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domingo, 1 de agosto de 2010

NOTAS MUSICAIS






IL GUARANY, primeiro DVD de CARLOS GOMES



"Nós, amantes da música de CARLOS GOMES sempre tivemos dificuldade em conseguir material em vídeo ou áudio de sua obra. A FUNARTE lançou anos atrás três óperas em VHS: IL GUARANY, FOSCA e MARIA TUDOR. Em CD temos uma coleção com quase todas as óperas do compositor campineiro, gravações históricas realizadas no Teatro Municipal de São Paulo e no Teatro Municipal do Rio de Janeiro lançadas pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Existem ainda diversas gravações em vídeo e áudio piratas que circulam entre nós colecionadores. Temos a primeira gravação original em DVD de um ópera de CARLOS GOMES.

O DVD IL GUARANY contém a gravação ao vivo da produção do Primeiro Festival Internacional de Ópera da Amazônia realizado em 2007 em Belém do Pará. Para comandar a orquestra chamaram um especialista, Roberto Duarte. Profundo conhecedor da partitura nos apresenta uma ópera revisada, cenas são acrescentadas e o balé ampliado. Com muitas regências de IL GUARANY, consegue tirar dos jovens da Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz uma musicalidade correta, com tempos precisos. Sua leitura é simples, direta, sem riscos.

A direção ficou a cargo de William Pereira, sua visão da obra nos remete aos tempos atuais, onde espectadores estão em um museu indígena e são convidados a se retirarem, pois acabou o horário de visitas. No apagar das luzes o guarda começa a tirar uma pestana e começa a apresentação. Delírios e sonhos de um guarda maluco. No demais a ópera volta ao Brasil colônia. Direção básica, conservadora, sem inovação, não acrescenta nada de novo, mas correta. Cantores quase sempre estáticos e pouca movimentação de massas corais. IL GUARANY, como qualquer obra, tem infinitas possibilidades cênicas. O público de Belém talvez não esteja preparado para as modernidades que existem no mercado. Na ópera é importante iniciar com o básico e depois ir introduzindo novas visões.

Cenários quase inexistentes, uma mesa aqui e uma cama acolá são o máximo que o cenógrafo se permitiu ou lhe permitiram colocar no palco. No fundo a já tradicional pintura de floresta. Exibição de imagens da floresta amazônica em vários momentos soa como clichê. A luz é primordial em qualquer obra teatral, nela se suplanta a carência de cenários, mas o que vemos é o estático predominando. Cadê a criatividade! As cores são bonitas, mas só isso.

O balé do terceiro ato trás uma coreografia diferente, nunca antes me deparei com dança tão exótica, mistura balé clássico com dança de rua. Às vezes interessante , às vezes de gosto duvidoso. Muitas produções nem chegam a apresentá-lo, fazem de conta que ele não existe. Ponto fraco da apresentação é o coral, o masculino tem sonoridade desequilibrada, baixos e barítonos suplantam e em muito os tenores. No decorrer dos anos e com a profissionalização do coral esse problema pode ser facilmente sanado.

Os solistas e principalmente os comprimários são de bom nível. Já vi muitas óperas detonadas por péssimos cantores de papéis menores. O tenor Richard Bauer possui belo timbre, agudos bem colocados suplantam suas deficiências cênicas. O soprano Adriane Queiroz tem bela voz, lírica como manda o personagem. Agudos brilhantes, vivos dão jovialidade a inocente Ceci. Boa presença de palco aliada a um belo rosto e uma voz interessante fazem com que tenhamos vontade de vê-la cantando a Ceci por estas terras.

Destaque para José Gallisa, baixo de voz potente, escura que controla bem os graves. No demais não posso deixar de citar as participações de Sávio Sperandio, Manuel Alvarez, Pepes do Valle, Jefferson Oliveira, Attala Ayan e Jefferson Luz. Todos com papéis menores mas muito corretos. Enobrecem a apresentação.

O primeiro dvd de CARLOS GOMES nos apresenta extras de excelente qualidade, temos um making off com entrevistas do regente e solistas e muitas informações sobre balé, coral, orquestra e a realização do festival. Vemos isso apenas em dvds de ópera importados. CARLOS GOMES nasceu no país errado? Se o compositor campineiro tivesse nascido na América do Norte sua música seria tocada em todos os teatros líricos do mundo. Teríamos uma infinidade de dvds com inúmeras versões, os gringos valorizam o que é deles e com certeza, amariam ter um compositor de ópera desse nível. Mas como ele é brasileiro tivemos que esperar até o ano de 2008 para o lançamento de seu primeiro dvd.

Parabenizo o Governo do Estado do Pará pela realização do Festival Internacional de Ópera da Amazônia , entenderam que cultura trás dividendos. A Secretaria de Cultura do Pará e a direção do Teatro da Paz pelo lançamento do dvd. Fica a ressalva da distribuição. Quem não mora no Pará vai ter que se virar para conseguir o vídeo. Ele é vendido apenas na loja da Secretaria de Cultura. Este que vos escreve contou com a presteza e simpatia de Ana Auriel Lima da Costa que enviou um exemplar a São Paulo via correio.

Il GUARANY, Bauer, Queiroz, Gallisa, Sperandio, Valle, Oliveira, DUARTE. Teatro da Paz –Belém, Pará 2007. DVD –Formato NTSC-Região ALL- Cantado em italiano e com legendas em português-Inglês. Duração.. 3h 50 min -Extras-Making off, Festival 2007, Coral Marina Monarcha, Balé Ana Unger, OSTP. Audio Dolby Digital."
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E-mail de meu amigo Guy Machado:

Querida amiga Denise

A corrigenda foi ótima. O artigo foi bem aceito aqui. É inadmissível um Theatro com história, faça uma afronta ao brasileiro CARLOS GOMES. Narrativa anterior, citei vários críticos. Mais críticos que conheciam música. Ler música na pauta de clave de sol e dó com o canto acima, é difícil. Aliás, a música é matemática pura. O compositor é um ser que nasce privilegiado, pois, recebe a inspiração melódica e a distribui para a pauta dos instrumentos da orquestra. E quantos ensaios... Sete longos anos num piano com execícios - diários de escalas, uma longa dedicação no aperfeiçoamento do dedilhado.
Na ópera, o compositor faz a música em cima do libretista que traduz o enredo em versos. O cantor lírico, vê com o maestro o seu registro vocal. Daí vai se trabalhar o "diafragma".
O artista lírico obedece a critérios de abstinências em comidas e bebidas. Antes do ano abrir-se, o cantor "esquenta" a voz com vocalizes . Quando citei críticos, esqueci-me do "Jornal do Comércio", que teve em suas colunas o mais rigoroso dos críticos: OSCAR GUANABARINO (maestro). Possue uma imensa biografia.
Era casado com D. Eulália Guanabarino. Morto, sua viuva foi residir na Tijuca. Quando completou 100 anos, foi homenageada pelo jornal "O Globo", na primeira página.
Renzo Massarini, Hugo Silva e Hestia Barroso e D. Ondina (Dòr), faziam as críticas das temporadas líricas.
Mário de Andrade, especializou-se em CARLOS GOMES.
O autor de "La Gioconda" (Amilcare Ponchielli), foi amigo de CARLOS GOMES. Trocavam idéias. O maestro André Vivanti, que participou das temporadas em Milão, deixou grandes experiências na regência como fã de Toscanini.
O teatro Lírico moderno, aboliu o "ponto" (um maestro coberto por uma cúpula) que apontava a entrada dos cantores nas árias e "concertant".
Em 1948, a Prof. Alda Pereira Pinto, diretora e fundadora do Teatro Experimental de Ópera, lançou seus alunos no campo lírico.
O maestro Santiago Guerra, dirigiu a orquestra do Teatro Municipal por longos anos.
Edoardo de Guarniere, Francisco Mignone, Mario de Bruno, Armando Bellardi e tantos outros, deixaram grande contribuição para a arte lírica nacional.

Um forte abraço"

GUY MACHADO
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