas souberam lidar com a crise de forma inteligente e criativa, saindo dessa dependência crônica do eixo Rio – São Paulo. Na crise os corajosos e despidos de preconceito abrem os novos caminhos.

Depois de aturarmos péssimos diretores artísticos no Teatro Municipal de São Paulo, parece que finalmente temos o maestro Abel Rocha, esse extremamente competente, a grande chance da ópera voltar engrandecida à nossa cidade, haja vista a idéia de fazer 5 montagens em apenas 4 meses. O que você acha disso?
Não é verdade que houve péssimos diretores artísticos em São Paulo. Lidar com o poder publico é tarefa difícil e exige esforço hercúleo para conseguir realizar alguma coisa. O maestro Abel Rocha é um profissional reconhecido, trabalhador incansável, íntimo da administração pública, amante da lírica e com grande poder de encontrar soluções. Torço por ele pois é a pessoa certa no lugar certo. Espero que a máquina perceba a capacidade deste artista e profissional e ceda a ele os instrumentos necessários para que o teatro consiga produzir o que é capaz.
Já se fala em 10 óperas para 2012. Quais são suas expectativas?
Desde que o Maestro Rocha consiga ser ouvido tenho absoluta certeza que será uma temporada brilhante.

Você vai ficar no Brasil ou vai se dedicar à carreira no exterior?
Nunca deixei de cantar no Brasil e, desta forma, sigo minha trajetória tanto aqui quanto no exterior.

Como o público brasileiro tem tratado você em termos de reconhecimento?
O público brasileiro me acompanha há 20 anos desde os tempos de Teatro Dulcina, onde estreei, me incentivando a continuar na dificílima vida de artista lírico, dando carinho e emoção. O que poderia pedir mais? E é para o público e tão somente para ele que me dedico a esta arte sublime .
 BEM-ME-QUER...

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