Guilherme de Almeida (dedicada à minha amiga-poeta-escritora - Arita Pettená, grande admiradora do poeta)
Poetas estrábicos - um olho em Londres, outro em São Paulo - têm cantado esta cidade em toda a gama do cinzento. Vêem cinza neste céu de redoma que guarda a fuligem dos bairros trabalhadores, cinza nesta garoa boêmia, cinza nestes asfaltos e nestas pedras, cinza nestes telhados de ardósia, cinza nestes cérebros tristes. Cinza: côr do tédio, côr do spleen. E concluem: São Paulo é melancólico. É Bugres, em cujos canais de nenufares doentes Rodembach cantou e morreu como um cisne... Mas - ah! - o ponto de vista desses Jeremias daltônicos do Parnaso é baixo demais para estas colinas históricas espetadas de fura-céus. Pégaso, que eles cavalgam quando querem descortinar, julgar e lamentar, está velho e pesado: o seu vôo parnasiano não passa da primeira cornija de granito da catedral gótica... Se, em vez do cansado Bucéfalo alado, tivessem a coragem e o espírito de domar um avião, e, principalmente, se não fossem assim tão vesgos, ao olharem, lá de cima, de uma altura suficientemente moderna, a sua cidade cá embaixo, de certo mudariam de opinião. E se possível a um ser tímido e raquítico ficar alegre a 800 metros de altura, teriam os bons hipocondríacos um sorriso claro de satisfação. Curados do seu daltonismo e da sua neurastenia, ficariam sabendo que São Paulo não é cinzento: São Paulo é vermelho. De um vermelho fosco de tijolo. A cidade que constrói uma casa de duas em duas horas, a cidade que se estende e se avoluma e sobe, num record assombroso, a capital da terra roxa, veste, para os olhos limpos e entendidos que sabem ver, uma “toilette” que Lanvin ou Vionnet descreveriam assim: “Vestido de esporte em Jersey ‘brique dégradé’, cinco tons...” “Brique” - cor de construção. Cor dos cubos de terra cosida que se apinham, das telhas acolhedoras que se imbricam, dos vergões que o progresso abre nas glebas úteis, da poeira que erguem na estrada as modernas bandeiras de tratores e caminhões... Cor ativa do trabalho, cor alegre de construção. Cor com que o sol edifica o dia e fabrica a noite. Tijolo - cor de São Paulo... CONTRASTES
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Coisas de megalópoles!
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