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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"SALVADOR ROSA" - (quinta ópera de Carlos Gomes)


Patrícia Monção interpretando "MIA PICCIRELLA" - "SALVADOR ROSA" - na passagem de som da Banda Sinfônica do Corpo de Fuzileiros Navais no concerto em Aracajú-SE.



Em 11 de Março chegara carta de Ghislanzoni, que já não está com Ponchielli e se coloca à disposição de Carlos Gomes. Rebouças e Carlos Gomes, então, partiram para Lecco, na casa de Ghislanzoni, para contratar o libreto de “Salvador Rosa”.
O contrato foi assinado em 12 de Março e foram pagos 1.500 francos por Carlos Gomes e 500 francos pelo editor.
Carlos Gomes pagou no ato 500 francos e Ghislanzoni combina entregar em fins de Março um esboço do libreto integral: até 15 de Abril, o 1º ato; em 15 de Maio, o 2º; em 15 de Junho, o 3º e em 15 de Julho, o 4º. Na entrega do segundo ato, Carlos Gomes pagaria outros 500 francos, mais 500 francos na entrega do quarto ato e o editor ao qual fosse cedida a ópera, pagaria mais 500 francos ao libretista.
Este trabalho, cujas qualidades essenciais se baseiam no elemento melódico popular, fez a volta de todos os teatros da Itália e da Bélgica. Era a síntese expressiva com que saudou a terra onde colhera o ensinamento e os louros artísticos.
Ficava o editor com propriedade da ópera para a Itália e Carlos Gomes para o Brasil.
Com esta ópera, Carlos Gomes foi definitivamente consagrado. Foi a ópera mais cantada, mais popular e mais querida em toda Itália. O papel de Isabel foi vivido por Hariclée Darclée. Cantou-se simultaneamente na Inglaterra, na Alemanha e fez as delícias do público do Brasil.
Com ela, ele saudou a terra onde tivera o ensinamento e os louros artísticos. Foi escrita num momento de bom humor.
Foi a estória de Masaniello, baseada no romance de Mirecourt, que serviu de inspiração para esta obra de Carlos Gomes.
Temos a revolução histórica e real, que aconteceu realmente, comandada por Masaniello, cujo verdadeiro nome era Tommaso Aniello d’Amalfi e que não era natural de Amalfi, como dizem, tratando-se de seu próprio sobrenome. Este humilde, mas bravo pescador conseguiu fazer com que a corte espanhola, sob o comando do Duque D’Arcos, se rendesse ao poder popular, cancelando os pesados impostos que eram pagos à Espanha.

A história se passa em 1647. É a rebeldia dos pescadores napolitanos contra o peso dos tributos impostos pelo vice-rei, representante de Felipe IV da Espanha.
Depois, a mesma corte arma uma conspiração e o herói do povo é assassinado.

Incluíram outro vulto popular napolitano da época: Salvador Rosa, grande pintor, gravador, poeta, músico e ator famoso em 1650, líder dos rebeldes. Paralelo a tudo isso, desenrola-se a estória de amor de Salvador e Isabella, filha do vive-rei, o Duque D’Arcos, personagens fictícios, bem como fictícia é a participação do famoso pintor na dita revolução. Além disso, existe o personagem carismático de Gennariello, soprano, um travesti, a exemplo do Oscar de “Un Ballo in Maschera”.

Gennariello é responsável por divertidas cenas que entremeiam o drama, bem como canta a mais famosa ária da ópera, "Mia Piccirella".
Temos também a monumental personagem do Duque D’Arcos, que talvez, ao lado do Cacique em “O Guarani”, represente o maior papel de ACG para Baixo.
O principal assunto desta ópera é o jogo político que está em relevo e não a estória de amor, apesar dela ser ilustrada por um longo e belíssimo dueto. O libreto é muito claro e é louvável como consegue, em apenas duas horas, contar tanta coisa. Apesar da estética soar antiquada, ACG compõe música com alto refinamento. É impressionante a quantidade de melodias contidas numa só ópera e enquanto suas idéias musicais apontam para o futuro, o libreto, bem como em todas as suas óperas, ainda tem um pé fincado no passado, pois, a estética de seus textos ainda está na primeira metade do séc. XIX.
Em “Salvador Rosa” Carlos Gomes é um compositor seguro e respeitado pelos editores e críticos milaneses, embora não tendo um casamento ideal e feliz. É uma obra cheia de uma leveza que pouco se vê nas duas outras óperas que a precederam.
O contrato do “Salvador Rosa” com os Ricordi é muito mais lucrativo e diferente em valores e em condições, dos assinados com Lucca para suas outras óperas.

Trecho retirado de meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - Maestro Antonio Carlos Gomes - A Trajetória de um Gênio", a ser lançado brevemente.

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