Telha de Vidro
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA...A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz doa dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você na experimenta?
A moça foi tão vem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
Raquel de Queiróz é daquelas escritoras, além de tradutora, poeta, jornalista, com uma vida "grávida" e fecunda, que permeia a prosa com o poema, da forma mais delicada que conheço. Seu último trabalho, "Memorial de Maria Moura", tão bem colocado na mini série da Globo, é exatamente isso. Um poema romanceado. Sua personagem principal, Maria Moura, é exatamente isso. Uma forma humana expressada em poesia. Na aparência dura e rústica, a flor intocada dos defeitos dos homens. Telha de vidro é outro poema quase em forma de crônica. Uma jóia delicada. Não vejo seus trabalhos tão divulgados. Alunos de hoje não a conhecem, nem a sua obra. Alunos de hoje carecem de sensibilidade e compreensão para entendê-la. Pena! Perde-se muito! Liliana
ResponderExcluirPerde-se tudo...
ResponderExcluirTalvez seja uma saída!
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