A VELHICE
Rubem Alves
Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético. A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo.
A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza única, que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs.
A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa – talvez solitária. No crepúsculo tomamos consciência do tempo. Nas manhãs o céu é como um mar azul, imóvel. No crepúsculos as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, a amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo – tudo rapidamente.
Ao sentir a passagem do tempo nós apercebemos que é preciso viver o momento intensamente. Tempus fugit – o tempo foge – portanto, carpe diem – colha o dia.
No crepúsculo sabemos que a noite está chegando. Na velhice sabemos que a morte está chegando.
E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única. Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos...
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FRASE DA VEZ:
"ERRAR É HUMANO, TROPEÇAR É COMUM. SER CAPAZ DE RIR DE SI MESMO É MATURIDADE." (William Arthur Ward)
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Denise,
ResponderExcluirpermita-me postar um poeminha bem-humorado sobre a velhice, de minha autoria:
Uma Vovó do Barulho
Quando eu for bem velhinha
não quero ocupar ninguém
volto a ser criancinha
embora não seja neném.
Muito antes de velhinha
pretendo meu jeito mudar
vou levar minha vidinha
não tem chope tomo chá.
outro problema que existe
e pretendo resolver
não quero morar com filhos
nem deles depender.
E eu que falo demais
não aceito desacato
vou-me embora de fato
e deixo tudo pra trás!
Rogoldoni
Denise,
ResponderExcluirVou, também, postar uma poesia sobre a beleza do crepúsculo - do envelhecimento
O Crepúsculo da Beleza
de Olavo Bilac
Vê-se no espelho; e vê, pela janela,
A dolorosa angústia vespertina:
Pálido, morre o sol… Mas, ai! termina
Outra tarde mais triste, dentro dela;
Outra queda mais funda lhe revela
O aço feroz, e o horror de outra ruína:
Rouba-lhe a idade, pérfida e assassina,
Mais do que a vida, o orgulho de ser bela!
Fios de prata… Rugas… O desgosto
Enche-a de sombras, como a sufocá-la
Numa noite que aí vem… E no seu rosto
Uma lágrima trêmula resvala,
Trêmula, a cintilar, – como, ao sol-posto,
Uma primeira estrela em céu de opala…