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terça-feira, 12 de julho de 2011

OCÊGÓSDEVINHO ?

DEGUSTAÇÃO DE VINHO EM MINAS
Luís Fernando Veríssimo


 
-  Hummm...  
-  Hummm...
-  Eca!!!

-  Eca?! Quem falou Eca?
-  Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim  estranho?

-  Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque  de
trufas  brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que  enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas... 






 -  Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo ?!
-  Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor? 
-  Cebesta, eu não! Sou isso não senhor !! Mas que isso aqui tá me cheirando  iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso  tá!
-  Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!  



 -  O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o  narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é ?
-  Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso  queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá  como  segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar  o vinho e, então... 
-  E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!  

-  O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no... 


 -  Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim! 
-  Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por  exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
-  Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...  
-  O senhor poderia começar com um Beaujolais!
-  Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana! 

-  Então, que tal um mais encorpado? 
-  Óia lá, ocê tá brincano com fogo...  
 -  Ou, então, um suave fresco! 
-  Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um  tapa na sua cara desavergonhada! 
-  Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!  
-  Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, messs! Num é questão de tamanho e  firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté  rima  com brabuleta...
-  Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio? 

 -  E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu? 
-  Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio,  acertei?
-  Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de  rôia! 
-  Mole e redondo, com bouquet forte?  

-  Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre,  não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!...  
 SININHOS DE NOEL

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