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terça-feira, 28 de junho de 2011

AUGUSTO CURY - UM RECLUSO


O MAIOR VENDEDOR DE LIVROS DO BRASIL

                   Augusto Cury é um homem recluso. Não gosta de dar entrevistas, sua foto não está nos jornais, seu rosto não aparece na tevê. Dá, no máximo, quatro palestras por mês dos cem convites que recebe. Mora em uma fazenda em Colina, cidade de 17 mil habitantes no interior paulista, onde nasceu há 52 anos. É casado com a namorada dos tempos da faculdade, com quem tem três filhas, e dificilmente sai de seu refúgio. Mesmo se escondendo do mundo, mantendo distância da mídia e menosprezado pela crítica, Cury é um fenômeno. O maior vendedor de livros do Brasil da atualidade está presente no cotidiano de milhões de leitores com pelo menos alguma das suas 28 obras escritas ao longo dos últimos 13 anos. Um dos seus segredos, aliás, é ser um escritor compulsivo. São ao menos dois lançamentos por ano. “Ele é bom tanto na ficção quanto na não ficção e transita entre muitos públicos”, diz Soraia Luana Reis, diretora editorial da Planeta, editora que o publica desde 2006, quando a empresa, que é espanhola, comprou o selo Academia, criado pelo próprio Cury. Talvez por isso ele sempre esteja na lista dos mais vendidos – o mais recente, lançado no mês passado, “Mulheres Inteligentes, Relações Saudáveis”, briga com “Ágape”, do padre Marcelo Rossi, pelo 1o lugar na categoria autoajuda.

                         A carreira de escritor começou oficialmente em 1998, quando o então psiquiatra, aos 40 anos, conseguiu publicar seu primeiro livro, “Inteligência Multifocal”, após ouvir muitos nãos de editoras. “É um mercado muito exclusivista, poucos têm espaço”, disse Cury em uma entrevista negociada durante meses, pouco antes de ele falar para uma plateia de professores da rede pública de São José dos Campos. A necessidade de escrever, no entanto, começou bem antes. Aos 21 anos, estudante de medicina, passou por uma crise depressiva. “Eu não tinha um problema, era eu mesmo o problema e logo entrei em contato com minha dor e minha pequenez”, recorda. Ao se questionar sobre a razão de seus pensamentos mórbidos e sentimentos ruins, como ele mesmo descreve, começou a investigar a mente humana e analisar a forma como as pessoas lidam com as emoções. 
                  O primeiro livro, entretanto, era demasiado técnico e não vendeu. Cury percebeu que precisava ser mais acessível. Daí vieram títulos como “Você é Insubstituível” e “Nunca Desista de Seus Sonhos”, que lhe renderam a alcunha de guru de autoajuda – algo que o incomoda tanto quanto dar entrevistas. “Não gosto do termo porque passa a ideia de que são pensamentos que não resistem ao calor da segunda-feira”, argumenta. “O que escrevo está embasado numa teoria que estuda o funcionamento da mente.”
                        Cury faz a linha simplório. Não usa roupas de grife, não se importa com carros e viagens e aposta no tradicional terno preto de corte reto. “A gente que tem que vestir meu pai porque ele não entende nada de moda”, entrega Camila, a filha mais velha. De fala mansa, pausada e pensada, o escritor cita meia dúzia de números e estudos para ilustrar suas falas. Repete sistematicamente algumas de suas teorias e conceitos. Um exemplo: gosta de dizer que o maior mal moderno é a “SPA”, ou Síndrome do Pensamento Acelerado. É um orador à moda antiga. Por vezes, sua palestra parece um sermão. Tal como um pastor, exalta-se e aumenta o tom de voz para lembrar a plateia de que, sim, estamos todos adoecendo e precisamos nos amar mais. Eis o outro segredo do autor, falar dos dramas particulares que afetam meia humanidade como o medo, a depressão, a insegurança e a ansiedade. “O ser humano precisa aprender a proteger suas emoções”, defende. Ao final da palestra, Cury recebe cada leitor em uma longa fila de autógrafos com paciência e atenção. Camila é sua fiel escudeira e segue os passos do pai. Aos 23 anos, já escreveu um livro e dá palestras motivacionais.


                     Ao longo dos últimos dois anos, o escritor acompanhou, do alto de sua Colina, seu nome surgir involuntariamente no noticiário. Virou referência do técnico Dunga durante a Copa do Mundo e foi chamado publicamente pelo tradicional campeão de vendas brasileiro, Paulo Coelho, para um duelo. O mago duvidou da quantidade de livros vendidos pelo psiquiatra e o desafiou a comprovar os números. Naquela época, falava-se em mais de dez milhões. Hoje, já são 12 milhões. Cury deu de ombros. Mais tarde, devolveu dizendo que a preocupação com o primeiro lugar é um sintoma típico de uma sociedade doente e sedenta de fama – ele não gosta de dar entrevistas porque tem paúra de ser tomado como uma celebridade.
                      Quanto mais Cury se esforça para se fechar no seu universo particular, o que inclui contemplar a natureza e investir sua fortuna em reflorestamento, mais longe seu nome ecoa. De acordo com a editora Planeta, seus livros são vendidos até por revendedoras da Avon, especialmente no Norte e no Nordeste do País. E, curiosamente, ele tem um público cativo na China, onde ganhou um prêmio literário. “Tenho convicção de que o sucesso é efêmero, por isso procuro viver a minha vida o mais simples possível. Sou apenas um semeador de ideias”, diz, citando o título de um dos seus livros de maior sucesso. Um semeador de ideias que encontrou um público cativo e fiel.  
 CARROCINHA DE SORVETE

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