''Estou perplexo''
Ex-músico da OSB, violoncelista Antonio Meneses pede posição mais humana da direção do grupo
Nos últimos dias, tenho recebido com preocupação as notícias vindas do Rio de Janeiro sobre a crise na Sinfônica Brasileira. Desde o início do embate entre músicos e direção, colegas e amigos me procuraram pedindo que eu me posicionasse a respeito das audições. Se não o fiz até agora, foi por acreditar que em situações como essa há sempre dois lados a serem ouvidos - e também por ter a esperança de que uma solução conveniente a todos poderia ser obtida, o que parece hoje improvável com a notícia de que a demissão de mais da metade da orquestra está prestes a se tornar realidade.
Durante dois anos, no início da minha carreira, fui músico da Sinfônica Brasileira. Desde aquela época, voltei a me apresentar com o grupo como solista em diversas ocasiões, algumas delas sob a batuta do atual diretor artístico, Roberto Minczuk, a quem procurei em particular, recebendo de volta uma resposta insatisfatória, logo que os conflitos tiveram início. Por tudo isso, me preocupou a dimensão que o caso ganhou, inclusive internacionalmente, passando ao mercado imagem desfavorável sobre o ambiente musical brasileiro.
A Fundação OSB poderia ter buscado uma maneira mais diplomática e humana de lidar com o dilema criado por ela ao impor aos artistas provas de avaliação, com toques de autoritarismo. Elevar o nível da Sinfônica Brasileira é um desejo de todos os músicos e também daqueles que frequentam os concertos, não há dúvida. Mas não vejo como isso pode ser alcançado do dia para a noite, com a demissão de mais de 40 artistas. Por que a pressa, depois de seis anos desta gestão artística? A instituição importante que é a orquestra é muito anterior à atual gestão e sabemos que a OSB continuará existindo. Porém, com um pouco mais de cuidado e civilidade, esse seria um capítulo menos nebuloso da história do conjunto - e daqueles que hoje a dirigem. Afinal, sob que signo se cria uma nova OSB com 40 artistas demitidos?
Estou perplexo, acompanhando a situação constrangedora que colegas e amigos meus como Alceu Reis, David Chew, Michael Bessler e muitos outros artistas estão passando. Vejo esse quadro com tristeza e aflição.
Tenho quatro irmãos músicos de orquestra, dedicados inteiramente aos empregos que têm. Conflitos entre regentes e corpo orquestral são situações comuns.
Eu mesmo testemunhei muitos deles em 40 anos de carreira, em grandes orquestras e em grupos menores. Quando toquei pela segunda vez com o maestro Herbert Von Karajan, por exemplo, a atmosfera na Filarmônica de Berlim já apresentava nuvens negras, era um momento de grande desgaste, com antipatias e piadinhas internas. Mesmo assim, não houve desrespeito público, não houve ameaças, não houve imposição de testes nem humilhação aos músicos. Assim como em qualquer relação humana, altos e baixos acontecem; o que não pode acontecer é agressão e falta de respeito. Um verdadeiro líder segue adiante, criando e mantendo padrão de qualidade apenas com o seu trabalho - que deve ter excelência acima e além de qualquer exigência aos seus subordinados, além, claro, da competência emocional e da empatia para exigir disciplina e guiar um grupo de artistas em direção ao bom desempenho.
O carinho que temos pela Sinfônica Brasileira é imenso. E por isso não paramos de acreditar em uma solução pacífica, que demonstre respeito pelos músicos; uma solução hábil, diplomática e humana a ponto de fazer com que qualquer músico, qualquer solista, possa voltar a tocar com a Sinfônica Brasileira de cabeça erguida, podendo encarar nos olhos seus colegas, sabendo que os seus direitos foram preservados, se não como profissionais, pelo menos como seres humanos. É o que todos nós artistas - e, tenho certeza, também o público - esperamos. E merecemos.
ANTONIO MENESES É VIOLONCELISTA, EX-INTEGRANTE DO TRIO BEAUX-ARTS E PROFESSOR DO CONSERVATÓRIO DE BERNA.
CARTA DO MAESTRO CARLOS PRAZERES SOBRE A SITUAÇÃO DA ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA
OSB
por Carlos Prazeres, domingo, 3 de abril de 2011 às 13:17 FACEBOOK
Até hoje, todos os meus comentários aqui no FB sobre a crise da OSB tinham sido absolutamente discretos, me detive apenas em enviar pensamentos positivos para que todos os lados se entendessem da melhor forma. Assim o fiz, primeiramente por uma questão ética- afinal, trabalho no mesmo ramo da pessoa que se diz responsável por todo este processo- e depois porque, repetindo as sábias palavras do Antonio Meneses, sempre precisamos ouvir os dois lados da situação. Porém o triste e cruel episódio das demissões, além da exposição lamentável da OSB jovem, superou de longe a minha mais pessimista expectativa.O crescimento de uma orquestra, mesmo quando acontece de uma forma justa e legal, é sempre algo polêmico e difícil. Algo que vai, principalmente, encontrar resistência em interesses individuais de uma minoria. Mas quando este crescimento se dá de forma CONSISTENTE, apoiado no diálogo entre músicos e direção, ele se justifica. Infelizmente não posso dizer que seja o caso desta tentativa artificial de crescimento, promovida pela atual direção da FOSB.
Vejo, como músico atuante no cenário carioca, que Petrobras Sinfônica e OSB cresceram muito, uma com a outra, nos últimos tempos. Toquei na OSB por dois anos, assim que cheguei de Berlim, e senti na pele, junto com meus colegas, a dor de, acreditem, até CINCO meses de salário atrasado. À época, nas assembléias, era comum ouvir comparações com a estrutura ágil e enxuta da OPES. Posteriormente chegaram os patrocínios e investimentos (vale lembrar que alguns deles foram captados na gestão anterior, com a participação dos músicos!) a OSB reagiu e a situação se inverteu. A excelente arte dos programas, a qualidade da mídia e principalmente a questão salarial, passaram a ser motivo de cobrança nas assembléias da OPES, gerando uma reação maior também por parte desta última. É aonde quero chegar quando me refiro a CRESCIMENTO CONSISTENTE. É um longo processo, aonde tudo tem que ser estudado com muita calma e serenidade, porém sem se deixar acomodar. É como o atleta, que constrói a estrutura do seu corpo durante anos de exercício, e não o faz, de um dia para o outro, com uma lipoaspiração e o uso de anabolizantes.
Uma orquestra é um reflexo direto de sua sociedade, e o crescimento musical no Brasil deve estar intrinsecamente ligado ao investimento na educação musical. A vinda de músicos estrangeiros é, e sempre foi, muito bem-vinda, mas como comparar a incrível história de estrangeiros que deram a vida pelo nosso país, como Zdenek Svab, Noël Devos e Rudolf Kruppa, só para citar alguns, com esse “estrangeiro” que virá para ganhar os tais R$ 9.000,00, mesmo sabendo que a qualquer momento pode ser demitido pelos motivos mais banais.
Acompanhei durante dois anos o dia a dia da Filarmônica de Berlim. Se engana quem pensa que por lá não existem problemas. Afinal, a orquestra, apesar de soar impecável, é composta de humanos! Gente que, como todos nós, erra, envelhece, pode ter depressão, pode "pirar com a pressão", ficar doente. Não me lembro de ter visto atitudes como estas por lá. Os erros, desde que não fossem uma constante, faziam parte do show. E a premissa de que não podemos comparar, pois “trata-se da Filarmônica de Berlim", não é justificativa, pois eles também precisam competir com as outras dez orquestras da cidade (sim, Berlim tem por volta de onze orquestras, que incluem as excelentes Deutsches Symphonie Orchester e Staatsoper, esta última regida por Daniel Baremboim!), além das outras impecáveis orquestras mundo afora, que incluem Rádio Bávara, Filarmônica de Viena, Concertgebow Amsterdam, Chicago Symphony, entre outras. Por isso, ver a tradição do spalla MICHEL BESSLER, do violinista VIRGÍLIO ARRAES, do tão característico naipe de cellos (que conta com os queridos MÁRCIO MALLARD, DAVID CHEW , além dos irmãos SANTORO), enfim, de todos que ajudaram a construir a IDENTIDADE SONORA DA OSB durante todos estes anos, ser jogada fora por um telegrama, é algo que não tenho palavras para descrever. É triste ver que a orquestra que teve, durante 26 anos,momentos tão gloriosos nas mãos de meu mestre ,ISAAC KARABTCHEVSKY , tenha escolhido caminhos tão tristes...
Theatro Municipal do Rio de Janeiro 09/04/2011
Público, OSB e OSB Jovem colocam o Maestro Roberto Minczuk para fora do palco do TMRJ em protesto a uma série de atitudes arbitrárias, ilegais e ditatoriais. Basta de abuso de poder neste Brasil dos desgovernos!
Os músicos foram saindo do palco e deixaram o Maestro Roberto Minczuk sem poder reger.MAUS PRESSÁGIOS
Nenhum comentário:
Postar um comentário