quinta-feira, 16 de setembro de 2010
16 DE SETEMBRO DE 1896 - MORRE ANTONIO CARLOS GOMES
16 DE SETEMBRO DE 1896 - O POUSO DA ÁGUIA...
Chega a Belém em estado geral de total prostração, pois a longa viagem o debilitara. Todos do Pará se reúnem para vir em seu socorro. Uma junta de 23 médicos se reune na casa do maestro no dia seguinte à sua chegada, examina-o e diagnostica epiteolomia ou epitelioma, isto é, tumor maligno que atinge o epitélio, tecido que forma o revestimento da superfície externa do corpo e de suas cavidades. Mal de morte sem saída, ainda mais naquela época.
Já não falava mais com clareza, quase não engolia e quando conseguia fazê-lo era com extrema dificuldade, usava uma vareta para apontar as coisas de que tinha necessidade e lápis e papel para comunicar-se – foi assim que avisou que deixara dois filhos em apuros em Milão, um deles muito doente e que fizera muitos empréstimos para poder ser operado em Lisboa e viajar para Belém sob garantia de seu seguro de vida, contraindo uma dívida de 17.000 liras.
A revelação do câncer veio à luz em viagem de Milão para Belém, quando aportou em Lisboa, onde o diagnóstico e primeiros atendimentos foram feitos para surpresa e consternação da imprensa lisboeta.
São divulgadas as alarmantes perspectivas para o futuro próximo de CARLOS GOMES, noticiava-se que ele, de fato, havia embarcado em Lisboa, a bordo do Obidense, com destino ao Pará.
Já em terra, o maestro, em carruagem que lhe foi destinada, dirigiu-se à casa que o Governo do Estado preparara para hospedá-lo, sendo acompanhado por um cortejo em que políticos, artistas e intelectuais juntavam-se a populares, uma residência de propriedade do Visconde de São Domingos, seu compadre e amigo particular. Localizada no n. 59 da atual Travessa Quintino Bocaiúva, a nova moradia, um belo exemplar paraense da segunda metade do século XIX, ficava fora do centro, distante do movimento reinante no coração de Belém.
Segundo o Diário de Notícias de 16 de Maio de 1896, um grupo de médicos paraenses reuniu-se para discutir sobre o estado de saúde de CARLOS GOMES.
Em outras palavras, CARLOS GOMES morreu cercado de atenção, apoiado pela ciência da época e não abandonado à própria sorte.
Vota-se uma pensão mensal de dois contos de réis enquanto viver, assegurando a seus dois filhos um salário de quinhentos mil réis para cada um após a morte do pai – para Carletto até que completasse vinte e cinco anos e para Itala até que se casasse, quando receberia um dote de trinta contos.
CARLOS GOMES recebe o despacho das mãos de Campos Sales.
E o maestro diz:
–“Nunca! Nunca! Jamais lançarei mão desse dinheiro! Jamais!”–. E não aceita, jogando o despacho no chão.
Em 5 de julho, em total estado de fraqueza, toma posse como diretor do Conservatório de Música do Pará em meio a solenidades, discursos e bandas de música.
Em seu aniversário, dia 11 de julho, muitos amigos o visitam em seus aposentos da casa na Rua Quintino Bocaiúva – não o deixam só nem desamparado, alguém sempre o acompanha em sua agonia – a doença progredia rapidamente.
Às dez horas e quinze minutos da noite de 16 de setembro de 1896 morre o maestro
Silio Boccanera Junior escreve:
Às 10 h 35min, o boletim:
“Expirou o eminente maestro. Cerrou-lhe os olhos o Dr. Lauro Sodré… A morte de CARLOS GOMES foi completamente serena. O arquejar regularíssimo diminuiu a pouco e pouco e o último suspiro esvaiu-se num ofego quase imperceptível. A expressão do rosto é serena.”
Nenhum sacerdote visitou CARLOS GOMES em sua agonia e nem na hora da morte. Ele não recebeu extrema-unção nem hóstia consagrada talvez porque fosse maçon, mais um gesto incoerente e desumano da Igreja Católica. Num gesto piedoso, o Dr. Pedro Clermont colocou-lhe sobre o peito um crucifixo na hora final.
O Atestado de Óbito foi firmado pelos Drs. Almeida Pernambuco e Holanda Lima e declarou que o maestro faleceu às 10 h e 20 min da noite de 16 de setembro de 1896, na casa nº 59, na Travessa. Quintino Bocaiúva, de cachexia cancerosa, sob nº 2265, lavrado em 17 de setembro de 1896 às fls. 115 v. e 116 do livro nº 24 do Cartório do Primeiro Ofício de Nascimentos e Óbitos de Belém.
Na manhã do dia 17 de Setembro, decretado feriado estadual, a cidade já indicava os sinais da oficialização da dor, com o fechamento das repartições, das escolas e do comércio e com a bandeira brasileira hasteada a meio pau nos edifícios públicos e nas associações culturais e profissionais – os consulados também o fizeram com os pavilhões dos seus respectivos países.
Segundo Silio Boccanera: “CARLOS GOMES morreu, porém, torturado por mil dissabores e pela angústia de não ter sido compreendido nem auxiliado, senão por meia dúzia de amigos e fiéis companheiros.”
Há autores que relatam a morte de CARLOS GOMES como manchada pela infidelidade, com o maestro morrendo abandonado numa rede suja, ao contrário da realidade. O seu funeral foi repleto de celebrações religiosas nunca vistas em Belém do Pará.
Esse desabafo de CARLOS GOMES confidenciado a Bierrenbach é de uma carta de 1895 enviada de Pernambuco (a bordo do vapor Brasil do Lloyd Brasileiro) ao seu compadre Manoel José de Souza Guimarães:
“Desde Milão fiz-te ciência do motivo urgente que me levava a Belém… Qualquer que seja, porém, o clima do Pará, quaisquer que sejam os perigos do clima para mim, eu creio que será forçoso voltar para lá no próximo mês de junho de 1896.
Eis aqui uma longa história de sacrifícios que eu não te poderei contar nem descrever… O Rio de Janeiro não é para os bicos do teu pobre compadre…
O Conservatório do Rio de Janeiro é só para gente de alto merecimento. O Governo Federal está acostumado a fazer justiça? O destino, compadre, tem sempre uma força relativa, mas é por causa desta força que eu ando muito resignado e quase indiferente às injustiças do Governo Federal a meu respeito. A minha saúde tem sofrido muito ultimamente; além disso a minha moléstia na boca piorou no Pará.
Mas, o que fazer? No Rio não me querem nem para porteiro do Conservatório. Em Campinas e São Paulo idem.
No Pará, porém, me querem de braços abertos! Não me querem no Sul, morrerei no Norte que é toda a terra brasileira! Amém!”
Eis o decreto que declara o dia 17 de Setembro, feriado no estado do Pará:
“Decreto nº 316 de 17 de setembro de 1896 – Feriado dia 17 de setembro do corrente ano – O Governador do Estado, em homenagem à memória do maestro CARLOS GOMES, resolve declarar feriado em todas as repartições do Estado o dia de hoje – Palácio do Governo do Pará, 17 de setembro de 1896 – Lauro Sodré.”
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COMENTÁRIO DA DENISE:
NADA FOI PUBLICADO "HOJE" NO JORNAL DE CAMPINAS, DIA DO ANIVERSÁRIO DE MORTE DO MAESTRO, DIA EM QUE APENAS E TÃO SOMENTE A ABAL LHE PRESTARÁ UMA LINDA HOMENAGEM LOGO MAIS À NOITE.
O QUE ME FAZ PENSAR QUE A CIDADE NEM SE LEMBRA DELE, ENTÃO NÃO DEVERÁ USAR SEU NOME PARA INTERESSES PARTICULARES E POLITIQUEIROS, SE TIVER VERGONHA E DECÊNCIA !
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FRASE DA VEZ:
“SE EU MORRER LONGE DO MEU BRASIL, QUERO QUE CUBRAM MEU ESQUIFE COM A BANDEIRA AURI-VERDE DA MINHA PÁTRIA E COM ELA QUERO SER ENTERRADO." (Antonio CARLOS GOMES)
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Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado em 2011
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Muito bem elaborado seu Blog. Mas me confirme uma coisa, o Câncer de CARLOS GOMES FOI NA GARGANTA?
ResponderExcluirObrigada, prof. Luciano !
ResponderExcluirCarlos Gomes morreu de câncer na garganta, sim, professor...
Sejabenvindo !
Recebi por e-mail do prof. Luciano:
ResponderExcluirDenise, muito obrigado pela confirmação. Eu ando meio sem tempo esta semana, mas vou olhar atenciosamente seu blog, pois, pelo que vi ele está recheado de informações interessantes. Já salvei ele em meus favoritos para olhar com mais calma.
Achei seu blog por acaso, pesquisando a morte de Carlos Gomes para o meu blog.
Obrigado.
Eu estou fazendo uma pesquisa sobre o bairro do reduto e gostaria de saber se você sabe em que ponto atual ficaria a casa onde ele faleceu. Acredito ser onde tem um prédio hoje em dia, mas não tenho certeza. Obrigada.
ResponderExcluirJuliana,
ResponderExcluirCarlos Gomes nasceu numa casa que já não existe há muito tempo, graças à inconsciência artística da cidade de Campinas, na Rua Regente Feijó, 1251.
A placa centenária que se encontrasva no lugar onde antes era sua casa e hoje é um prédio horrível, foi roubada há um mes.
Esta é a cidade de Carlos Gomes, uma cidade que não honra seus homens ilustres, não dá mais valor à arte e à cultura e nem teatro tem !
Olá Denise!
ResponderExcluirRecentemente adiquiri um quadro óleo sobre tela assinado Carlos Gomes, e em algumas pesquisas que fiz na internet pude verificar que a assinatura é realmente do Maestro.
Gostaria de saber como posso fazer para confirmar a autenticidade desta obra. Obrigado.
Quem é você ? Seu nome qual é ?
ResponderExcluirOlá Denise, meu nome é Luiz Freitas, sou de Niterói, mas precisamente icaraí.
ResponderExcluirMe desculpe por não ter me identificado antes, caso você prefira posso fazer contato por telefone ou e-mail.
Agradecido.
Luiz, por tudo o que sei sobre meu tio, ele nunca pintou quadros, mesmo porque não tinha paciência...era muito ansioso e inquieto.
ResponderExcluirNão sei como lhe ajudar... entre em contato com o Museu Histórico do Rio, quem sabe eles possam indicar algum perito, sei lá... assinaturas podem ser falsificadas facilmente.
Abraço
Olá Denise!
ResponderExcluirObrigado por sua atenção, e peço desculpas por incomoda-la com minhas perguntas, tenho certeza de que trata- se de um quadro bem antigo, assinad Carlos Gomes, com o simbolo maçônico, e realmente pelos traços quem pintou não tinha como habito fazê-lo.
Vou tentar o museu Histórico do rio, só me tire mais uma duvida você sabe se ele tinha alguma ligação com a cidade de Cabo Frio aqui no RJ. pois pelo que fui informado é uma pintura rettratando as Dunas.
Obrigado.
Obrigado.
Luiz,
ResponderExcluirvocê não me incomoda em nada, absolutamente.
Gostaria mesmo de poder ajudálo.
Nada é impossível... ele não pintava, mas podia brincar, não é ?
Ele ficava muito no Rio, quando vinha para o Brasil... gostava, adorava a natureza, embrenhava-se pelas matas... uma vez comeu umas frutinhas que achou inofensivas e quase se 'estrepou'... teve sorte porque o médico e o remédio estavam perto e ele foi salvo.
Postanto, pode ser... verifique com paciência e ateção... depois vc me diz, ok ?
Boa sorte e estou por aqui...
Concordo em todos os graus com vicê, Denise, quando comentou: "NADA FOI PUBLICADO "HOJE" NO JORNAL DE CAMPINAS, DIA DO ANIVERSÁRIO DE MORTE DO MAESTRO, DIA EM QUE APENAS E TÃO SOMENTE A ABAL LHE PRESTARÁ UMA LINDA HOMENAGEM LOGO MAIS À NOITE.
ResponderExcluirO QUE ME FAZ PENSAR QUE A CIDADE NEM SE LEMBRA DELE, ENTÃO NÃO DEVERÁ USAR SEU NOME PARA INTERESSES PARTICULARES E POLITIQUEIROS, SE TIVER VERGONHA E DECÊNCIA !
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MUITO BEM COLOCADO. Alguns grandes nomes nossos só são usados para politicagens,não para dar-lhes o devido merecimento e projeção internacional!
Prezada Denise:
ResponderExcluirBom dia. Parabéns pelo seu blog, vejo-o agora pela primeira vez. Vou lê-lo mais tarde, com calma e atenção.
Esclareça-me, por favor, uma dúvida, se puder:
Essa casa onde morreu o Maestro Carlos Gomes pertenceu a meus avós maternos. Meu avô era português e minha avô paraense.
Frequentei miudamente essa casa, durante minha infância, onde passei, inclusive, alguns fins de semana.
Há relatos publicados em sítios sociais que a casa foi abandonada logo após a morte do maestro, o que, obviamente, não é verdade, pois eu nasci em 1948.
Você pode oferecer-me alguma informação complementar?
Obs.: 1. Hoje, no local, há dois prédios residenciais. Mas, isso é outra história. 2. Qual o nome completo do Maestro Carlos Gomes?
Obrigado e um grande abraço.
Marcos Klautau
Belém - Pará
mklautau@superig.com.br
marcosklautau@gmail.com
ET: Se quiser alguma coisa de Belém, dê as ordens.