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domingo, 10 de abril de 2011

CRISE NA OSB


''Estou perplexo''

Ex-músico da OSB, violoncelista Antonio Meneses pede posição mais humana da direção do grupo
 
                Nos últimos dias, tenho recebido com preocupação as notícias vindas  do Rio de Janeiro sobre a crise na Sinfônica Brasileira. Desde o início  do embate entre músicos e direção, colegas e amigos me procuraram  pedindo que eu me posicionasse a respeito das audições. Se não o fiz até  agora, foi por acreditar que em situações como essa há sempre dois  lados a serem ouvidos - e também por ter a esperança de que uma solução  conveniente a todos poderia ser obtida, o que parece hoje improvável com  a notícia de que a demissão de mais da metade da orquestra está prestes  a se tornar realidade.

Durante dois anos, no início da minha carreira, fui músico da  Sinfônica Brasileira. Desde aquela época, voltei a me apresentar com o  grupo como solista em diversas ocasiões, algumas delas sob a batuta do  atual diretor artístico, Roberto Minczuk, a quem procurei em particular,  recebendo de volta uma resposta insatisfatória, logo que os conflitos  tiveram início. Por tudo isso, me preocupou a dimensão que o caso  ganhou, inclusive internacionalmente, passando ao mercado imagem  desfavorável sobre o ambiente musical brasileiro.
A Fundação OSB poderia ter buscado uma maneira mais diplomática e  humana de lidar com o dilema criado por ela ao impor aos artistas provas  de avaliação, com toques de autoritarismo. Elevar o nível da Sinfônica  Brasileira é um desejo de todos os músicos e também daqueles que  frequentam os concertos, não há dúvida. Mas não vejo como isso pode ser  alcançado do dia para a noite, com a demissão de mais de 40 artistas.  Por que a pressa, depois de seis anos desta gestão artística? A  instituição importante que é a orquestra é muito anterior à atual gestão  e sabemos que a OSB continuará existindo. Porém, com um pouco mais de  cuidado e civilidade, esse seria um capítulo menos nebuloso da história  do conjunto - e daqueles que hoje a dirigem. Afinal, sob que signo se  cria uma nova OSB com 40 artistas demitidos?
Estou perplexo, acompanhando a situação constrangedora que colegas e  amigos meus como Alceu Reis, David Chew, Michael Bessler e muitos outros  artistas estão passando. Vejo esse quadro com tristeza e aflição.
Tenho quatro irmãos músicos de orquestra, dedicados inteiramente aos  empregos que têm. Conflitos entre regentes e corpo orquestral são  situações comuns.
Eu mesmo testemunhei muitos deles em 40 anos de carreira, em grandes  orquestras e em grupos menores. Quando toquei pela segunda vez com o  maestro Herbert Von Karajan, por exemplo, a atmosfera na Filarmônica de  Berlim já apresentava nuvens negras, era um momento de grande desgaste,  com antipatias e piadinhas internas. Mesmo assim, não houve desrespeito  público, não houve ameaças, não houve imposição de testes nem humilhação  aos músicos. Assim como em qualquer relação humana, altos e baixos  acontecem; o que não pode acontecer é agressão e falta de respeito. Um  verdadeiro líder segue adiante, criando e mantendo padrão de qualidade  apenas com o seu trabalho - que deve ter excelência acima e além de  qualquer exigência aos seus subordinados, além, claro, da competência  emocional e da empatia para exigir disciplina e guiar um grupo de  artistas em direção ao bom desempenho.
O carinho que temos pela Sinfônica Brasileira é imenso. E por isso  não paramos de acreditar em uma solução pacífica, que demonstre respeito  pelos músicos; uma solução hábil, diplomática e humana a ponto de fazer  com que qualquer músico, qualquer solista, possa voltar a tocar com a  Sinfônica Brasileira de cabeça erguida, podendo encarar nos olhos seus  colegas, sabendo que os seus direitos foram preservados, se não como  profissionais, pelo menos como seres humanos. É o que todos nós artistas  - e, tenho certeza, também o público - esperamos. E merecemos.

ANTONIO MENESES É VIOLONCELISTA, EX-INTEGRANTE DO TRIO BEAUX-ARTS E PROFESSOR DO CONSERVATÓRIO DE BERNA.
CARTA DO MAESTRO CARLOS PRAZERES SOBRE A SITUAÇÃO DA ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA

OSB

por Carlos Prazeres, domingo, 3 de abril de 2011 às 13:17  FACEBOOK
                         Até hoje, todos os meus comentários aqui no FB sobre a crise da OSB  tinham sido absolutamente discretos, me detive apenas em enviar  pensamentos positivos para que todos os lados se entendessem da melhor  forma. Assim o fiz, primeiramente por uma questão ética- afinal,  trabalho no mesmo ramo da pessoa que se diz responsável por todo este  processo- e depois porque, repetindo as sábias palavras do Antonio  Meneses, sempre precisamos ouvir os dois lados da situação. Porém o  triste e cruel episódio das demissões, além da exposição lamentável da  OSB jovem, superou de longe a minha mais pessimista expectativa.
O crescimento de uma orquestra, mesmo quando acontece de uma forma  justa e legal, é sempre algo polêmico e difícil. Algo que vai,  principalmente, encontrar resistência em interesses individuais de uma  minoria. Mas quando este crescimento se dá de forma CONSISTENTE, apoiado  no diálogo entre músicos e direção, ele se justifica. Infelizmente não  posso dizer que seja o caso desta tentativa artificial de crescimento,  promovida pela atual direção da FOSB.
Vejo, como músico atuante no cenário carioca, que Petrobras Sinfônica  e OSB cresceram muito, uma com a outra, nos últimos tempos. Toquei na  OSB por dois anos, assim que cheguei de Berlim, e senti na pele, junto  com meus colegas, a dor de, acreditem, até CINCO meses de salário  atrasado. À época, nas assembléias, era comum ouvir comparações com a  estrutura ágil e enxuta da OPES. Posteriormente chegaram os patrocínios e  investimentos (vale lembrar que alguns deles foram captados na gestão  anterior, com a participação dos músicos!) a OSB reagiu e a situação se  inverteu. A excelente arte dos programas, a qualidade da mídia e  principalmente a questão salarial, passaram a ser motivo de cobrança nas  assembléias da OPES, gerando uma reação maior também por parte desta  última. É aonde quero chegar quando me refiro a CRESCIMENTO CONSISTENTE.  É um longo processo, aonde tudo tem que ser estudado com muita calma e  serenidade, porém sem  se deixar acomodar. É como o atleta, que constrói a estrutura do seu  corpo durante anos de exercício, e não o faz, de um dia para o outro,  com uma lipoaspiração e o uso de anabolizantes.
Uma orquestra é um reflexo direto de sua sociedade, e o crescimento  musical no Brasil deve estar intrinsecamente ligado ao investimento na  educação musical. A vinda de músicos estrangeiros é, e sempre foi, muito  bem-vinda, mas como comparar a incrível história de estrangeiros que  deram a vida pelo nosso país, como Zdenek Svab, Noël Devos e Rudolf  Kruppa, só para citar alguns, com esse “estrangeiro” que virá para  ganhar os tais R$ 9.000,00, mesmo sabendo que a qualquer momento pode  ser demitido pelos motivos mais banais.
Acompanhei durante dois anos o dia a dia da  Filarmônica de Berlim. Se engana quem pensa que por lá não existem  problemas. Afinal, a orquestra, apesar de soar impecável, é composta de  humanos! Gente que, como todos nós, erra, envelhece, pode ter depressão,  pode "pirar com a pressão", ficar doente. Não me lembro de ter visto  atitudes como estas por lá. Os erros, desde que não fossem uma  constante, faziam parte do show. E a premissa de que não podemos  comparar, pois “trata-se da Filarmônica de Berlim", não é justificativa,  pois eles também precisam competir com as outras dez orquestras da  cidade (sim, Berlim tem por volta de onze orquestras, que incluem as  excelentes Deutsches Symphonie Orchester e Staatsoper, esta última  regida por Daniel Baremboim!), além das outras impecáveis orquestras  mundo afora, que incluem Rádio Bávara, Filarmônica de Viena,  Concertgebow Amsterdam, Chicago Symphony, entre outras. Por  isso, ver a tradição do spalla MICHEL BESSLER, do violinista VIRGÍLIO  ARRAES, do tão característico naipe de cellos (que conta com os queridos  MÁRCIO MALLARD, DAVID CHEW , além dos irmãos SANTORO), enfim, de todos  que ajudaram a construir a IDENTIDADE SONORA DA OSB durante todos estes  anos, ser jogada fora por um telegrama, é algo que não tenho palavras  para descrever. É triste ver que a orquestra que teve, durante 26  anos,momentos tão gloriosos nas mãos de meu mestre ,ISAAC KARABTCHEVSKY ,  tenha escolhido caminhos tão tristes...
Theatro Municipal do Rio de Janeiro 09/04/2011
Público, OSB e OSB Jovem colocam o Maestro Roberto Minczuk para fora do palco do TMRJ em protesto a uma série de atitudes arbitrárias, ilegais e ditatoriais. Basta de abuso de poder neste Brasil dos desgovernos!
Os músicos foram saindo do palco e deixaram o Maestro Roberto Minczuk sem poder reger.
MAUS PRESSÁGIOS

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