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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

OS FILHOS E A INTERNET


O que seu filho faz na internet?

Mais da metade dos jovens sabe esconder dos pais o que faz na rede. Aprenda a vigiá-los sem isolá-los da riqueza da rede

João Loes
                     Na família Gonçalves, as regras de acesso à internet são claras e duras. Com três adolescentes em casa, Alessandra e Antônio Carlos Gonçalves, que vivem em Santos, no litoral paulista, se esforçam para proteger os filhos de tudo o que há de ruim na rede, sem isolá-los do mundo de possibilidades culturais, educacionais e de entretenimento que ela pode oferecer. Mas não tem sido fácil, tanto para os pais, que não podem ficar no pé dos filhos sempre que eles estão on-line, quanto para os garotos, que, como adolescentes, já querem alguma privacidade e têm o sangue encharcado do desejo de transgredir.
                        Talles Gonçalves, o caçula de 14 anos, aprendeu que não pode, em hipótese alguma, apagar o histórico de navegação depois de visitar os sites de jogos e as redes sociais que costuma frequentar. Já Távini, 16 anos, se acostumou a deixar armazenadas as conversas que tem com amigos e até com o namorado pelo MSN Messenger, serviço de mensagens instantâneas. A rédea curta também vale para Thaís, a mais velha, 18 anos. Ela foi proibida de proteger o notebook que ganhou de aniversário com uma senha particular que impediria o acesso dos pais. “Eles reclamam muito do monitoramento, mas aqui em casa é assim”, sentencia Alessandra. “Leio as conversas e revejo o histórico de tudo o que eles fazem”, diz.



 
                         Será que não há nada que escape aos olhos dessa meticulosa mãe? Sim, há. Um estudo conduzido recentemente pela empresa de segurança da informação McAfee com 400 adolescentes brasileiros mostrou que 53% dos meninos e meninas com idades entre 12 e 17 anos sabem esconder dos pais o que fazem na rede. Talles, por exemplo, gosta de participar de disputas em um jogo de guerra virtual e admite que, através do game, poderia conversar com colegas e trocar experiências sem deixar rastros. “Não tenho por que esconder nada, e não escondo, mas o que converso no jogo não fica disponível para a consulta dos meus pais”, explica. Não há motivo para duvidar de Talles, mas se a possibilidade de se comunicar sem monitoramento dentro de um computador vigiado chegou a alguém tão desinteressado quanto ele, imagine essas e outras ferramentas na mão de quem esmiúça a rede atrás de formas de burlar os controles impostos pelos pais (leia quadro abaixo).
                     O caso de A.Z., 12 anos, é uma espécie de síntese do estrago que um adolescente pode fazer na rede, mesmo sob supervisão. Autodidata, aos 11 ele conseguiu ludibriar um sistema de segurança que replica, como uma câmera escondida, o que se passa em seu computador para a máquina de um responsável e comprou créditos virtuais para um jogo com o cartão de crédito internacional do pai. “Só soubemos quando recebemos uma ligação da operadora nos avisando de compras estranhas no Exterior”, lembra M.S., a mãe. A. também cruzou involuntariamente com pornografia durante uma pesquisa para o colégio e repassou os links para os amigos via MSN Messenger. “O computador do meu filho tem tudo quanto é tipo de bloqueio, mas ele dá um baile nos controles e na gente”, diz M., que chegou a contratar um perito p rofissional para ajudá-la na fiscalização do menino e já chegou a tirar o computador do filho, proibindo-o de acessar a rede. Até se convencer de que a atitude era ineficiente e contraproducente. Primeiro, porque, ao proibir a internet em casa, ela bloqueava uma poderosa ferramenta educacional. Segundo, porque o filho sempre dava um jeito de acessar a rede. E, uma vez nela, ainda mais fora de casa, o céu era o limite.
                  E olha que, dentro da escala criada por especialistas em segurança na rede, como Gregory Smith, autor do livro “Como Proteger seus Filhos na Internet” (Ed. Novo Conceito, 2009), para avaliar as chances que um adolescente conectado tem de se complicar no mundo virtual, A. Z. não está na zona de maior risco. Smith dividiu a escala em três faixas que vão dos 8 aos 18 anos do usuário da rede. A primeira, e mais tranquila, vai dos 8 aos 11. Nela, é comum que os pais entendam mais de computação do que os filhos. O controle, portanto, é fácil e há poucas transgressões. Já dos 12 aos 14 anos, como é o caso de Talles, o uso da internet, que antes se restringia aos jogos e às pesquisas, ganha um novo componente: a comunicação entre amigos por e-mail, redes sociais e sistemas de mensagens instantâneas. O celular com acesso à web também entra em cena e o adolescente dá um salto tecnológico à frente dos pais. Quando chega a terceira e última fase, que vai dos 15 aos 18 anos, o jovem está no auge de seu conhecimento virtual e do aventureirismo natural da idade. Passa a ser uma necessidade recorrer a softwares para controlar o acesso à rede (leia quadro ao lado). “Tenho filhos adolescentes e me vejo pensando como um criminoso para estar à frente deles”, reconheceu Smith à ISTOÉ.
                  Afinal, em algum momento, o adolescente fatalmente se verá sozinho diante de um dispositivo com acesso à rede sem nenhum tipo de controle de software ou supervisão dos responsáveis. Seja esse dispositivo um desktop, seja um notebook, um tablet ou um celular – plataforma de acesso à internet que vem crescendo tanto entre a faixa etária que as operadoras de telefonia já oferecem planos que atendem, diretamente, às demandas dessa turma. “Vendemos pacotes que habilitam celulares pré-pagos a acessar a internet por um dia inteiro por apenas R$ 0,50”, explica Roger Solé, diretor de marketing consumer da TIM. O preço é inferior ao cobrado por boa parte das lan houses, casas que oferecem computadores ligados à rede por um valor fixo cobrado por hora.
                 Outras grandes operadoras, como a Vivo e a Claro, também oferecem serviços parecidos, de olho nos usuários ávidos por redes sociais e sistemas de mensagens instantâneas. “Eu já acesso a internet mais pelo celular do que pelo computador”, conta o paulistano Bruno Camacho, 18 anos, que deve completar o ensino médio este ano e tem um iPhone da Apple. Entre os serviços mais acessados por ele estão o onipresente MSN Messenger, o Orkut e o Skype, um sistema que permite fazer ligações telefônicas gratuitas pela internet. “Há programas de controle de acesso para telefones celulares, mas o mercado desse tipo de software ainda é pequeno”, explica Wanderson Castilho, perito em crimes digitais e criador de uma opção de programa para monitoramento remoto de celulares. Ou seja: boa parte do acesso por celulares é feita livremente.
                 Nesse ambiente de hiperconectividade, em que as oportunidades para que algo fuja ao controle se multiplicam, até os pais com filhos aparentemente aptos a circular pela internet com segurança devem estar prontos para lidar com eventuais deslizes no mundo virtual. “O adolescente está em processo de formação de identidade, ele quer testar os limites”, explica Cecília Zylberstajn, psicoterapeuta especializada em adolescentes. “Nem a estrutura neurológica que lida com o controle dos impulsos está totalmente desenvolvida”, lembra. Assim, é de se esperar que ele erre na vida virtual como falha na vida real.
E isso pode ser bom, já que o erro ensina. Os números do mesmo estudo da McAfee confirmam essa tese. Segundo a pesquisa, 90% dos adolescentes que foram intimidados no mundo virtual – por terem divulgado uma foto que acabou publicada onde não devia ou dado uma opinião controversa que causou comoção desproporcional – mudaram seus hábitos virtuais para evitar que aquilo se repetisse. “Sempre fui cuidadosa, mas depois que vi comentários desagradáveis sobre uma foto minha no Orkut, passei a ter ainda mais cuidado”, diz a paulista Mayara Vendramini, 16 anos. Uma colega de sala copiou uma foto que Mayara tinha colocado no Orkut, republicou-a em outro álbum e passou a fazer ofensas a ela. “Meus amigos todos foram me defender”, conta a garota, sobre a guerra virtual que se instalou. Ela não parou de usar a rede social, mas hoje escolhe criteriosamente as fotos que colocará no álbum. Ou seja, administra a própria segurança de maneira quase autônoma.

                   Se a última fronteira da segurança do jovem conectado é o próprio jovem, nada substitui a conversa periódica entre pais e filhos sobre o que se faz na rede. Para a psicoterapeuta Cecília, explicar a natureza das regras impostas, mostrar interesse diante de novidades tecnológicas e até fazer concessões é papel dos pais na educação para o uso saudável da internet. “O filho sempre vai saber mais que o pai e driblará os sistemas”, diz. “Entrar em uma guerra tecnológica com eles é entrar em uma guerra que já começou perdida”, resume. A paulistana Mariana Martinelli, por exemplo, 16 anos, tem perfil no Orkut, no Facebook e no Twitter e está sempre online. Ela faz pelo menos cinco atualizações diárias sobre suas andanças pela cidade, seus planos e opiniões, mas é muito cuidadosa na hora de escolher quem terá acesso às informações que coloca na web. “Tem muita gente que diz que só adiciona quem conhece pessoalmente, mas, na prática, adiciona todo mundo”, diz Márcia Varella, mãe da menina. “Mas ela é rigorosa”, afirma. “Se não conheço, não adiciono mesmo”, garante Mariana. Ela tem 300 amigos no Facebook que, além de acompanhar seus posts, podem ver e comentar as mais de 50 fotos que ela postou na rede social. “O adolescente está na idade de querer aparecer”, afirma Patrícia Peck Pinheiro, advogada especializada em direito digital e criadora da cartilha “Criança Mais Segura na Internet”. “Eles sempre acham que nunca vai acontecer nada de mal com eles”, diz. Mas acontece. E lembrá-los disso é obrigação dos pais.
 FRASE DO DIA:
 "Imaginando oceano, as crianças brincam na poça d'água." (Carlos Novais) 

 PASSEIO PELA PRAIA COM A TCHURMA






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