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quarta-feira, 11 de maio de 2011

BIGORNA DE PRATA

MUSEU SOUMAYA
                    O Museu Soumaya, na Cidade do México, foi inaugurado em março. O bilionário Carlos Slim patrocinou a obra, que custou US$ 70 milhões, e influiu nela. Aí estão expostas 6.200 peças de sua coleção, avaliada em US$ 650 milhões. O ponto alto é a coleção de esculturas de Rodin.
                            Quando, em 2010, Bill Gates e Warren Buffett, respectivamente o segundo e o terceiro homens mais ricos do mundo, convidaram o líder do ranking, o mexicano Carlos Slim Helú, de 71 anos, a seguir o exemplo dos dois e doar para a caridade metade de sua fortuna, Slim disse não. “Pobreza não se resolve com doações”, afirmou Slim, do alto de seus (estimados) US$ 74 bilhões. “Como homens de negócios, o que precisamos fazer é ajudar a solucionar os problemas sociais. É lutar contra a pobreza, mas não por meio de caridade.” 
                       Segundo Slim, o melhor que os bilionários podem fazer é continuar investindo nas empresas que os tornaram ricos, “em vez de andar por aí como Papai Noel”, doando dinheiro. Em vista das críticas à filantropia, não deixa de ser contraditório que o homem mais rico do mundo e dono da maior coleção particular de arte do planeta tenha desembolsado US$ 70 milhões para exibi-la – de graça – ao público num museu de linhas futuristas inaugurado em março na Cidade do México.
                     O Museu Soumaya leva o nome da mulher de Slim, morta em 1999. Soumaya também é o nome de uma de suas três filhas (além delas, Slim tem três filhos). O Museu Soumaya é difícil de classificar. Alguns críticos de arquitetura consideram o projeto elegante. Para eles, o prédio lembra uma ampulheta retorcida, como os relógios moles de Salvador Dalí. Outros detestaram. Sugerem que o edifício de seis andares e 47  metros de altura mais parece uma bigorna deformada, um eufemismo para a palavra “trambolho”.
                         A crítica, neste caso, pode ter um quê de inveja. Slim não criou nenhum concurso internacional para escolher o projeto do museu destinado a exibir um acervo de 6.200 obras – uma fração das 66 mil peças de sua coleção pessoal, avaliada em US$ 650 milhões. Embora as linhas do museu remetam aos projetos de arquitetos festejados como o canadense Frank Gehry e o holandês Rem Koolhaas, o escolhido em 2007 para projetá-lo era um completo desconhecido do mundo da arquitetura. Mas não de Slim. O arquiteto responsável é o mexicano Fernando Romero, hoje com 39 anos. E genro de Slim.
                              Durante a década de 1990, Romero trabalhou três anos no escritório de Koolhaas em Roterdã, o que ajuda a explicar a semelhança do Museu Soumaya com os projetos milionários do holandês. Quando lhe perguntam sobre sua escolha pelo sogro, Romero dá de ombros e responde: “Sem comentários”. O que Romero conta é que Slim se envolveu diretamente na criação do projeto. Diz que por sua insistência a fachada externa do edifício foi revestida com 16 mil hexágonos de alumínio, criando uma estrutura platinada que lembra imediatamente o museu Guggenheim Bilbao, na Espanha, e a Sala de Concertos Walt Disney, em Los Angeles (ambos projetos de Gehry).
                 Os críticos do museu de Slim enxergam na fachada brilhante outra correlação. Slim é dono da maior fabricante de alumínio do México. Fica no ar a sugestão de que a escolha tanto do arquiteto quanto do revestimento tenha sido ditada apenas e tão somente por um rígido controle de custos. O alumínio é só um dos vários tentáculos do império de Slim, que inclui vastas operações no setor imobiliário, além da Telmex, que domina o mercado de telecomunicações no México (e controla as brasileiras Claro e Embratel).
             O Museu Soumaya fica na Plaza Carso, no bairro Polanco, uma região deteriorada da Cidade do México. O museu é a estrela de um projeto de revitalização urbanística de US$ 800 milhões. Ele envolve a demolição de dezenas de quarteirões para a construção de luxuosos shopping centers, prédios comerciais inteligentes e conjuntos residenciais de alta classe média. A incorporadora é de – quem poderia ser ? – Slim.
                  A partir da entrada do Museu Soumaya, que é gratuita, o visitante percorre os seis andares galgando uma escada em espiral que lembra a do Museu Guggenheim de Nova York, projetado em 1956 pelo americano Frank Lloyd Wright. Mas, em vez da luz externa que banha todo o interior do “Gugga”, o Soumaya é uma caixa-forte sem janelas. O acervo do museu é eclético e tão esquivo a classificações quanto a construção que o abriga. São 17.000  metros quadrados de área expositiva. O 1o andar é dedicado a uma coleção de moedas preciosas do México colonial. No 2º piso ficam as peças de cerâmica, concha e pedras das culturas pré-colombianas. O 3º andar é dos mestres europeus: Da Vinci, Tiziano, El Greco, Cézanne, Renoir, Rubens, Matisse e Van Gogh. O 4º andar é dedicado às paisagens, ao mobiliário, ao vestuário e aos relicários. O diálogo entre o Velho e o Novo Mundo se dá no 5º piso, onde Picasso, Miró e Dalí confrontam Diego Rivera, Orosco e Siqueiros. Graças a uma claraboia, a luz solar penetra apenas o 6º andar, o lar das dezenas de estátuas e estatuetas de Rodin, consideradas o ponto alto do acervo.
           A despeito dos críticos, o Soumaya é, sob todos os aspectos, um grande museu, um privilégio para os mexicanos. Sob a ótica empresarial, parece ser também um excelente investimento.
 ESTRANHA NO NINHO
 

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