Páginas
▼
domingo, 19 de setembro de 2010
SAUDADES...
A VOZ INESQUECÍVEL DE TERESA GODOY
by Rogério Verzignasse
"Das fotos antigas, a mais interessante é a que ela canta ao lado de Fernando Teixeira, interpretando a ópera Il Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Na parede, as fotografias mostram Tereza jovem. Sob os pôsteres, continua no mesmo lugar o velho piano alemão Hedek. Como se ainda esperasse a soprano na banqueta. Todas as manhãs, ela ensaiava. Enquanto os dedos corriam o teclado, os agudos tomavam conta da sala.
Já cedinho, a melodia era ouvida até pelos vizinhos da Rua Silva Mendes, naquele pedacinho charmoso da Vila Industrial. Naquela casa, a cantora lírica Tereza Godoy viveu com o marido, o bombeiro Silvio, viu crescer os dois filhos, Alexandre e Maria Regina, e nascer o netinho Bruno. Mas, no último dia 11, um sábado, a sua voz de calou para sempre. Um acidente vascular cerebral provocou a morte da artista, aos 68 anos de idade. Ela vive, porém, na memória dos campineiros apaixonados por música clássica.
Gente como o administrador de empresas Omar Nascimbem, morador de Sousas, testemunha da época em que a voz dela arrancava aplausos entusiasmados nos teatros mais importantes. O velho amigo, que volta e meia visita a família, se refere à cantora como um talento ímpar, de potência vocal raríssima. Ela foi uma grande intérprete, das maiores composições.
Tereza Godoy surgiu para os palcos em 1970. Já tinha 27 anos quando começou a carreira profissional. Interpretou Ceci, na montagem inesquecível de "O GUARANI". Naquela ocasião, Campinas festejava o centenário da mais importante ópera de CARLOS GOMES e inaugurava o teatro que a Prefeitura acabava de instalar no prédio comprado do Cine Casablanca. Depois da inauguração apressada, o prédio fechou para reformas e foi inaugurado oficialmente em 1974, com o nome de Castro Mendes. E Tereza, na época, se preparava para voos ambiciosos, mundo afora.
A artista participou de espetáculos clássicos como A Flauta Mágica, de Mozart, e Il Rigoletto, de Verdi, em casas elegantes. Cantou em Bruxelas, Milão, Roma, Barcelona. Aqui pelos trópicos, brilhou em casas “sagradas”, como o Teatro Municipal de São Paulo, onde foi contratada para o coral. E o talento lhe rendeu bolsas para estudar e morar no Exterior.
O filho Alexandre, hoje consultor da Associação Brasileira dos Municípios, em Brasília, lembra como se fosse hoje. A mãe fez as malas e embarcou em Congonhas, às 14h do dia 20 de agosto de 1976, para morar um tempo na Bélgica. Era uma sexta-feira. O rapaz, hoje com 43 anos, conta que ele, o pai e a irmã suportaram a dor imensa da despedida, pois sabiam que Tereza ia brilhar, mostrar talento para as plateias exigentes. A mãe voltaria consagrada.
Mas a soprano talentosa teve de interromper a temporada. É que, professora concursada da rede estadual, ela precisava retomar as aulas, sob o risco de ser acusada de abandono de emprego. Seu plano era voltar aos palcos logo em seguida. Acontece que o patrocínio europeu para bolsas foi suspenso. Os belgas não aceitaram suspender temporariamente um contrato. E a artista, de origem humilde, não tinha como viajar e se manter na Europa às próprias custas.
Os convites rarearam. As temporadas internacionais, intercaladas, seguiram até 1990. Na última vez que a soprano se apresentou em Roma, a Itália sediava a Copa do Mundo. De volta, ela seguiu em palcos brasileiros até 2000, quando uma deficiência cardíaca a proibiu de seguir trabalhando. “Quando parou de cantar, minha mãe começou a morrer”, fala Alexandre, que hoje se ocupa em criar um perfil dela.
Quem vasculha a trajetória da soprano fica emocionado. Maria Tereza Dias da Silva Quintino de Godoy nasceu em 1942, em Orindiúva, lá pelas barrancas do Rio Grande, na divisa entre São Paulo e Minas. Filha de um alfaiate e de uma professora primária que cantava no coral da igreja, desde cedinho ela também quis cantar. Se casou com o bombeiro Silvio em 1965, em Mogi das Cruzes. E se mudou com o marido e os filhos para Campinas no finalzinho daquela década.
Começou a estudar canto com o mestre Orestes Sinatra. E decolou. Fotos antigas, no álbum da família, a mostram no palco ao lado de gente como o barítono Fernando Teixeira, outro consagrado. A carreira vitoriosa ficará para sempre, no coração daquela orgulhosa família, no coração da tradicional Vila."
-----------
Informações que só enriquecem a cultura nacional.
ResponderExcluirRogoldoni
Comovente!!!
ResponderExcluirSenhora Tereza Godoy,é gratificante saber de tantas coisas lindas que a senhora deixou e seu filho lhe prestando esta homenagem tão linda e sendo do seu merecimento.A alma dos diferentes é feita de uma luz além.
ResponderExcluirSua estrela tem moradas deslumbrantes
que eles guardam para os pouco capazes de
os sentir e entender.
E nessas moradas estão tesouros da ternura humana.
De que só os diferentes são capazes e a senhora foi e estara no coração eternamente no coração de seus familiares e amigos.
Parabéns Alexandre por sua sensibilidade estar prestando esta homenagem a sua querida mãe...
Bela homenagem, ainda que póstuma.
ResponderExcluirPessoa belíssima, interna e externamente, deixou saudades nos corações,daqueles que com ela dividiram momentos felizes, bem como de seus fãs, que tiveram oportunidade de apreciar sua bela voz.
Obrigada, Lucia !
ResponderExcluirTeresa Godoy foi o maior soprano coloratura que conheci no Brasil!
ResponderExcluirSua voz era grande, límpida e de uma espantosa técnica vocal. Nunca mais apareceu voz igual.
A voz de Teresa Godoy era grande, límpida e de espantosa técnica de coloratura. O soprano "leggero" nunca mais foi substituída em qualidade vocal, desde o seu desaparecimento aqui na terra. "Brava Teresa Godoy".
ResponderExcluirMarco Antonio Seta.
Brava Teresa Godoy; nunca mais apareceu uma voz tão linda, tão grande e de tal técnica vocal em sua coloratura. Soprano "leggero" das maiores do Brasil, ainda não igualada. Saudades de seus ornamentos vocais. Marco Antonio Seta.
ResponderExcluirAté hoje é muito clara a vóz da Tereza em minha mente. Todos os dias lembro-me dela, das tardes de sábado com o café e o bolo de bananas que ela tão bem fazia....
ResponderExcluirPor sorte tenho muitas gravações dela. Um tesouro!
Omar