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sábado, 19 de setembro de 2009

A ÚLTIMA OBRA DE CARLOS GOMES - nona - "COLOMBO" - 1892

"COLOMBO" - de CARLOS GOMES - interpretado pelo barítono SEBASTIÃO TEIXEIRA - 2008

A última grande obra de ACG foi “Colombo”, com sua música multiforme entre ópera, cantata e poema vocal-sinfônico, contando o descobrimento da América em 1492.
Carlos Gomes a chamava de “Cantata de Colombo”, mas acabou por denominá-la “poema vocal-sinfônico”.
Estreou em 12 de Outubro de 1892 no Teatro Lírico do Rio, dia do quarto centenário da América, precedida pela execução solene do Hino Nacional e pela abertura de “O Guarani”.
ACG, na partitura, dedicou “Colombo” ao povo americano.
Com “Colombo”, Carlos Gomes pagou a humilhação sofrida pela rejeição do Congresso brasileiro, projeto que o beneficiaria com modesta pensão. Pensou em ter o cargo de diretor do Conservatório de Música do Rio. O pedido não iria ser aceito.

A delicadeza e a ousadia de “O Guarani”, as novidades e as intenções modernizantes da “Fosca”, o paixão e alegria do “Salvador Rosa”, o refinamento técnico e o arrojo de “Maria Tudor”, a harmonia e a regularidade de “O Escravo” e a sinfonia do “Condor”, são qualidades da altíssima inspiração melódica de ACG.

Quase 50 anos depois, "Colombo" obteve pleno sucesso em 1936, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência de Villa-Lobos.
“Colombo” representa a síntese da experiência criadora de ACG e sua obra mais acabada.

“Colombo” é uma obra de alto valor musical, pelo invencível impulso sinfônico que a anima do início ao fim. Última grande composição de ACG é obra de uma época em que ele, aos cinqüenta e seis anos de idade, com mais de trinta anos de ininterrupta atividade como autor de obras dramáticas, chegava ao absoluto domínio dos ilimitados recursos que havia adquirido ao longo de toda sua vida.

Nessa época, Carlos Gomes era o compositor de mais amplos recursos de seu meio na Itália e o único a pensar a música dramática com tal valorização de seus aspectos sinfônicos e orquestrais. “Colombo”, ao mesmo tempo em que é melodicamente inspirado, é exemplar na adaptação da música às palavras e no uso das vozes dos solistas e do coro.

Trata-se de obra para o palco que não podia dispensar a ação dramática e que o autor, pensando em cantatas para os norte-americanos, conduziu a este formato. Há cenas em “Colombo” de notável textura teatral com música dramática da mais alta qualidade e emoção. As intenções comerciais de Carlos Gomes, elaborando uma cantata operística e não uma ópera foram nocivas à sua última obra, que permaneceu sempre no meio da indefinição de empresários e produtores de espetáculos, não se sabendo ao certo se é uma ópera, um oratório, uma cantata.

“Colombo” é uma obra que requer a partitura de orquestra.


Crônica do jornal americano “The Chicago Herald” de 8 de Setembro de 1893
“... Duas horas de puríssimo gozo intelectual como raras vezes nos é dado apreciar na América. Quando perante os milhares de pessoas que esperavam impacientes ouvir as notas deliciosas do grande Maestro, apareceu a esbelta figura de Carlos Gomes, o másculo rosto genial envolto da farta cabeleira cinzenta e a banda rompeu com os dois hinos, o brasileiro e o americano, um frêmito de entusiasmo invadiu todos os espectadores que se levantaram como um só homem aplaudindo até o delírio o artista, no pleno vigor de todas as suas energias.
Depois de cada trecho, um delírio novo invadia-nos a todos e a festa poder-se-á qualificar, não só como a comemoração de um grande feito histórico, mas também como a apoteose de um homem !...
... Os artistas foram incomparáveis, a música apreciadíssima e quanta emoção, para nós italianos, ouvirmos a nossa língua adornada pelas notas deliciosas da música do Maestro Carlos Gomes ! Como foi vivo, intenso, espontâneo o entusiasmo que partia dos numerosos patrícios presentes e como grato e sorridente se mostrava com eles o belíssimo velho, quando do palco estendia as mãos às centenas de admiradores que o rodeavam.
Como se sabe, o Maestro Gomes é em parte uma glória italiana. Foi entre nós que completou os seus estudos e obteve seus maiores triunfos e quase todas as suas óperas foram escritas no nosso idioma...
... Quando perante o público exultante, a comissão do Brasil subiu ao palco para cumprimentar o grande compositor, os italianos enciumados por aquele testemunho de carinho, correram também para abraçá-lo e saudá-lo, levando-o com eles para tomar uma taça de champagne, mas logo depois o Maestro, com aquela modéstia e simplicidade que o tornam tão simpático, deixou-nos e foi cuidar da vida dele.”

E mesmo depois deste sucesso estrondoso, com entrada grátis, recebe de elementos brasileiros da comissão, contas de gastos pessoais, como hotel, restaurante, etc, ao invés de ter sido apoiado principalmente pelo governo brasileiro, como o grande artista que era. Intimaram-no a pagar U$1.114 dólares !

SEBASTIÃO TEIXEIRA - O MAIOR INTÉRPRETE DE "COLOMBO"

Trecho retirado de meu livro "OLHOS DE ÁGUIA - Maestro Antonio Carlos Gomes - A Trajetória de um Gênio", a ser lançado brevemente.

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