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segunda-feira, 11 de julho de 2011

A MALDIÇÃO DE CARLOS GOMES

O Jornal Correio Popular publicava no dia 12/07/2009

Publicada em 12/7/2009
Opinião
A maldição de Carlos Gomes


MARCOS GARCIA
Todos nós sabemos, ou deveríamos saber, que o nosso querido compositor, quando retornou ao Brasil, não pode se fixar em sua terra natal, pois aqui não o queriam. Pelo fato de Campinas ser um reduto republicano não seria aconselhável ter por perto um tão ilustre simpatizante da monarquia. Nada a estranhar, pois como se sabe, Carlos Gomes só conseguiu ir estudar na Itália graças ao apoio recebido do Imperador D. Pedro II.

Nosso querido maestro foi recebido em Belém, no Pará, lugar que o acolheu até vir a falecer, tempos depois.


Pois bem, pelo jeito esta ação não foi sem consequência, pois a maldição começou aí. Desde então Campinas não decola culturalmente. Basta lembrar que aguarda há 44 anos por um teatro digno do genial músico que esta cidade viu nascer.


Acredito que somos a única cidade no mundo que foi capaz de destruiu um teatro para nada construir em seu local.


Para não deixar a cidade sem este local de cultura, nos anos 70 resolveram transformar um velho cinema em teatro. Esta solução resolveu o problema temporariamente, mas mesmo esse velho cinema já não funciona mais, pois está em obras há mais de três anos e não sabemos se voltará um dia a funcionar. Mesmo que volte, nunca passará de um velho cinema transformado.


Em qualquer lugar do planeta, uma cidade de mais de um milhão de habitantes tem uma política cultural consequente com sua importância. Aqui, porém, grassa a tal maldição nada parece prosperar.


Quem seria a pessoa que quebraria essa maldição? Músicos famosos, nós possuímos. Personagens ilustres e cabeças esclarecidas, não nos faltam. Mas, mesmo assim, o cenário não muda.


Mas o fato é que a coisa está neste pé. Não temos onde apresentar as óperas de nosso ilustre músico, pelo simples fato de não darmos a ele o valor que ele merece. Carlos Gomes estará para sempre condenado a ser simplesmente o nome de uma praça, um colégio, um conservatório ou sabe-se lá mais o quê. Não temos nem mesmo onde comprar gravações de suas obras, pois simplesmente não existem, nem mesmo gravações piratas nos prolíferos camelódromos da cidade.


Carlos Gomes só não desapareceu por completo graças a alguns nobres campineiros que diariamente cultuam suas obras, realizando um trabalho de resistência, evitando assim que esta caia no esquecimento, pois nem mesmo o festival a ele consagrado é acessível a todos. Boa parte da população, senão a imensa maioria, ignora esse evento. Além do mais, este deveria ser um acontecimento nacional e internacional, dada a importância do homenageado.


A história da relação de Campinas com Carlos Gomes daria um enredo perfeito para uma peça de Ionesco, mas o grau já passou em vários níveis o absurdo, que estamos já no patamar de um roteiro de horror.


Infelizmente, poucas são as pessoas neste País que têm consciência da importância da cultura, que muito mais que um simples lazer, é na verdade um direito humano. Um homem bem alimentado e com boa saúde nunca será um homem completo sem um grau decente de cultura. Quer se queira, quer não, com o respeito devido, este pobre ser pouco diferirá de algo potencialmente humano com alto grau de adestramento.


A situação cultural de Campinas me faz pensar na história do mendigo que, sentado sobre uma pedra de ouro, pede esmolas, pois não sabe o que fazer com essa pedra dourada.
 

CASULO TRAZIDO DE VILA BRASILIA

2 comentários:

  1. C.Gomes não foi estudar na Italia somente pelo apoio do imperador mas principalmente porque havia um decreto n.1542 de 23 de janeiro de 1855 que exarava: "aos professores (Conservatório de Música do Rio de Janeiro) reunidos em uma junta compete: 1.fazer ao govêrno uma proposta da qual fala o artigo 4; 2. propor ao govêrno, a cada cinco anos, o nome de um aluno o artista que se tenha distinguido pelo talento excepcional para que seja mandado à Europa para aperfeiçoar-se".

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  2. Exatamente !
    Foi porque ganhou medalha de ouro de primeiro lugar e o imperador o mandou para a Europa, mas por mérito próprio.
    Ninguém lhe fez favor algum.

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