A HISTÓRIA DOS DOIS HINOS DE CARLOS GOMES
HINO DE CAMPINAS - 'PROGRESSO'
Letra e Música de Antonio CARLOS GOMES – 1885
Progresso! Progresso!
Seja a nossa divisa.
Progresso! Progresso!
Seja a nossa divisa.
Porvir!
Das Indústrias no enorme Congresso.
Precisamos galhardos agir.
Precisamos galhardos agir.
Das Indústrias no enorme Congresso.
Precisamos galhardos agir.
Precisamos galhardos agir.
Honra ao povo que sabe,
Os louros da glória colher.
E co a alma de luzes
Sedenta, sedenta a luz
Os louros da glória colher.
E co a alma de luzes
Sedenta, sedenta a luz
Do trabalho vai colher!
Honra ao povo que sabe,
Os louros da glória, da glória colher.
Honra ao povo que sabe,
Honra ao povo que sabe,
Os louros da glória, da glória colher.
Honra ao povo que sabe,
Os louros da glória colher
Ao povo... ao povo que sabe
Da glória os louros colher.
Progresso! Progresso!
Ao povo... ao povo que sabe
Da glória os louros colher.
Progresso! Progresso!
Seja a nossa conquista: Porvir!
Progresso !...
ORIGEM DO HINO “PROGRESSO”
Letra e melodia de maestro CARLOS GOMES
Trecho Inicial do Hino 'Progresso'
Hino do município de Campinas foi composto em 1885 e oficializado pela lei municipal nº 7.945, de 27 de junho de 1994.
O Hino “Progresso” foi escrito para a abertura de uma exposição agro-industrial em Campinas.Em 1885, CARLOS GOMES lutava com a falta de dinheiro, com um divórcio sofrido, levando a um custoso processo litigioso, ainda sofria com a morte do filho Mário em 1879 e, além disso, seu sobrinho Paulino, filho de Sant’Anna Gomes, que morava com ele em Milão, morreu em 1883, deixando-o arrasado.
Neste ano recebe uma carta de Campinas, convidando-o para escrever um hino que seria executado na inauguração da 1a. Exposição Regional da cidade, que vivenciava uma fase de crescimento com a riqueza do café e queria com esse evento, exibir seus progressos no setor agrícola e industrial.
Em carta a Torlogo Dauntre, organizador do evento, CARLOS GOMES diz estar honrado com o convite para escrever “algumas notas de música” para a inauguração da Exposição e diz que já havia terminado de compor uma partitura para grande orquestra, coro, banda e fanfarra.
A peça havia sido entregue ao editor Ricordi para que dela fosse extraída uma cópia, que seria enviada ao Brasil.
Diz que havia escrito um Coro Triunfal em forma de hino, dedicado à sua cidade e conclui:“O Tonico de 1836 já está meio velhote, mas o coração do caipira é sempre moço para amar Campinas e o povo de sua terra natal. (...) Aceite, pois, Campinas, do filho ausente, nessas pobres harmonias, as homenagens e as expressões de vivo e sincero amor.”
Embora tenha intitulado a peça como “Coro Triunfal Ao Povo Campineiro”, ela ficou conhecida como “Progresso”, primeira palavra entoada pelo coro.
Não há documentos que comprovem se, ou quanto, ele teria recebido por esse trabalho, mas sabe-se, através de notícia na imprensa, que houve um concerto organizado pela Sociedade Musical CARLOS GOMES em seu benefício no Teatro São Carlos em Campinas no dia 26 de dezembro, que finalizou com “Progresso”.
A primeira audição do hino foi no dia 25 de dezembro de 1885 no palacete onde foi instalada a exposição, no centro de Campinas. O evento não pôde ficar restrito a esse local e se expandiu para o Largo do Rosário, onde foram montadas barracas com as últimas novidades da indústria mecânica e de construção, e um coreto para a banda de música que não poderia faltar em um evento de tal importância.
Segundo o Diário de Campinas de 27 de dezembro de 1885 a cerimônia de inauguração foi presidida pelo ministro da Agricultura, com a presença do presidente da Província de São Paulo e membros do Centro de Lavoura e Comércio do Rio de Janeiro.
O “Progresso” foi executado às treze horas sob a regência de Sant’Anna Gomes e segundo a Gazeta de Campinas, a obra teria envolvido cerca de cento e cinqüenta músicos, amadores e profissionais, sem contar a banda.Terminados os discursos, a peça foi repetida, seguida pelo Hino da Sociedade Artística Beneficente.
Ao se referir à sua obra na carta que enviou a Torlogo Dauntre, CARLOS GOMES teve um acesso de modéstia, utilizando a expressão “pobres harmonias”, o que não é o caso.
Embora seja uma obra de pequena extensão, a trama harmônica é muito bem urdida e equilibrada entre partes instrumentais, solos vocais e divisões do coro.
"HINO ACADÊMICO"
Letra de Bittencourt Sampaio – Música de CARLOS GOMES
Sois da Pátria a esperança fagueira, / Branca nuvem de um róseo porvir;
Do futuro levais a bandeira, / Hasteada na frente a sorrir.
Mocidade, eia avante, eia avante! / Que o Brasil sobre vós ergue a fé;
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!
0 Brasil quer a luz da verdade, / E uma c'roa de louros também,
Só as leis que nos dêem liberdade, / Ao gigante das selvas convém!
Vossa estrela reluz radiante, / Oh! erguei-a vós todos, com fé,
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!
É nas letras que a Pátria querida / Há de um dia, fulgente, se erguer,
Velha Europa, curvada e abatida, / Lá de longe que inveja há de ter!
Nós iremos marchando adiante, /Acenando o futuro com fé,
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!
Orgulhoso o bretão lá dos mares / Respeitar-nos então há de vir,
São direitos sagrados os lares, / Nunca mais ousarão nos ferir.
Auriverde pendão fulgurante / Hasteai-o, mancebos, com fé!
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!
São imensos os rios que temos, / Nossos campos quão vastos que são!
As montanhas tão altas, que vemos, / De um futuro bem alto serão.
0 futuro não vai mui distante, / Já podeis acená-lo com fé,
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!
Nossos pais nos legaram guerreiros, / Honra a glória, virtude e saber;
Nós os filhos de pais brasileiros, / Pela Pátria devemos morrer!
Mocidade eia avante, eia avante! / Que o Brasil sobre vós ergue a fé!
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!
ORIGEM DO "HINO ACADÊMICO"
Partitura original (de punho) de CARLOS GOMES
Os irmãos Gomes chegaram a SP em Julho de 1859, numa época das mais propícias.
Freqüentava a Faculdade de Direito um grupo de estudantes de excepcional talento, cujos nomes mais tarde, ecoariam por todo o país e a cidade se transformava , naquele mês de Julho, num centro de alegria, entusiasmo e novidades.No Teatro do Pátio do Colégio, realizaram-se vários bailes de máscaras. Em terrenos baldios, instalaram-se com seus animais, palhaços, equilibristas e bandas de música 2 circos diferentes, a provocar aplausos.
Todas essas notícias repercutiam, é claro, nas ‘repúblicas’, onde viviam os estudantes como senhores em seus castelos.
As ‘repúblicas’ espalhavam-se por todos os cantos da cidade, umas mais famosas que outras conforme a reputação, o temperamento ou as façanhas de seus moradores.
Sim, porque os rapazes se dedicavam a preparar teses, discursos e artigos, a ler os clássicos ou os juristas, a meditar; outros, de vida boêmia se distraíam com namoros e serenatas.
Na atual Rua Líbero Badaró havia uma república só de mineiros.
Outra, na parte baixa da mesma rua abrigava acadêmicos nordestinos.
Estas 2 repúblicas, sem o querer, entraram para a história, constituindo-se em exemplo e modelo para todas as outras.
A dos mineiros foi onde CARLOS GOMES foi morar ao chegar de Campinas com seu irmão.
A dos nordestinos notabilizava-se por possuir um piano, no qual CARLOS GOMES escreveu suas 2 primeiras composições em SP, o “Hino Acadêmico” e a modinha “Tão longe de mim distante”.
Os estudantes amavam a música, tanto ou mais que a carreira por eles escolhida.
Nos bailes, dançavam-se valsas, polcas, quadrilhas.
Os estudantes não só praticavam a música como escreviam sobre esta arte nos seus jornais e revistas.E CARLOS GOMES chega nessa época feliz.
O ambiente, as circunstâncias, tudo parecia preparado para fazer CARLOS GOMES brilhar, assumir papel de primeiro plano e provocar nele profundos anseios de glória.
O ‘Correio Paulistano’ então, publica a realização de um serão musical na casa de um Sr. Gomide, com a presença de algumas pessoas entendidas de música, onde constavam os nomes dos 3 artistas brasileiros: CARLOS GOMES, Sant’Anna Gomes, e Levy.
Nesta publicação, elogiou-se os irmãos Gomes, que ainda não haviam estreado em público.
Comparou-se Sant’Anna Gomes ao notável violinista português Sá Noronha, famoso na Europa e na América e sobre CARLOS GOMES, autor de peças, entre elas a original ‘Cayumba’ que lhe davam um lugar de honra entre os bons compositores brasileiros.
Tudo estava preparado para a estréia sensacional: elogios, notícias, calor, vibração da cidade.
E o que se esperava ocorreu.
No dia 21 de Julho, CARLOS GOMES, Sant’Anna e Levy se apresentaram no Teatrinho do Pátio do Colégio.
Casa repleta, os estudantes de direito dando a nota com sua presença inteligente, sensível, vibrátil.
No final, segundo o ‘Correio Paulistano’, foi um caloroso entusiasmo, que de todos os ângulos do teatro se manifestou.
Foi provavelmente depois desse concerto, entre os dias 21 e 25 de Julho, que CARLOS GOMES compôs o ‘Hino Acadêmico’.
Todos o procuravam para felicitá-lo.
Bittencourt Sampaio, o poeta sergipano, escreveu-lhe a letra e CARLOS GOMES, ao piano, experimentando harmonias, compôs a música vibrante.
O ‘Hino Acadêmico’, desse modo, representa aquela aspiração por um engrandecimento.
Em 25 de Julho de 1859, o jornal político ‘A Lei’ estampava esta notícia: “Concerto Instrumental – terá lugar na quarta-feira, 27 do corrente, o segundo e último concerto pelos srs. Sant’Anna Gomes, A. Carlos Gomes e Henrique Levy. Consta-nos que a orquestra tocará o Hino que o Sr. A. Carlos Gomes compôs e oereceu à mocidade acadêmica.”
Deduz-se portanto, que o Hino de CARLOS GOMES tenha sido composto antes de 25.
A verdade é que a estréia do ‘Hino Acadêmico’ foi num sábado, 30 de Julho de 1859.
Organizaram os estudantes um grande e variado divertimento, todo em benefício da sociedade ‘Proteção aos Artistas’, contando com a colaboração direta dos 3 artistas e de alguns equilibristas do circo.
O objetivo filantrópico foi atingido.
O concerto rendeu 1:200$000 (um mil e duzentos réis), o que era muito para esse tempo.
Incluía o programa, duas composições de CARLOS GOMES: as ‘Variações sobre o romance Alta Noite”’ e o ‘Hino Acadêmico’, executado pela orquestra, com acompanhamento e coro.
Desse coro, participaram os rapazes da Academia de Direito. A comoção foi geral. O êxito imediato, contagiante, eletrizante.
O ‘Hino Acadêmico’ de CARLOS GOMES soou no teatro como se fosse um clarim de conclamação às fileiras.
Fez eco, que se transmitiu de geração em geração, até chegar puro, imaculado, aos dias agitados de hoje.
Tentaram outros compositores imitá-lo ou superá-lo na preferência dos estudantes.
Furtado Coelho em 1861, Brasílio Itiberê da Cunha em 1870, o maestro Orestes Bimboni em 1871, entre outros, compuseram marchas e hinos dedicados aos acadêmicos.
Em vão ! Jamais conseguiram o que CARLOS GOMES alcançou: inflamar ao extremo, às últimas conseqüências, o generoso coração da mocidade.
Esse concerto trouxe para a vida de CARLOS GOMES, conseqüências poderosas e definitivas. Foi logo após a sua realização, que CARLOS GOMES criou coragem para voar.
Reunido com os estudantes, em meio à vibração geral regada a versos e discursos, ouviu o conselho: “Vai para o Rio de Janeiro !”
Assim, CARLOS GOMES, de improviso, empurrado pelos estudantes e levando várias cartas de recomendação dos próprios estudantes, largou as amarras que o prendiam a uma vida sem possibilidades e foi ao encalço da glória que o esperava de braços abertos.
Uma escalada trabalhosa, cheia de sacrifícios, que o levaria à imortalidade.
Já em Agosto e Setembro de 1859, era o Hino, a pedido, cantado e tocado nas representações do Teatrinho do Pátio do Colégio.
Propagava-se desse modo, como um rastilho, ao ardor viril daquela composição nascida numa república, batizada com a fibra e a paixão da mocidade e destinada a vencer as barreiras do tempo.
E foi assim que CARLOS GOMES cumpriu seu destino: abriu as asas, atravessou mares e continentes, criou obras-primas, cobriu de glórias o nome de sua terra e de sua gente.
Mas deixou em SP – marco zero do seu destino – um facho que arde através das gerações na pira do velho convento franciscano – a protofonia de uma obra grandiosa.
SOLIDÃO É ISSO...
Resgates ...
ResponderExcluirSeu livro deve ser uma delícia de se ler depois dessas postagens interessantíssimas, muito ricas. Tive o privilégiio de, quando jovem, fazer parte de um grupo de corais que cantou o Hino à Campinas (Progresso)com um belo solo da soprano Niza Tank. É um hino muito bonito, harmonioso e intenso bem ao sabor de Carlos Gome4s.
ResponderExcluir