RUBEM FONSECA - UM ESCRITOR RECLUSO
Aos 86 anos, o escritor Rubem Fonseca figura no topo da lista dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea, construiu uma fama de recluso: nega-se a conceder entrevistas, não aprecia ser fotografado e, quando identificado em suas caminhadas “criativas” pelo bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, costuma dizer que “não, ele não é Rubem Fonseca, é Ruy Castro”.
Sobre a sua biografia e vida pessoal, pouco se sabe. Agora, uma pequena novela inédita, “José”, vem à luz e tudo indica que o escritor que odeia falar de si próprio anda com propensões a memorialista. Como no título do livro, Rubem Fonseca se chama mesmo José. Como o personagem, descrito em terceira pessoa, ele é descendente de imigrantes portugueses, nasceu em Juiz de Fora e foi para o Rio aos 8 anos de idade.
Também como o protagonista de sua história, estudou advocacia, foi comissário de polícia, tornou-se um escritor – e famoso: o do livro lembra encontros com a autora americana Susan Sontag e viagens a prêmios literários internacionais. Todas essas coincidências levam a crer que o autor esteja falando de seus anos de formação. Mas ainda assim, Rubem Fonseca mantém o mistério em torno da criatura que parece ser ele próprio e cujas andanças por um Rio de Janeiro hoje inexistente ganha às vezes ares de ficção. Ou seja, sempre que o leitor acredita que tudo o que está sendo dito é verdade, na sequência um engenhoso procedimento literário lança dúvida e coloca tudo a perder.
Assim é Rubem Fonseca, que em sua nova obra, editada simultaneamente à coletânea de contos “Axilas e Outras Histórias Indecorosas”, se mantém fiel ao pensamento do poeta russo americano Joseph Brodsky, para quem a verdadeira biografia de um escritor está contida em seus livros. Essa frase aparece na seção de seu site dedicada à sua trajetória, que presenteia o leitor com apenas cinco linhas, secas e diretas como o estilo do autor. Foi nesse site, aliás, que Fonseca começou a esboçar “José”. Viciado em internet, que usa inclusive para conversar com amigos escritores como João Ubaldo Ribeiro, ele publicou partes da obra entre 2004 e 2005.
MISTÉRIO
Livro exibe tom memorialista e provoca o leitor com um jogo entre a verdade e a ficção. Já o Rubem Fonseca fabulador, que conquistou a crítica com sua linguagem urbana e prenunciadora da violência comum às cidades brasileiras em clássicos do romance policial como “A Grande Arte” e “O Caso Morel”, só dá as caras mais à frente, quando José vai estudar direito e tem aulas de medicina legal com um tal de professor Neto. “O exame que mais interessa José era o do crânio. Neto fez uma incisão de bisturi, que começou atrás de uma orelha e foi cortando pela testa numa volta até a outra orelha. Então, num puxão que fez um ruído estalante, Neto descolou o couro cabeludo do crânio...” e por aí vai, numa descrição típica do autor, que ainda hoje choca leitores desavisados. Outra passagem carregada do sentimento moral de suas narrativas mais conhecidas se dá com uma paixão inesperada por uma mulher que dizia morar com o irmão – e são muitas as paixões no livro, algumas marcadas pela descoberta inocente do sexo, outras por uma noção de carnalidade bastante adulta.
Um belo dia, José bate na casa da mulher e quem atende é o suposto parente. Procura pelo Doutor Guimarães e tem como resposta: “Meu filho, aqui só moram duas pessoas: eu e minha esposa Solange”. José nunca mais esteve com a amante. “Ele não podia amar uma mulher que enganava o marido”, escreve o narrador. Erudito e grande conhecedor da literatura americana, Fonseca já citou o escritor nova-iorquino Thomas Pynchon, outro recluso das letras, como um modelo bem-sucedido de anticelebridade literária: seria um sortudo, porque dele só se conhece uma foto, feita aos 14 anos. Bem, nesse quesito, Fonseca perde. Deve ter sido fotografado, a contragosto, um pouco mais.
REDENTOR
Livro exibe tom memorialista e provoca o leitor com um jogo entre a verdade e a ficção. Já o Rubem Fonseca fabulador, que conquistou a crítica com sua linguagem urbana e prenunciadora da violência comum às cidades brasileiras em clássicos do romance policial como “A Grande Arte” e “O Caso Morel”, só dá as caras mais à frente, quando José vai estudar direito e tem aulas de medicina legal com um tal de professor Neto. “O exame que mais interessa José era o do crânio. Neto fez uma incisão de bisturi, que começou atrás de uma orelha e foi cortando pela testa numa volta até a outra orelha. Então, num puxão que fez um ruído estalante, Neto descolou o couro cabeludo do crânio...” e por aí vai, numa descrição típica do autor, que ainda hoje choca leitores desavisados. Outra passagem carregada do sentimento moral de suas narrativas mais conhecidas se dá com uma paixão inesperada por uma mulher que dizia morar com o irmão – e são muitas as paixões no livro, algumas marcadas pela descoberta inocente do sexo, outras por uma noção de carnalidade bastante adulta.
Um belo dia, José bate na casa da mulher e quem atende é o suposto parente. Procura pelo Doutor Guimarães e tem como resposta: “Meu filho, aqui só moram duas pessoas: eu e minha esposa Solange”. José nunca mais esteve com a amante. “Ele não podia amar uma mulher que enganava o marido”, escreve o narrador. Erudito e grande conhecedor da literatura americana, Fonseca já citou o escritor nova-iorquino Thomas Pynchon, outro recluso das letras, como um modelo bem-sucedido de anticelebridade literária: seria um sortudo, porque dele só se conhece uma foto, feita aos 14 anos. Bem, nesse quesito, Fonseca perde. Deve ter sido fotografado, a contragosto, um pouco mais.
REDENTOR
Um homem de histórias e conclusões.
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