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sábado, 5 de janeiro de 2013
A NÁUSEA
A NÁUSEA
Arnaldo Jabor
O grande Cole Porter tem uma letra de música que diz: "Conflicting
questions rise around my brain/ Should I order cyanide or order
champagne?" ("Questões conflitantes rondam minha cabeça/ devo pedir
cianureto ou champanha?")
Sinto-me assim, como articulista. Para quê escrever ? Nada adianta,
nada. E como meu trabalho é ver o mal do mundo, um dia a depressão
bate. A náusea - não a do Sartre, mas a minha. Não aguento mais ver a
cara do Lula, o homem que não sabe de nada, talvez nem conheça a
Rosemary, não aguento mais ver o Sarney mandando no País,
transformando-nos num grande "Maranhão", com o PT no bolso do jaquetão
de teflon, enquanto comunistas e fascistas discutem para ver quem é
mais de "esquerda" ou de "direita", com o Estado loteado por pelegos
sem emprego, não suporto a dúvida impotente dos tucanos sem projeto;
não dá mais para ouvir quantos campos de futebol foram destruídos por
mês nas queimadas da Amazônia, enquanto ecochatos correm nus na
Europa, fazendo ridículos protestos contra o efeito estufa;
não aguento mais contar quantos foram assassinados por dia, com
secretários de segurança falando em "forças-tarefas" diante de
presídios que nem conseguem bloquear celulares, não suporto a polêmica
nacionalismo-pelego x liberalismo tucano, tenho enjoo de vagabundos
inúteis falando em "utopias", bispos dizendo bobagens sobre economia,
acadêmicos decepcionados com os 'cumpanheros' sindicalistas, mas
secretamente fiéis à velha esquerda, que só pensa em acabar com a
mídia livre, tremo ao ver a República tratada no passado, nostalgias
masoquistas de tortura, indenizações para moleques, heranças malditas,
ossadas do Araguaia e nenhuma reforma no Estado paralítico e
patrimonialista, não tolero mais a falta de imaginação ideológica dos
homens de bem, comparada com a imaginação dos canalhas, o que nos leva
à retórica de impossibilidades como nosso destino fatal e vejo que a
única coisa que acontece é que não acontece nada, apesar dos bilhões
em propaganda para acharmos que algo acontece. Odeio a dúvida de
Dilma, querendo fazer uma política modernizante, mas batendo cabeça
para o PT, esse partido peronista de direita.
Não aturo a dúvida ridícula que assola a reflexão política: paralisia
x voluntarismo, processo x solução, continuidade x ruptura; deprimo
quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de
sentido, balas perdidas sempre acertando em crianças, imagens do Rio
São Francisco com obras paradas e secas sem fim, o trem-bala de
bilhões atropelando escolas e hospitais falidos, filas de doentes no
SUS, caixas de banco abertas à dinamite, declarações de pobres
conformados com sua desgraça na TV; tenho engulhos ao ver a mísera
liberdade como produto de mercado, êxtases volúveis de 'descolados'
dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, buscando ideais como a
bunda perfeita, bundas ambiciosas querendo subir na vida, bundas com
vida própria, mais importantes que suas donas, odeio recordes sexuais,
próteses de silicone, pênis voadores, sucesso sem trabalho, a troca do
mérito pela fama, não suporto mais anúncio de cerveja com louras
burras, abomino mulheres divididas entre a 'piranhagem' e a 'peruice',
repugnam-me os sorrisos luminosos de celebridades bregas, passos de
ganso de manequim, notícias sobre quem come quem, horroriza-me sermos
um bando de patetas de consumo, rebolando em shoppings assaltados,
enquanto os homens-bomba explodem no Oriente e Ocidente, desovando
cadáveres na Palestina e em Ramos, ônibus em fogo no Jacarezinho e
Heliópolis, a cara dos boçais do Hamas querendo jogar Israel no mar e
o repulsivo Bibi invadindo a Cisjordânia, o assassino pescoçudo Assad
eliminando o próprio povo, enquanto formigueiros de fiéis bárbaros no
Islã recitam o Alcorão com os rabos para cima, xiitas sangrando,
sunitas chorando, tudo no tão mal começado século 21, século 8.º para
eles ainda, não aguento ver que a pior violência é nosso convívio
cético com a violência, o mal banalizado e o bem como um charme
burguês, não quero mais ouvir falar de "globalização", enquanto
meninos miseráveis fazem malabarismo nos sinais de trânsito, cariocas
de porre falam de política e paulistas de porre falam de mercado,
museus pós-modernos em forma de retorcidos bombardeios em vez da
leveza perdida de Niemeyer, espaços culturais sem arte nenhuma para
botar dentro, a não ser sinistras instalações com sangue de porco ou
latinhas de cocô de picaretas vestidos de "contemporâneos", não
aguento chuvas em São Paulo e desabamentos no Rio, enquanto a Igreja
Universal constrói templos de mármore com dinheiro arrancado dos
ignorantes sem pagar Imposto de Renda, festas de celebridades com
cascata de camarão, matéria paga com casais em bodas de prata,
políticos se defendendo de roubalheira falando em "honra ilibada",
conselhos de ética formado por ladrões, suplentes cabeludos e
suplentes carecas ocultando os crimes, anúncios de celulares que fazem
de tudo, até "boquete"; dá-me repulsa ver mulheres-bomba tirando foto
com os filhinhos antes de explodir e subir aos céus dos imbecis, odeio
o prazer suicida com que falamos sem agir sobre o derretimento das
calotas polares, polêmicas sobre casamento gay, racismo pedindo leis
contra o racismo, odeio a pedofilia perdoada na Igreja, vomito ao ver
aquele rato do Irã falando que não houve Holocausto, cercados pelas
caras barbudas da boçal sabedoria de aiatolás, repugnam-me as
bochechas da Cristina Kirchner destruindo a Argentina, a barriga
fascista do Chávez, Maluf negando nossa existência, eternamente
impune, não suporto Cúpulas do G20 lamentando a miséria
para nada, tenho medo de tudo, inclusive da minha renitente depressão,
estou de saco cheio de mim mesmo, desta minha esperançazinha démodé e
iluminista de articulista do "bem", impotente diante do cinismo
vencedor de criminosos políticos.
Daí, faço minha a dúvida de Cole Porter: devo pedir ao garçom uma
pílula de cianureto ou uma "flute" de champagne rosé?!?
NATUREZA
Esse é o recado: "vejo que a única coisa que acontece é que não acontece nada, apesar dos bilhões em propaganda para acharmos que algo acontece..."
ResponderExcluirSe pensarmos no que os outros fazem, de certo ou errado (segundo conceitos universais ou de acordo com os pecados capitais ou com os Mandamentos da Lei de Deus) enlouqueceremos, por isso o que temos a fazer é pautar nossas atitudes segundo nossa consciência, pois um dia daremos conta de todos os nossos atos!
É, realmente, uma dúvida cruel!
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