Astro da ópera e da Broadway, o brasileiro Paulo Szot diz que não pisa no Municipal de São Paulo, critica OSB e vê poucas chances de cantar no país
RIO - Astro internacional da ópera e vencedor em 2008 do prêmio Tony por sua atuação em "South Pacific", na Broadway, o barítono Paulo Szot recusou compromissos e batalhou muito para, após três anos, conseguir dois meses de férias para rever família e amigos no Brasil. Mas não pôde relaxar completamente.
Viu seu irmão, com 17 anos de casa, ser demitido com vários outros colegas do Coral Paulistano, vinculado ao Teatro Municipal de São Paulo; está acompanhando a grande crise da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), com a qual já cantou; e constatou que o panorama da ópera do país continua pouco propício para que ele volte a cantar aqui.
O diretor do Municipal paulistano, Abel Rocha, lhe propôs que apresentasse no teatro "O nariz", ópera de Shostakovich que ele estreou em janeiro de 2010 em Nova York, tornando-se o primeiro cantor brasileiro a se apresentar no legendário Metropolitan Opera House (Bidu Sayão foi a primeira cantora, em 1937). Mas o convite ocorreu simultaneamente à demissão de Jan Szot, em março, pelo regente Tiago Pinheiro.
- Enquanto esse senhor (Pinheiro) estiver no teatro, eu não piso lá. É algo pessoal mesmo, mas me sinto no direito de ter essa atitude. Meu irmão é melhor no solfejo do que eu, poderia estar em qualquer coral do mundo, a demissão foi injusta. E outros foram demitidos porque o maestro quer mudar o perfil de um coral que não pertence a ele, mas à cidade - afirma Szot (pronuncia-se xót), de 41 anos.
O GLOBO pediu uma resposta ao Municipal, mas a direção não comentou o assunto até o fechamento desta edição. O barítono também não se diz satisfeito com as 32 demissões de músicos realizadas pela direção da OSB e pelo regente Roberto Minczuk, idealizador das avaliações individuais que revoltaram integrantes da orquestra.
- Não faz sentido chamar para novos testes músicos que estão há muito tempo na orquestra. É surreal. E as audições para contratar músicos estrangeiros são um desestímulo aos nacionais. Para que as novas gerações vão estudar, então? - pergunta.
Empurrão para o exterior
Szot começou a fazer testes no exterior em 2000, depois de, segundo conta, enfrentar muitos cancelamentos de óperas e temer pela sua subsistência, pois largara o emprego no Municipal de São Paulo para tentar a carreira solo. Observando a situação hoje, diz que nada mudou, o que o leva a estimular colegas a também tentarem o exterior, além de descrer de que possa participar de uma produção nacional:
- Os dois Municipais (de Rio e São Paulo) chegaram a ficar fechados ao mesmo tempo. Como um artista pode viver assim? E as datas de óperas no Brasil são marcadas muito em cima, é difícil para mim.
A agenda de Szot, filho de poloneses, está lotada até 2014. Entre as óperas confirmadas estão "Manon", de Jules Massenet, com estreia marcada para 7 de abril do próximo ano no Metropolitan. O brasileiro interpretará Lescaut e poderá ser visto por seus compatriotas: a produção será a última das 11 da temporada 2011-2012 que passarão em cinemas nacionais dentro do projeto Met HD Live. Atualmente, as óperas encenadas em Nova York são transmitidas para 46 países. No Brasil, onde são exibidas desde 2009 num projeto da produtora Mobz, já venderam 150 mil ingressos.
- É muito importante mostrar o trabalho do Paulo Szot aqui, onde ele é pouco conhecido. É uma figura internacional que ainda merece mais visibilidade no Brasil - diz Fábio Lima, da Mobz.
- O bom de as óperas passarem no cinema é que a relação é menos formal. Se o espectador não gostar, pode ir embora - aponta Szot.
Quando corria no calçadão de Copacabana, durante suas férias, ele podia notar um ou outro olhar curioso de turistas, possivelmente americanos. Comoção por aqui talvez só em Ribeirão Pires, a cidade paulista onde nasceu e vivem seus pais. Em Nova York, o reconhecimento se dá nas lojas, nas ruas, ainda mais se próximas ao Lincoln Center, o grande conjunto cultural onde ficam o Metropolitan Opera e outros teatros em que Szot se apresentou.
Em 2010, era possível, na mesma mirada, ver o rosto do brasileiro no cartaz de "O nariz" e no de "South Pacific", o musical de 1949 com canções de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II e cuja remontagem valeu a Szot o Tony e, também, o Drama Desk Award. Foram dois anos e meio em cena. Em agosto, ele ainda faz duas semanas em Londres.
- Se não fosse o "South Pacific", demoraria muito mais para eu chegar ao Met. Foi importante e muito prazeroso, pois eu sempre gostei de musicais. Aprendi também a usar a voz com microfone, pois na ópera é sempre a plenos pulmões - conta ele, que acabou não acertando as bases financeiras para participar da não muito bem-sucedida versão teatral de "Mulheres à beira de um ataque de nervos", o filme de Pedro Almodóvar.
Show com músicas populares
Em maio, Szot cantará clássicos dos musicais americanos numa apresentação com a soprano Deborah Voight. E, nas brechas da agenda, continuará mostrando seu show "An evening with Paulo Szot", no qual interpreta canções populares de que gosta, inclusive brasileiras.
- Somos apenas eu e um trio, seria mais viável de trazer para o Brasil. Mas, na verdade, só há uma brecha na agenda para setembro de 2012 - diz ele, que não tem, entre seus quatro agentes, nenhum dedicado a emplacá-lo em Hollywood. - Seria um bônus, mas não é um sonho.
ENCONTRO INEVITÁVEL
maravilhoso!!! ivy szot
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