ENTREVISTA
Entrevista polêmica com a sobrinha trineta de CARLOS GOMES, sobre vida do grande maestro e compositor campineiro em duas partes.
PARTE I
PARTE II
CARLOS GOMES foi um idealista. Mesmo depois de três óperas vitoriosas, premiado por duas pátrias, festejado por Verdi e Liszt, ainda insiste em bolsa de estudo de aperfeiçoamento para a Alemanha ou França, confessando-se insatisfeito com sua técnica que considerara mal orientada.
CARLOS GOMES possuía um exagerado senso de responsabilidade por causa dos compromissos assumidos inicialmente com o Imperador, com sua pátria, do triunfo de suas obras e, sobretudo – o que muito o impressionava – pelas esperanças nele depositadas.
Cidade do Rio de Janeiro no século XIX
Quando sentava ao piano, brotava-lhe a inspiração; era sempre assim.
Por volta dos 40 anos, entusiasmara-se também pela Astrologia e lera seguidamente as obras de Flammarion, talvez com o intuito e o desejo de encontrar rapidamente algo que lhe pudesse fornecer um entrecho original de melodrama no plano do astral.
CARLOS GOMES respeitava o culto católico, mas não praticava nada, a não ser tirar o chapéu quando passava por uma igreja. Sua religião era a prática do altruísmo.
Escreveu muito pouca música sacra, porém, suas Ave-Marias, o Kyrie, o Laudamus e suas Missas são de grande elevação espiritual e sentimento místico.
Não era fácil lutar num ambiente movido pelas intrigas de cantores, empresários, editores, diretores de teatro e público, pela acirrada competição com os grandes nomes do melodrama onde reinava então, o maior de todos, Verdi e onde ele, estrangeiro, era um intruso.
Casa em Campinas, onde nasceu CARLOS GOMES, que foi demolida há anos
Entende-se que um homem sujeito a tais pressões fosse vítima de contínuas flutuações de humor e alternasse “o trabalho febril” – como diz Ghislanzoni – “e as indolências sibaríticas de senhor brasileiro… conheço bem o Maestro Gomes! Ele é um trabalhador quando quer e, ao mesmo tempo, um poltrão de marca.”
Nos momentos equilibrados, entregava-se apaixonadamente às suas criações, mantendo-se fechado em seu estúdio dias e dias, nada tomando a não ser café e fumando, fumando muito.
Última casa onde CARLOS GOMES morou, em Milão
Era também muito distraído.
Herdou as feições da mãe, bela cafuza, principalmente o nariz afilado. Do pai, o mau gênio e o talento para a música. Possuía um magnetismo primitivo, uma força rude.
Impossível a quem o conhecesse não ficar preso ao seu encanto natural.
Exagerado na expressão e nos gestos, um errante urbano, para quem os passeios sempre ofereciam prazeres, revelações, lucidez de espírito.
Era um homem muito elegante.
Minha bisavó sempre disse que Carlos Gomes só usava gravata branca, de leve Bretanha, passada a ferro.
Minha bisavó - Alzira - meus 3 filhos e eu
Sua obra é de uma elegância refinada, elaborada com o gosto de um clássico e de uma rara potencialidade emotiva.
Para compor, lia e relia o libreto que lhe davam, não o deixava noite e dia, decorava-o, levava-o consigo a toda parte, a cada instante o consultava, a estória contida no libreto, tomava conta de seu espírito e conversava com sua alma.
Tinha horror à desordem, ao desalinho, a tudo que não estivesse no lugar adequado.
CURIOSIDADES DO MES DE CARLOS GOMES
Segundo a filha Itala:
“Noite e dia, a bandeira nacional tremulava sobre o terraço da mansão, pássaros brasileiros esvoaçavam nos imensos viveiros e grupos de papagaios, araras e saguis enchiam com seus gritos estridentes o jardim onde a infinita paciência do maestro conseguiu obter até bosques de bambu.”
VSTA PARCIAL DE VILA BRASILIA, A CASA DE CARLOS GOMES EM LECCO (acervo da autora)
FRASE DA VEZ:
Na primeira página da partitura de "O GUARANI", está escrito:
“À SUA MAJESTADE D. PEDRO II, IMPERADOR DO BRASIL, HOMENAGEM DE GRATIDÃO DO SÚDITO,
A. CARLOS GOMES"
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Fonte: Meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - ANTONIO CARLOS GOMES - A TRAJETÓRIA DE UM GÊNIO" - a ser publicado em 2011.
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Parabéns, Denise!
ResponderExcluirSempre acrescentando dados novos à biografia do Grande Mestre.
Rogoldoni