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domingo, 13 de fevereiro de 2011

O DISCURSO DO REI - CINEMA

'O Discurso do Rei' é acusado de esconder anti-semitismo de George VI

               Indícios de que o rei que conduziu a Inglaterra contra a Alemanha de Adolf Hitler era, se não um simpatizante do nazismo, ao menos um anti-semita, estariam em documentos oficiais da época liberados pela Casa de Windsor em 2002

              O filme O Discurso do Rei, que teve sua pré-estreia marcada para este mes no Brasil, amealhou doze indicações ao Oscar 2011 e disparou, a julgar pelo indicativo de premiações recentes, como favorito da cerimônia que será realizada no próximo dia 27, no Kodak Theatre, em Los  Angeles.

              A amizade entre o rei George VI, interpretado com maestria por Colin Firth, e seu terapeuta da fala Lionel Logue, vivido por Geoffrey Rush, é contada pelo diretor Tom Hooper como uma saga de cumplicidade. Logue, um plebeu australiano de modos largos, torna-se amigo de um rei gago que, pela oratória, precisa manter em alta o moral de seus súditos num momento crucial da história da Inglaterra: a II Guerra Mundial.
            Num artigo recente sobre o filme, a revista The Economist discorreu sobre a reação que a produção tem despertado nos ingleses. De orgulho histórico pelo personagem pouco conhecido por mais de dois terços da Inglaterra, nascidos no reinado de Elizabeth II, e de afeição pela figura real que tem sua intimidade exposta e é, assim, humanizada.

            Não é a primeira vez que o cinema inglês funciona como catalisador desses sentimentos. A Rainha, do diretor Stephen Frears, fez o mesmo ao oferecer uma explicação para a hesitação da rainha Elizabeth II em declarar luto pela princesa Diana, morta em 1998 num acidente de trânsito em Paris.
                 Mas nem tudo é bonança na corrida do filme pelo Oscar e no orgulho que os ingleses tem sentido por seu rei gago. Nos bastidores da premiação e nos jornais britânicos, ligações do rei George VI com o nazismo são apontadas – e ameaçam minar as chances de vitória do filme. Não é preciso dizer que os fatos históricos que embasam essas alegações sequer são mencionados por Hooper.

                Os indícios de que o rei que conduziu a Inglaterra contra a Alemanha de Adolf Hitler era, se não um simpatizante do nazismo, ao menos um anti-semita, estariam em documentos oficiais liberados pela Casa de Windsor em 2002. São menções a documentos que recheiam um e-mail distribuído por um membro da Academia, alertando os demais votantes para a “verdade histórica que não pode ser encoberta” e sobre o qual O Discurso do Rei calaria.
                 Os papéis tratam do apoio de George VI, numa carta escrita ao seu Ministro das Relações Exteriores, Lord Halifax, à decisão de barrar judeus que fugiram da Alemanha antes do início da guerra, em 1939, e tentaram emigrar para a Palestina, então sob o domínio da Inglaterra. “Estou contente que medidas nesse sentido estejam sendo tomadas para impedir que pessoas que abandonam seus países entrem em nossos territórios”, disse o rei. “É preciso alertar a Alemanha para verificar melhor a sua imigração.

               Ajuda ainda a criar desconfiança sobre George VI o currículo de seu irmão, Edward VIII, a quem ele sucedeu. Político “egoísta, estúpido e vaidoso”, nas palavras do ensaísta britânico Christopher Hitchens, Edward, com o primeiro-ministro Nerville Chambelain, que viria a renunciar em 1940 para dar lugar a Winston Churchill, manteve durante anos relações de simpatia com a Alemanha nazista – a seu ver um baluarte contra o avanço do comunismo. Ressalte-se, nesse ponto, a origem alemã dos Windsor, que mantiveram até a I Guerra Mundial a nomenclatura germânica Saxe-Coburgo-Gota.
                 Edward, de tão afoito, depois de passar o trono ao irmão, partiu num périplo pela Europa já como Duque de Windsor na companhia da amante com quem fora impedido de casar pelo fato de ela ser divorciada, a americana Wallis Simpson. A lua de mel incluiu cumprimentos a Hitler, em Munique, encontro fartamente documentado.

                É de se perguntar se as manchas na biografia do rei George VI, que de alguma maneira contribuiu para o massacre dos judeus na II Guerra, serão vingadas 60 anos depois numa premiação de cinema. Ou se ele será definitivamente entronizado na mente e no coração dos ingleses.

Para Colin Firth, papel 'O Discurso do Rei' foi o mais difícil da carreira
                 O ator britânico Colin Firth, candidato ao Oscar de melhor ator por sua atuação em O Discurso do Rei, de Tom Hooper, disse que o monarca George VI da Inglaterra foi "provavelmente o papel mais difícil" da sua carreira. Firth explicou que o segredo para tornar a gagueira do pai da rainha Elizabeth II verossímil foi acreditar que realmente tinha um defeito na fala.

                "Eu tinha que me esforçar para não gaguejar. O que os espectadores veem é um homem que tenta desesperadamente não fazê-lo, e não o contrário", revelou o britânico em entrevista concedida ao jornal francês Le Figaro"Eu não interpretava um rei desde a época em que encenava Shakespeare na universidade."
               Para compor o seu personagem, Firth também procurou observar como as pessoas reagem diante de um rei. "Em uma cerimônia com a presença do príncipe Charles, um amigo meu, um verdadeiro hippie, literalmente se metamorfoseou, mostrando-lhe um respeito infinito. Me dei conta de que um monarca não percebe as pessoas além de um modo de representação permanente. E isso acontece desde o dia de seu nascimento."

FOLHAS DE OUTONO

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