OS TÍMPANOS DA BANDA DO PAI
Um dia, obrigado pelo pai a bater os tímpanos na banda, CARLOS GOMES o fez com tamanha raiva que arrebentou o instrumento e levou uma surra feia por isso, nunca mais se esquecendo dela, pois narrava esse episódio para todo mundo.
Minha avó nos contava que Maneco era adepto de surras. Qualquer molecagem dos filhos resultava numa tremenda surra, com o que encontrasse nas mãos. Foi este um dos motivos da fuga de CARLOS GOMES para o Rio: certa vez, chega a casa e presencia uma cena do pai gritando com Sant’Anna por uma razão qualquer; em dado momento, Maneco tira a cinta e ameaça bater em Sant’Anna; CARLOS GOMES, então, aparece em defesa do querido irmão, colocando-se na sua frente e enfrentando o pai, dizendo que batesse nele e não em Sant’Anna; Maneco acaba por deixar pra lá.
À noite, ele confidencia, ao irmão, que iria embora de casa e o faz na primeira oportunidade.
CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES
1) No grupo de amigos de São Paulo, havia muitos membros da Loja Amizade, primeira da capital paulista, fundada em 13 de maio de 1832 por sete obreiros, cinco dos quais eram alunos da Academia de Direito de São Paulo. Foi nessa Loja que, em 24 de julho de 1859, por indicação de seus amigos, Carlos Gomes foi iniciado juntamente com seu irmão Sant’Anna, o que lhe deu oportunidade de abrir muitas portas, principalmente na Itália.
ACADEMIA DE DIREITO DE SÃO PAULO
Em 30 de setembro de 1880, a Loja Maçônica Regeneração III de São Paulo, concederia a Carlos Gomes o título de membro efetivo da Loja Amizade. Ser maçom e ser monarquista eram condições que muitas vezes se chocavam e se contrapunham.
LOJA MAÇÔNICA REGENERAÇÃO DE SÃO PAULO
Conceder títulos honoríficos a artistas, literatos, musicistas, pintores e gente de teatro era comum para a maçonaria, mesmo que essas pessoas fossem de reconhecida tendência monarquista: a Maçonaria no Brasil não era completamente republicana.
CARLOS GOMES chegou a conceder um benefício à Maçonaria – um espetáculo com renda a ser repassada à Sociedade Beneficente dos Trabalhadores do Mar e Terra em 4 de junho de 1895. Foi generoso, portanto, com os trabalhadores do Pará num dos momentos mais difíceis de sua vida.
O maestro não deve ter sido um membro assíduo no cumprimento de seus votos. Talvez por isso a maçonaria brasileira também tenha sido um complicador em sua vida, quando precisou recorrer aos favores da república.
Depois de sua iniciação na maçonaria, foi para o Rio de Janeiro e matriculou-se no Conservatório Musical do Rio de Janeiro, de Francisco Manuel da Silva em 1859, com a intermediação da Condessa de Barral e do Imperador.
CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DO RIO DE JANEIRO
2) A primeira forte emoção musical que vivenciou, segundo Luís Guimarães Jr., foi quando conseguiu, por acaso, uma partitura de Il Trovatore (O Trovador) de Verdi:
"Aconteceu que, num belo dia, tinha o maestrozinho quinze anos; caiu-lhe nas mãos, por obra do acaso, um exemplar do spartito completo de O Trovador. CARLOS GOMES agarrou com os dez dedos vitoriosos o tesouro inapreciável e às quatro horas, enquanto a família ia admirar os pulos e os pinotes duma companhia de cavalinhos ambulante, ele protestando de dor de dentes ou de cabeça, ficou em casa e voou ao fundo do pomar com o seu livro de O Trovador debaixo do braço, e ocultando-se entre as espessas sombras do arvoredo abriu frenético a grande partitura italiana. O que sentiria aquele espírito distinto, aquele coração especial, perante as ideias mágicas do maestro, que se desenrolavam como um sonho oriental, fulgurante e voluptuoso? Desde o ruído metálico dos clarins, que abrem o primeiro ato, até a última nota da zíngara, nada escapou ao olhar terrivelmente perscrutador do menino artista! (...) A noite surpreendeu-o, embargalhando a vista ansiosa.
CARLOS GOMES de um salto chegou à casa, sentou-se à mesa do trabalho e compôs de um só fôlego uma marcha sobre motivos de O Trovador de Verdi. A família voltava do circo e a primeira coisa que viu em casa o velho professor foi o seu querido Antonio cantarolando a marcha, gesticulando, movendo a cabeça, com as faces pálidas, por onde caíam, baga a baga, um milhão de lágrimas:
― Estás chorando? O que tens? Mas o que é isso, menino?
Ele mostrou apenas a partitura italiana e o papel em que rabiscara a marcha, redobrando de pranto e rindo-se no meio dos soluços que o sufocavam."
FRASE DA VEZ:
A respeito de "O ESCRAVO", afirmou ele (referindo-se a ele e a Taunay, que “O TÍTULO LO SCHIAVO FOI POR NÓS AMBOS INVENTADO NO HOTEL DE FRANÇA, NO RIO DE JANEIRO, EM 8 DE NOVEMBRO DE 1880.”
Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado em 2011
ESTÁTUA DE PERI NA ENTRADA DA CASA DE VILA BRASILIA (foto do livro)
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