ZUMBI
Uma história de morte e vida
Zumbi da série de TV The walking dead e o livro sobre o tema. Os mortos-vivos conquistaram a aceitação do grande público. Entre os grandes monstros do cinema, os zumbis ocupam um dos postos mais baixos. Não têm a aura de luxúria dos vampiros, o apelo arqueológico da múmia egípcia ou o drama pessoal de Frankenstein. São a massa plebeia do cinema de terror, cujo único propósito aparente é se alimentar de carne humana. Apesar disso, foram feitos mais filmes de zumbis que sobre outros tipos de monstro. O que justifica, então, o fascínio pelos mortos-vivos ?
O jornalista e escritor Jamie Russell se propôs a entender os motivos que tornaram os zumbis tão populares no livro Zumbis – O livro dos mortos (Leya Cult, 464 páginas, R$ 44,90). Ele mostra a história dos zumbis na cultura ocidental desde 1929, quando o historiador William Seabrooke viajou para o Haiti e contou suas experiências no livro A ilha da magia. Recheado de histórias sobre mortos que voltavam à vida, desafiando tudo o que a ciência já postulou, lançou o livro às listas de mais vendidos. Seu apelo sobrenatural logo foi adaptado aos palcos da Broadway, com pouco sucesso, antes de invadir os cinemas.
Talvez o grande poder de um monstro tão desprovido de personalidade seja retratar nossa impotência em períodos de crise. O primeiro filme do tipo, O zumbi branco, protagonizado por Bela Lugosi, mostrava os mortos como uma força de trabalho reanimada. Foi lançado em 1932, três anos após a quebra da Bolsa de Nova York, quando o desemprego atingira 25% dos americanos.
O gênero perdeu força nos anos 1940 e só voltou a ter relevância durante a Guerra Fria, quando o terror ganhou toques de ficção científica. Em filmes como Vampiros de almas, de 1956, e Usina de monstros, de 1957, os mortos-vivos passaram a atacar em massa, causando mais impacto nas plateias.
O diretor George Romero aproveitou essa inovação em sua estreia nos cinemas. Noite dos mortos-vivos estabeleceu padrões para o gênero, como o canibalismo dos zumbis, e atingiu o núcleo familiar americano: os mortos que voltam à vida atacam qualquer um, inclusive parentes. O filme trouxe o terror para o centro da vida social – o vizinho pode ser o inimigo. Romero ainda faria uma crítica à sociedade consumista americana em Despertar dos mortos, de 1978, e ao complexo militar industrial americano em O dia dos mortos, de 1985. A trilogia transformou o diretor na figura mais importante do cinema de zumbi.
Depois das obras de Romero, o gênero perdeu um pouco da seriedade e ganhou toques de comédia, sem deixar a crítica de lado. Produções como Uma noite alucinante – A morte do demônio (de 1982) e A volta dos mortos-vivos (de 1984) misturavam muito sangue, cenas de matança pesadas e humor absurdo. Conhecidos como “splatstick” (violento com toques de humor, uma brincadeira com “slapstick”, termo para as comédias de pancadaria como Os três patetas), esses filmes parodiaram as convenções do terror.
Depois do cinema, os zumbis invadiram os games. A série Resident evil se tornou um sucesso instantâneo e vendeu milhões de cópias. Sua adaptação cinematográfica de grande orçamento abriu as portas do cinema tradicional para as hordas de mortos, que conquistaram uma aceitação inédita. Apareceram até em sucessos como Piratas do Caribe: a maldição do Pérola Negra e Senhor dos anéis: o retorno do rei.
O zumbi moderno conquistou prestígio nas mãos de diretores como Danny Boyle e Peter Jackson, vencedores do Oscar. Eles têm um apelo psicológico, como a dizer que somos todos, mesmo estando vivos, um pouco zumbis. O melhor exemplo atual é a série de televisão The walking dead, adaptação de uma HQ de sucesso que concorreu ao Globo de Ouro como melhor série dramática. Ali os protagonistas são as pessoas que tentam não ser infectadas. Os zumbis representam um dos piores terrores do mundo moderno: perder a identidade.
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