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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

HOLOCAUSTO EM FICÇÃO

O Holocausto como fábula
           Yann Martel em 2010. Premiado por A vida de Pi, o autor resolveu tratar na ficção do assassinato de 6 milhões de judeus

                “A cada temporada surge um livro sobre o Holocausto que toca em cheio os corações. Mas, para cada um desses, existem caixotes e mais caixotes de outros que acabam virando material de reciclagem.” A frase, dita por um personagem de Beatriz  Virgílio, resume o risco que cerca este novo livro de Yann Martel. 
                Depois de vencer em 2002 o prestigiado Man Booker Prize com A vida de Pi, o canadense Martel, de 47 anos, decidiu que precisava escrever um livro de ficção sobre o Holocausto, o assassinato de cerca de 6 milhões de judeus pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.  
              “A maioria das obras sobre o tema tenta descrever objetivamente os fatos”, diz Martel, que não é judeu. “Essa abordagem faz com que eventualmente paremos de pensar no Holocausto de forma significativa.”

              Tomado por essa ideia, restavam ao autor dois desafios: transformar sua visão fictícia do Holocausto num romance legível e convencer o leitor da relevância de sua abordagem. Para superar o primeiro desafio, Martel recorreu à autoficção. O livro é protagonizado por um escritor que tenta criar uma obra de ficção sobre o Holocausto. Ele é acometido por um bloqueio criativo e começa a trocar correspondências com um embalsamador. 
                Os dois discutem uma fábula em que Beatriz e Virgílio, personagens da Divina comédia, de Dante, dão nome a uma mula e a um macaco vítimas de torturas. Como narrativa, funciona. O segundo desafio mostrou-se mais fugidio. Em algumas passagens do livro, Martel consegue provocar o sentimento de horror que, segundo ele, os relatos objetivos do Holocausto não seriam mais capazes de evocar. Outras receberam críticas por cortejar a banalidade e a grosseria. Não é o suficiente para condená-lo à reciclagem, mas, ao fim do romance, fica a sensação de que Martel poderia ter trabalhado por mais tempo em sua obsessão.

 CONGELADA

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