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domingo, 17 de janeiro de 2010

HISTÓRIA CAMPINEIRA NÃO TEM VEZ !


ROGÉRIO VERZIGNASSE
rogerio@rac.com.br
Quem anda apressado pela pracinha, bem na confluência da Avenida Francisco Glicério com a Rua Marechal Deodoro, fica irritado com aquela inútil base de tijolo no caminho. Tem a altura de uma sarjeta. Não toma nem um metro quadrado da calçada. Para as novas gerações, trata-se apenas de um obstáculo causador de tropeções e tombos. Poucos campineiros sabem que aquilo é o que restou de um monumento piramidal em granito rosa, inaugurado em 1958 para comemorar o centenário da imprensa campineira.
Em abril daquele ano, o Correio Popular e o Diário do Povo traziam páginas inteiras, com fotos das autoridades engravatadas ao redor do marco. Naquele ano, a cidade rendia homenagens aos irmãos João e Francisco Teodoro Siqueira e Silva, fundadores do pioneiro jornal Aurora Campineira. Acontece que o monumento em pedra foi ao chão. “É só um símbolo do desrespeito da cidade à sua história”, fala o pesquisador João Marcos Fantinatti, que passou a reunir no próprio blog textos e imagens sobre patrimônios se tornaram pó.

Um passeio virtual leva o campineiro de hoje a conhecer lugares e episódios marcantes que simbolizaram o status social, a cultura e o poder econômico no passado. No capítulo sobre o centenário da imprensa, Fantinatti conseguiu imagens da primeira metade da década de 70: o marco ainda resistia entre vias que já apresentavam trânsito intenso. Ao lançar o blog, o pesquisador teve dois objetivos básicos. Primeiro, reunir depoimentos, postar documentos e fotografias que fizeram parte da vida de milhares de cidadãos. Além disso, ele quis denunciar que falta, na Administração, um governo após o outro, gente comprometida com a memória local.
São resgatadas polêmicas clássicas, como a inexplicável demolição do Teatro Municipal, em 1965. O blog também traz informações preciosas sobre muitas outras construções que desapareceram da paisagem porque a força do dinheiro passou feito rolo compressor sobre a história. Com a colaboração dos internautas, ele posta imagens do mesmo lugar, antes e depois das demolições. Consegue, ainda, registros fotográficos raros, inéditos até em bibliotecas e museus.

Sobram exemplos tocantes. É o caso, por exemplo, do Ateneu Paulista, colégio inaugurado em 1921 no casarão que pertencia ao barão de Ibitinga, na esquina das ruas Dr. Quirino e 14 de Dezembro. Fundada por um grupo de empreendedores comandados por Álvaro Ribeiro, a escola tradicionalíssima fechou as portas nos anos 60. E o prédio, um verdadeiro símbolo da arquitetura imponente da milionária Campinas do ciclo cafeeiro, foi demolido em 1976. O blog tem as fotos dos paredões largos sendo transformados em ruínas.

O espaço virtual também resgata cenários da Campinas romântica: aparece o histórico bebedouro que existia na Rua Ferreira Penteado, a Barão de Itapura usada como pista de corridas das baratinhas, o inesquecível estádio do Guarani (o “Pastinho”), que fechou os portões em 1953, após um amistoso entre o Bugre e o São Paulo. Mas há diversas imagens recentes da destruição irresponsável de patrimônios tombados.
Ele reproduz reportagens da época do tombamento e coloca ao lado a imagem dos dias atuais, onde o patrimônio não existe mais. Caso, por exemplo, da chaminé que existia no antigo prédio da Cervejaria Antarctica, na Andrade Neves. Para compensar a demolição do imóvel, que teria o terreno ocupado por uma igreja, o Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc) defendeu em 2006 a preservação da chaminé. A mesma quadra, fotografada três anos depois, já não tinha o patrimônio.

Também existem fotos do imóvel mais antigo da Vila Manoel Dias, construída em 1908 na travessa que abrigou as 40 moradias do conjunto habitacional dos ferroviários. Ao lado das fotos antigas postadas, Fantinatti veicula reportagem do Correio de 2007 quando a casa foi demolida. O patrimônio histórico, que caía havia uma década, não resistiu ao abandono.

Segundo Fantinatti, de nada adianta a cidade ter um conselho formado por profissionais respeitados e capacitados, se a Prefeitura tem em cargos estratégicos pessoas que não respeitam as decisões dos conselheiros nem possuem qualquer compromisso com a preservação. “O campineiro perde referências, a memória da cidade vai desaparecendo”, alerta.
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COMENTÁRIO DA DENISE

Cargos Estratégicos, ocupados de forma politicamente "estratégica", é o que possui Campinas e "estrategicamente" não se faz nada. Muita gente "estrategicamente" não nasceu em Campinas, portanto "estrategicamente" não se interessa de coração pela cidade.
Aliás, "estrategicamente" muitíssimo merecido, pois, Campinas também não se interessou pelo lindo Teatro Municipal, não se interessou pelos valorosos maestros da família Tullio, nunca se interessou pelo seu representante maior, Antonio Carlos Gomes, não se interessa por restaurar a Caravela que o próprio prefeito da época inventou, não se interessa em fazer do Teatro Castro Mendes um lugar decente e iluminado, não se interessa pelas correntes roubadas do Monumento-túmulo de Carlos Gomes, não se interessa por divulgar o nome do Maestro, (com uma exceção: a magnífica ABAL) etc... etc... etc...
Que bom que existem pessoas que, de alguma forma, tentam mostrar as vergonhas de Campinas.
O campineiro precisa descer do salto e olhar para a cidade, com olhos mais sensíveis e amorosos, ao invés de passar os fins-de-semana e feriados perambulando pelos Shoppings da cidade. Ou então, o que será de nossos netos...
Parabéns, Fantinatti !

CONHEÇA A HISTÓRIA DE CAMPINAS:
http://pro-memoria-de-campinas-sp.blogspot.com/

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