A vida ficou dura para os pinguins
Entre meados dos anos 1970 e meados dos 1980, cerca de metade dos filhotes dos pinguins-de-adélia e dos pinguins-de-barbicha sobrevivia ao primeiro inverno antártico. Hoje, só um em cada dez pinguinzinhos atinge o segundo ano de vida, afirma o biólogo marinho americano Wayne Trivelpiece, do Instituto Oceanográfico Scripps, em La Jolla, na Califórnia. Trivelpiece publicou sua pesquisa na semana passada, na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Science. Trivelpiece monitora há 30 anos as populações dos pinguins-de-adélia e dos pinguins-de-barbicha, que vivem na Antártica ocidental e na Península Antártica. Essas espécies se alimentam quase exclusivamente de krill, um pequeno crustáceo em forma de camarão que existe em abundância nas águas geladas. Estima-se que haja no oceano austral 500 milhões de toneladas de krill. O krill forma cardumes tão densos que em um único metro cúbico de água há 30 mil crustáceos. Logo, não falta krill para alimentar os pinguins. Ou falta?
A FALTA QUE O KRILL FAZ
As baleias não são as únicas a disputar o krill com os pinguins. A indústria pesqueira mundial retira até 200 mil toneladas por ano dos crustáceos, usados como alimento na aquacultura. Resulta que está cada vez mais difícil para os filhotes de pinguim achar krill e sobreviver ao primeiro inverno de vida.
Há um terceiro fator também que pode estar influenciando a quantidade de krill: o aquecimento climático. Em nenhum lugar do planeta o aumento de temperaturas é mais acentuado que nos mares austrais, onde a temperatura média anual oscilou de 5 a 6 graus célsius para cima em 20 anos. O aquecimento reduz a área da camada de água congelada no inverno, com implicação direta na fonte de alimento do krill, o fitoplâncton que cresce colado ao gelo.
Há, portanto, várias razões para explicar a morte de filhotes de pinguins-de-adélia e pinguins-de-barbicha. O fenômeno não é observado entre as demais espécies de pinguins que vivem na Antártica, na América do Sul, na África do Sul e na Austrália. Elas não comem krill. Comem peixe. Nenhuma dessas espécies forma imensas colônias de 2 milhões de aves, como é o caso do pinguim-de-adélia. Não é um despropósito cogitar a possibilidade de que o aumento na mortalidade dos filhotes de pinguins-de-adélia e pinguins-de-barbicha seja um retorno natural ao passado.
Até o século XVIII, antes do início da caça comercial das baleias, elas existiam em números formidáveis e competiam com os pinguins por cada tonelada disponível de krill. Ninguém estudava os pinguins-de-adélia antes de 1940. Mas é possível que eles não formassem colônias tão gigantes, no século XIX, quando havia baleias em grandes números.
IMITANDO O TARZAN
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