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sábado, 8 de janeiro de 2011

O ESCRITOR QUE FAZ CHORAR

Nicholas Sparks: "Sei exatamente quando o leitor vai chorar"
O autor conta segredos de seus livros lacrimejantes e diz que quer ser lembrado para sempre
DANILO VENTICINQUE

QUEM É

Nasceu em Nebraska, nos Estados Unidos, em 1965. É católico   praticante e pai de cinco filhos. Dedica-se aos livros e à filantropia desde 1996.

O QUE FEZ

Trabalhou como garçom e vendedor antes de publicar seu   primeiro romance, Diário de uma paixão. Seis de seus   livros foram adaptados para o cinema, entre eles Querido John e Um  amor para recordar.

O QUE PUBLICOU

A última canção (2009), Querido   John (2007), 
O milagre (2005), Diário   de uma paixão (1996) 
e outros 13 livros.
   
Nos livros de Nicholas Sparks, as palavras são cuidadosamente escolhidas para provocar lágrimas – de tristeza para os leitores e de felicidade para o autor. Com suas dramáticas histórias de amor e lições de vida, o americano de 44 anos conquistou multidões de fãs e tornou-se um dos autores mais bem-sucedidos do mundo. De seus 17 romances, seis já foram adaptados para o cinema e mais dois deverão chegar às telas nos próximos anos. O romantismo também conquistou o Brasil: em 2010, seus livros venderam mais de 600 mil exemplares, o suficiente para colocá-lo entre os campeões de vendas no país. No final de dezembro, ele tinha quatro livros na lista de mais vendidos de ÉPOCA. Mas continua em busca da história perfeita.
 1  Muitos autores passam a vida inteira perseguindo o sucesso. Depois de ver seu primeiro livro se tornar um best-seller, o senhor passou a perseguir o quê? 
 
Nicholas Sparks – O que me move é o desejo de escrever algo melhor que tudo o que já escrevi. É uma motivação interna para melhorar. Eu funciono dessa maneira em quase todas as áreas de minha vida: tenho o desejo constante de ser um pai melhor, um marido melhor e uma pessoa melhor. O mesmo vale para meu trabalho. Quero escrever uma história que todos pensem que é a melhor de todos os tempos.


2  O que uma história precisa ter para concorrer a esse título?
 
Sparks – Acredito que o primeiro objetivo, além de envolver o leitor, é escrever algo que seja lembrado. Quando uma história é muito boa, os personagens e seus conflitos ficam na memória por muito tempo; talvez para sempre. Se eu disser a palavra “Cinderela”, é inevitável que você desenhe toda a história em sua cabeça e se lembre dos personagens, das situações, do sentimento. É algo que foi escrito há séculos, e basta dizer o título para evocar todas essas lembranças. Eu tento escrever histórias assim.

3  Qual é o segredo para escrever uma história inesquecível?
 
Sparks – As pessoas querem que uma história seja interessante e original, mas que também mantenha certa universalidade – que seja algo que possa acontecer com elas ou talvez com amigos e parentes. É difícil fazer essas três coisas ao mesmo tempo. Se eu escrever sobre uma escola de magia ou sobre uma invasão de dinossauros, estarei fazendo algo original e interessante, mas não muito universal. Se eu escrever uma história romântica, posso ser universal e interessante, mas vai faltar originalidade.

4  Muitos críticos enquadram seus livros na categoria dos romances românticos. O senhor discorda? 
 
Sparks – Não, não. Esses romances têm sempre o mesmo tema, a mesma estrutura. Começam com dois amantes em conflito e terminam com um casal feliz para sempre. Meus livros não são assim. O que escrevo são histórias de amor: é uma tradição que vem desde Shakespeare, de Jane Austen. Romeu e Julieta não é um romance romântico. O que meus livros buscam é conduzir o leitor por todas as emoções da vida: amor, raiva, traição, tristeza. Quando o leitor termina um de meus livros, quero que ele tenha vivido uma vida inteira entre as duas capas. O maior desafio de um escritor é transmitir um sentimento sem manipular o leitor; ser dramático sem ser melodramático. É um desafio enorme, mas muito recompensador.

6  Suas histórias são famosas por emocionar os leitores. O senhor recebe muitas mensagens de fãs sobre seus livros? 
 
Sparks – Os leitores sempre me dizem quanto gostaram dos livros e quanto os personagens e histórias parecem reais. Alguns citam livros específicos: Querido John é muito tocante para as mulheres ou filhas de militares, porque são histórias que fazem parte da vida delas. Elas sabem o que é amar à distância e quão importante uma carta pode ser. Eu me lembro de uma tarde de autógrafos em que uma senhora entrou na fila vestida de preto, com os olhos lacrimejando. Perguntei o que estava acontecendo, e ela me disse que seu marido havia morrido naquela manhã. Minha primeira reação foi perguntar o que ela estava fazendo ali. Ela me disse que queria ler um trecho de um de meus livros no velório e enterrá-lo junto com seu marido, porque a história era muito importante na vida dos dois. Fiquei sem palavras. É uma história maravilhosa, justamente porque é tão real.

7  Essa devoção dos fãs o comove? 
 
Sparks – Eu me sinto honrado ao ver que as pessoas leem meus livros, vão aos eventos e gastam horas escrevendo cartas para mim. Sou muito tocado por isso. É uma das melhores coisas que um leitor pode fazer por um escritor. Escrever é muito desafiador. É difícil criar histórias e encontrar as melhores frases para expressar uma emoção; tudo isso exige muito esforço. Eu poderia dizer que nem gosto tanto assim de escrever, por todas essas dificuldades. Quando estou trabalhando em um romance, escrevo cinco horas por dia, seis dias por semana – e quando não estou escrevendo estou pensando no que vou escrever.

8  O senhor fala sobre a escrita como se fosse um processo quase industrial. Seus textos não o emocionam? 
 
Sparks – Às vezes, sim. Mas é um processo muito árduo. Normalmente escrevo um parágrafo e logo percebo se ele está certo ou se está errado. E nem sempre sei por que está errado. Aí vem a fase de edição: começo a mudar a ordem, apagar trechos e trocar palavras, até que percebo que está certo. Quando dá certo, me emociono.




10  É uma emoção genuína ou só alívio por ter acertado? 
 
Sparks – As duas coisas (risos). Há livros que me emocionam mais que os outros. Meu quarto romance, O resgate, conta a história de uma mulher cujo filho tem autismo. Tenho um filho como ele, e a personagem enfrenta as mesmas coisas que eu estava enfrentando na vida. Os sentimentos dela eram os meus. O amor dela era o meu amor, e a dor dela era igual a minha.

11  É possível prever o trecho exato em que um leitor vai se emocionar com um livro? 
 
Sparks – Eu sempre sei exatamente quando o leitor vai começar a chorar. Consigo prever a página, o parágrafo. Não sei explicar como, é algo que simplesmente sinto. E sei que dá certo.

12  Em sua vida pessoal, o senhor é conhecido por suas demonstrações de fé. A religião interfere muito em seus romances? 
 
Sparks – A fé não muda muito minha maneira de escrever. Eu só evito palavras de baixo calão, por exemplo. Fora isso, a religião interfere um pouco nos temas que abordo em meus livros. Eu me recuso a escrever sobre adultério.

13  Deve ser um tema difícil de evitar... 
 
Sparks – É difícil mesmo. Toda história de amor precisa de um conflito, e os escritores adoram o adultério porque é o mais fácil deles. Duas pessoas se amam, mas não podem ficar juntas porque... uma delas é casada. Quase todos os romances românticos e filmes de Hollywood se enquadram aí. Tenho de procurar outros conflitos. Pode-se dizer que minha fé me obriga a ser um escritor melhor e mais original.

14  Em Querido John, um de seus maiores sucessos, as cartas têm um papel central. O livro foi escrito em 2007, quando elas já tinham saído de moda. A tecnologia atrapalha o romantismo? 
 
Sparks – É, se Querido John fosse sobre tuites ou mensagens no Facebook, não iria funcionar tão bem. Nada como uma boa e velha carta (risos). Talvez esse tenha sido um dos últimos livros sobre cartas de amor. Mas não acho que a tecnologia seja uma ameaça. Ela muda a maneira como as pessoas interagem, mas não muda as pessoas. É por isso que histórias como Romeu e Julieta ainda emocionam. Uma adolescente pode gostar de Querido John mesmo que nunca tenha lido uma carta. As pessoas ainda sabem o que é amor, o que é sexo e qual é a diferença entre os dois. Dizem que os adolescentes só pensam em sexo, mas, se você perguntar a um deles se ele quer se apaixonar, ele lhe dirá que sim, claro. E que precisa encontrar a pessoa certa. Era assim em 1910, em 1810, em 1710. A cultura pode mudar, mas nós evoluímos muito mais lentamente.

15  Muitos autores passam a vida inteira perseguindo o sucesso. Depois de ver seu primeiro livro se tornar um best-seller, o senhor passou a perseguir o quê? 
 
Nicholas Sparks – O que me move é o desejo de escrever algo melhor que tudo o que já escrevi. É uma motivação interna para melhorar. Eu funciono dessa maneira em quase todas as áreas de minha vida: tenho o desejo constante de ser um pai melhor, um marido melhor e uma pessoa melhor. O mesmo vale para meu trabalho. Quero escrever uma história que todos pensem que é a melhor de todos os tempos.


16  O que uma história precisa ter para concorrer a esse título?
 
Sparks – Acredito que o primeiro objetivo, além de envolver o leitor, é escrever algo que seja lembrado. Quando uma história é muito boa, os personagens e seus conflitos ficam na memória por muito tempo; talvez para sempre. Se eu disser a palavra “Cinderela”, é inevitável que você desenhe toda a história em sua cabeça e se lembre dos personagens, das situações, do sentimento. É algo que foi escrito há séculos, e basta dizer o título para evocar todas essas lembranças. Eu tento escrever histórias assim.

17  Qual é o segredo para escrever uma história inesquecível?
 
Sparks – As pessoas querem que uma história seja interessante e original, mas que também mantenha certa universalidade – que seja algo que possa acontecer com elas ou talvez com amigos e parentes. É difícil fazer essas três coisas ao mesmo tempo. Se eu escrever sobre uma escola de magia ou sobre uma invasão de dinossauros, estarei fazendo algo original e interessante, mas não muito universal. Se eu escrever uma história romântica, posso ser universal e interessante, mas vai faltar originalidade.

18  Muitos críticos enquadram seus livros na categoria dos romances românticos. O senhor discorda? 
 
Sparks – Não, não. Esses romances têm sempre o mesmo tema, a mesma estrutura. Começam com dois amantes em conflito e terminam com um casal feliz para sempre. Meus livros não são assim. O que escrevo são histórias de amor: é uma tradição que vem desde Shakespeare, de Jane Austen. Romeu e Julieta não é um romance romântico. O que meus livros buscam é conduzir o leitor por todas as emoções da vida: amor, raiva, traição, tristeza. Quando o leitor termina um de meus livros, quero que ele tenha vivido uma vida inteira entre as duas capas. O maior desafio de um escritor é transmitir um sentimento sem manipular o leitor; ser dramático sem ser melodramático. É um desafio enorme, mas muito recompensador.

20  Suas histórias são famosas por emocionar os leitores. O senhor recebe muitas mensagens de fãs sobre seus livros? 
 
Sparks – Os leitores sempre me dizem quanto gostaram dos livros e quanto os personagens e histórias parecem reais. Alguns citam livros específicos: Querido John é muito tocante para as mulheres ou filhas de militares, porque são histórias que fazem parte da vida delas. Elas sabem o que é amar à distância e quão importante uma carta pode ser. Eu me lembro de uma tarde de autógrafos em que uma senhora entrou na fila vestida de preto, com os olhos lacrimejando. Perguntei o que estava acontecendo, e ela me disse que seu marido havia morrido naquela manhã. Minha primeira reação foi perguntar o que ela estava fazendo ali. Ela me disse que queria ler um trecho de um de meus livros no velório e enterrá-lo junto com seu marido, porque a história era muito importante na vida dos dois. Fiquei sem palavras. É uma história maravilhosa, justamente porque é tão real.

21  Essa devoção dos fãs o comove? 
 
Sparks – Eu me sinto honrado ao ver que as pessoas leem meus livros, vão aos eventos e gastam horas escrevendo cartas para mim. Sou muito tocado por isso. É uma das melhores coisas que um leitor pode fazer por um escritor. Escrever é muito desafiador. É difícil criar histórias e encontrar as melhores frases para expressar uma emoção; tudo isso exige muito esforço. Eu poderia dizer que nem gosto tanto assim de escrever, por todas essas dificuldades. Quando estou trabalhando em um romance, escrevo cinco horas por dia, seis dias por semana – e quando não estou escrevendo estou pensando no que vou escrever.

22  O senhor fala sobre a escrita como se fosse um processo quase industrial. Seus textos não o emocionam? 
 
Sparks – Às vezes, sim. Mas é um processo muito árduo. Normalmente escrevo um parágrafo e logo percebo se ele está certo ou se está errado. E nem sempre sei por que está errado. Aí vem a fase de edição: começo a mudar a ordem, apagar trechos e trocar palavras, até que percebo que está certo. Quando dá certo, me emociono.

22  É uma emoção genuína ou só alívio por ter acertado? 
 
Sparks – As duas coisas (risos). Há livros que me emocionam mais que os outros. Meu quarto romance, O resgate, conta a história de uma mulher cujo filho tem autismo. Tenho um filho como ele, e a personagem enfrenta as mesmas coisas que eu estava enfrentando na vida. Os sentimentos dela eram os meus. O amor dela era o meu amor, e a dor dela era igual a minha.


23  É possível prever o trecho exato em que um leitor vai se emocionar com um livro? 
 
Sparks – Eu sempre sei exatamente quando o leitor vai começar a chorar. Consigo prever a página, o parágrafo. Não sei explicar como, é algo que simplesmente sinto. E sei que dá certo.

24  Em sua vida pessoal, o senhor é conhecido por suas demonstrações de fé. A religião interfere muito em seus romances? 
 
Sparks – A fé não muda muito minha maneira de escrever. Eu só evito palavras de baixo calão, por exemplo. Fora isso, a religião interfere um pouco nos temas que abordo em meus livros. Eu me recuso a escrever sobre adultério.

25  Deve ser um tema difícil de evitar... 
 
Sparks – É difícil mesmo. Toda história de amor precisa de um conflito, e os escritores adoram o adultério porque é o mais fácil deles. Duas pessoas se amam, mas não podem ficar juntas porque... uma delas é casada. Quase todos os romances românticos e filmes de Hollywood se enquadram aí. Tenho de procurar outros conflitos. Pode-se dizer que minha fé me obriga a ser um escritor melhor e mais original.

26  Em Querido John, um de seus maiores sucessos, as cartas têm um papel central. O livro foi escrito em 2007, quando elas já tinham saído de moda. A tecnologia atrapalha o romantismo? 
 
Sparks – É, se Querido John fosse sobre tuites ou mensagens no Facebook, não iria funcionar tão bem. Nada como uma boa e velha carta (risos). Talvez esse tenha sido um dos últimos livros sobre cartas de amor. Mas não acho que a tecnologia seja uma ameaça. Ela muda a maneira como as pessoas interagem, mas não muda as pessoas. É por isso que histórias como Romeu e Julieta ainda emocionam. Uma adolescente pode gostar de Querido John mesmo que nunca tenha lido uma carta. As pessoas ainda sabem o que é amor, o que é sexo e qual é a diferença entre os dois. Dizem que os adolescentes só pensam em sexo, mas, se você perguntar a um deles se ele quer se apaixonar, ele lhe dirá que sim, claro. E que precisa encontrar a pessoa certa. Era assim em 1910, em 1810, em 1710. A cultura pode mudar, mas nós evoluímos muito mais lentamente.

BEIJO DOS OPOSTOS
 

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