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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CENTENÁRIO DE ELIZABETH BISHOP

Centenário de Bishop tem comemoração tímida no Brasil
                       É tímida a comemoração por parte do mercado editorial, mas, nesta terça-feira, a poeta americana Elizabeth Bishop (1911-1979) completaria cem anos.                         
                      Considerada um dos maiores poetas do século XX, com presença forte no Brasil, onde viveu cerca de vinte anos, Bishop não tem nenhum livro em vias de reedição. A ausência de relançamento neste momento se justifica por uma triste razão: o público leitor do país, se já é pequeno em volta da prosa, é ainda menor ao redor da poesia.
                     Atualmente, os livros encontram-se esgotados no Brasil. A Companhia das Letras, editora que detém os direitos das obras de Bishop no país, estuda relançar títulos da poeta, mas ainda não tem data prevista. 
                     O único lançamento relacionado à americana já confirmado é o do romance The More I Owe You, de Michael Sledge, pela editora Leya, em junho. O livro é baseado no relacionamento da poeta com a brasileira Lota de Macedo Soares, relação que deu alguma estabilidade à tumultuada vida da poeta.
                    O fim do relacionamento, no entanto, não foi dos mais fáceis, e entraria para a galeria de tragédias que marcaram a vida de Bishop. Lota cometeu suicídio em 1967.
                      A experiência da perda já acompanhava, então, Bishop há muito tempo. A americana nascida em Worcester, Massachusetts, perdeu o pai com oito meses de idade e, quando tinha 4 anos, sua mãe apresentou sinais de insanidade.
                       A escritora foi criada por familiares no Canadá e Estados Unidos. Formou-se na Faculdade de Arte de Nova York – Vassar College – em 1934 e publicou seu primeiro livro, North and South, em 1946. Entre os títulos da poeta lançados pela Companhia das Letras, estão Poemas do BrasilO Iceberg Imaginário e Outros Poemas (antologia bilíngüe), Esforço do Afeto e Uma Arte – Cartas de E. Bishop.
                       A menção às tragédias não é, porém, escancarada nessas obras, como era de se esperar. Bishop nega-se a si mesma qualquer sentimento de auto-compaixão, recusa-se a aceitar o papel de vítima. Para extrapolar suas emoções, adota uma série de disfarces poéticos. E, como bem definiu T.S.Eliot, “a poesia não é um soltar de emoções, mas uma fuga da emoção; não é a expressão de personalidade, mas uma fuga da personalidade. E só os que têm personalidade e emoções sabem o que significa querer escapar dessas coisas”.

                     Se o centenário de Bishop não tem a festa merecida no mercado editorial, ele é celebrado no cinema e no teatro. O cineasta Bruno Barreto começa a rodar no segundo semestre deste ano o longa A Arte de Perder, também sobre o romance da poeta com Lota. O elenco já conta com Glória Pires e há boatos de que Jodie Foster seria uma das atrizes americanas cotadas para interpretar a escritora.
               No teatro, a peça Um Porto para Elizabeth Bishop, monólogo da jornalista e escritora Marta Góes e encenada pela atriz Regina Braga, também tem reestreia prevista para este ano.
 UMA ARTE
Elizabeth Bishop
Tradução de Paulo Henriques Britto
A arte de perder não é nenhum mistério

tantas coisas contém em si o acidente

de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,

a chave perdida, a hora gasta bestamente.
 A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:

lugares, nomes, a escala subseqüente

da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

lembrar a perda de três casas excelentes.
 
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. Um império

que era meu, dois rios, e mais um continente.



Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)

não muda nada. Pois é evidente

que a arte de perder não chega a ser um mistério

por muito que pareça (escreve) muito sério.
NÁUFRAGO

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