Coleção CARLOS GOMES concorre a título da Unesco
RIO - Ao declinar do convite de produzir o Hino Nacional brasileiro,
logo após a proclamação da República, o maestro ANTONIO CARLOS GOMES
confirmou lealdade ao ex-imperador dom Pedro II e fechou diversas portas
diante de si. Morreria poucos anos mais tarde, pobre, no Pará. O legado
do criador da ópera “O Guarani”, no entanto, continua vivo e agora pode
ser diplomado pela Unesco como um registro nacional do Programa Memória
do Mundo, equivalente ao título de Patrimônio da Humanidade concedido a
obras arquitetônicas.
A candidatura foi enviada à entidade pelo Museu Imperial de
Petrópolis, que reuniu seus 285 documentos referentes ao maestro. O
acervo, doado pela filha do músico, Ítala Gomes de Carvalho, em 1946 e
1950, inclui fotografias, pinturas, partituras, correspondências, poemas
e periódicos. Muitos documentos levam a assinatura de outros
importantes nomes da época, como os pintores Décio Villares e Victor
Meirelles e o escritor Machado de Assis, que interpretam e homenageiam o
maestro.
CASA ONDE MORREU CARLOS GOMES EM BÉLEM
Foram destacados no dossiê de candidatura como
especialmente relevantes os sete cenários da ópera “O Guarani”, pintados
pelo cenógrafo italiano Carlo Ferrario; um álbum com homenagens e
interpretações de personalidades da época à obra de Carlos Gomes; e o
Hino do Primeiro Centenário da Independência Americana, encomendado por
dom Pedro II ao maestro em 1876.
CARLOS GOMES foi o maior
compositor de música erudita que o país já teve e foi, assim como dom
Pedro II, um observador privilegiado do século XIX. Ele colocou um
Brasil completamente desconhecido na mídia da época. O reconhecimento da
Unesco traz visibilidade ao acervo e nos obriga a torná-lo ainda mais
acessível. Hoje, toda essa documentação já está digitalizada e
disponível para consulta no site do museu — revelou Maurício Vicente
Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial.
Registros de viagens de dom Pedro II já reconhecidos
O
título de registro nacional pleiteado pelo Museu Imperial para o acervo
de CARLOS GOMES já foi concedido, em 2010, para outra coleção da
instituição: os registros referentes às viagens de dom Pedro II, que
agora concorrem ao registro internacional do programa. Os dois
resultados serão divulgados em setembro.
Até lá, o diretor da
instituição, Maurício Vicente Ferreira Júnior, promete, entre as ações
de divulgação do acervo, a execução do Hino do Primeiro Centenário da
Independência Americana por uma orquestra convidada.
PARTITURA MANUSCRITA
A carreira de
CARLOS GOMES deslanchou após o maestro ganhar medalha de ouro em concurso de música. Já na Europa, criou a ópera “O Guarani”, apresentada pela
primeira vez no Teatro Scala de Milão, em 1870. A música é hoje tema do
programa “A voz do Brasil”. “Condor”, a última ópera de CARLOS GOMES,
também obteve estrondoso sucesso.
Com o passar do tempo, CARLOS GOMES começa a ser visto como um
imigrante que estava tirando o lugar dos italianos. Já sem muito
dinheiro, ele vende os direitos autorais de suas obras e propriedades.
Acaba retornando ao Brasil para assumir a diretoria do conservatório de
música do Pará, mas morre antes.
Temos toda essa narrativa nos
documentos. Sua história só seria revisitada a partir do governo de
Getúlio Vargas, após período de negação de seu valor — contou Neibe da
Costa, chefe do arquivo histórico do museu.
Tataraneta resgata memória
EU, DENISE MARICATO - EM FRENTE À CASA DE CARLOS GOMES - VILLA BRASILIA - 2012
CARLOS GOMES teve cinco filhos na Itália. Três deles morreram ainda crianças e
um quarto, com pouco mais de 25 anos. Ítala faleceu aos 60 anos, sem
deixar herdeiros, encerrando a descendência direta do maestro. Hoje,
Denise Maricato Lopes é quem coleciona documentos para manter viva a
história da família. Tataraneta do irmão de CARLOS GOMES, Santanna
Gomes, ela esteve na antiga casa do maestro em Lecco, cidade próxima a
Milão. O local abriga hoje uma escola de música. No jardim, estátuas dos
personagens Ceci e o índio Peri lembram “O Guarani”, a ópera que o
imortalizou.
ESTÁTUA DE PERI EM VILLA BRASILIA - 2012
O nascimento de meus netos me motivou a resgatar
essa história, para eles. CARLOS GOMES foi um gênio da música clássica.
Os italianos assoviavam “O Guarani” no meio da rua. Mas, por ser mestiço
de índio com negro e ainda por cima brasileiro, acabou muito
injustiçado — contou Denise, que pretende publicar um livro com o
material que reuniu.
MÚSICA É VIDA !
Louvo a atitude tomada no reconhecimento do grande maestro que op Brasil se ufana em te-lo como o consagrado autor de óperas famosas. Cabe a Prof. Denise Maricato o ressurgimento agora aprazado. Guy Machado.
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