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quarta-feira, 16 de setembro de 2009
TRIBUTO AO MAIOR GÊNIO DAS AMÉRICAS DO SÉC. XIX, ANTONIO CARLOS GOMES, IRMÃO DE MEU TRISAVÔ !
... DIA 16 PELA MANHÃ – Segundo relatos da época – a muito custo pediu e conseguiu beber um cálice de leite. Só falava por gestos. Às vezes, caía num leve sono. No dia anterior, pela manhã, querendo levantar-se, precisou apoiar-se no ombro de um amigo para não cair.
Quis mandar um telegrama, mas a pena caiu-lhe das mãos. Tendo que ir até o terraço da casa, em passeio, parou seis vezes para descansar.
Às 13:46, Carlos Gomes começava a agonizar.
Às 17:00, o maestro reanimou-se um pouco mais.
Ás 18:00, recebe um cálice de leite.
Às 10:35, o boletim:
“Expirou o eminente maestro. Cerrou-lhe os olhos o Dr. Lauro Sodré.... A morte de Carlos Gomes foi completamente serena. O arquejar regularíssimo diminuiu a pouco e pouco e o último suspiro esvaiu-se num ofego quase imperceptível. A expressão do rosto é serena.”
Nenhum sacerdote visitou Carlos Gomes em sua agonia e na hora da morte. Ele não recebeu extrema-unção nem Hóstia consagrada, talvez porque fosse maçon.
Num gesto piedoso, o Dr. Pedro Clermont colocou-lhe sobre o peito um crucifixo na hora final.
Nem uma ruga na vasta testa, nem um músculo contraído nas faces encovadas e frias. Partiu deste mundo, com a consoladora certeza de saber que os filhos ficariam temporariamente amparados.
(trecho retirado do capítulo "Momentos Finais", de meu livro - "Olhos de Águia" - Maestro Antonio Carlos Gomes - A Trajetórias de um Gênio - ,que será editado brevemente)
Anotações rascunhadas por Carlos Gomes:
“A Pátria de Rossini, o berço das Artes, laureou o vosso nome, ilustre Maestro. Mas vós laureais a vossa Pátria.”
Rio de Janeiro em 23 de Novembro de 1870
J. DE ALENCAR
“Para os filhos do céu gêmeas nasceram
A inspiração e a glória.”
MACHADO DE ASSIS
“... Com o mesmo entusiasmo com que os alemães celebravam em Mozart o gênio enviado pela Providência para trazer a este mundo a sublime revelação musical, podemos nós, brasileiros, celebrar em Carlos Gomes o grande predestinado da Providência real e humana, que ao mundo todo revelou, nessa admirável linguagem universal dos sons, a nossa existência como povo culto, livre e soberano.”
LAURO SODRÉ (governador do Pará, na época)
“... Ele tão só poderia assinalar esta dupla sublimidade que fascina: a magnitude da Pátria, cuja máxima expressão é a Amazônia e o seu gênio nativo que é a síntese do “Guarany”.”
CESAR BIERRENBACH (grande amigo do Maestro)
Artigo de “Cidade do Rio”, do Rio de Janeiro, sobre as homenagens prestadas pela Amazônia a ACG:
“Se a Amazônia não lhe houvesse perfilhado o gênio; se ela não houvesse forçado a Pátria a meditar no que vale um filho igual ao maestro, que obrigou o mundo a repetir o seu nome como o de um povo já amadurecido pela razão intelectual do século; se essa nobre Amazônia não houvesse tratado com o seu carinho fraternal a balança da Justiça Brasileira, para que se visse quanto pesava Carlos Gomes em nossa terra artística...
... O maestro ficou representando e muito justamente uma das realezas do talento nacional. E o povo não quis que se lhe faltassem com honras devidas à imperecível majestade. E dizer-se que a Amazônia faz parte do Brasil...”
De Coelho Neto, sob pseudônimo, na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, reproduzida em Belém na “Folha do Norte” de 7 de Outubro de 1896:
“Emudeceu para sempre a grande harpa sonora da América...
... só agora, tombado, é que os homens podem medir a tua estatura.
Enquanto vivias, os vermes roíam-te. Grande mestre, viveste honestamente para a tua Arte, eras um enclausurado, não podias competir com os evidentes. Eras um rude, um expressivo apenas. Tu não sabias viver, mestre saudoso; eras simples e honesto e receavas tanto a multidão...
...O Brasil em peso, inclusive a Capital Federal tão avara, acaba de aclamá-lo e agora o seu cadáver é disputado...
... A Amazônia acolheu-o; foi ali que ele achou repouso para o seu corpo alquebrado e consolação para a sua alma amargurada, foi à sombra das palmeiras do Norte que o grande artista achou guarida, o seu derradeiro olhar foi para o céu do Equador, seu último suspiro foi para as florestas abaunilhadas...
... Carlos Gomes fez muito pelo Brasil mostrando à Europa, com a sua batuta, que sobre as águas do Atlântico havia um grande país que era o seu berço e de onde ele tirara a inspiração para os seus poemas musicais. Carlos Gomes é uma glória americana...
... Ainda assim foi bem feliz o músico porque sempre teve o Pará para recebê-lo... podia ter acabado na Santa Casa. Foi melhor assim, o Norte salvou a honra da República...
... Deus criou a sombra para acompanhar o Sol, o chacal para acompanhar os leões; o cedro tem o cogumelo agarrado à raiz, o livro tem o seu verme, a traça. Porque nos havemos de revoltar contra os que começam a tripudiar sobre o morto ? Há larvas que não podem farejar um cadáver. Mas esse sagrado espojo é como uma semente maravilhosa, fica na terra mas a sua flor desabrocha na Eternidade...
... O seu cadáver é disputado – a terra que teve o berço quer também ter o esquife e a Amazônia piedosa parece que vai abrir mão dessa relíquia... Parece que as almas começam a despertar...
O morto está em toda a Pátria, a sua alma ficou eterna no país ...
Essa é a grande imortalidade – a vida no coração e no espírito do povo – e os críticos que a destruam.
Grande mestre, orgulho de minha terra... eu te saúdo à tua passagem para a Posteridade.” (“Carlos Gomes no Pará” - Clóvis Moraes Rego – p. 257 a 261)
CALIBAN (era um dos pseudônimos de Coelho Neto)
Monteiro Lobato fala sobre o maestro:
“É dessas criaturas privilegiadas que possuem o dom divino da arte, mas que às vezes, passam a vida inteira sem se revelarem a si próprios.”
DE JOELHOS
“Cheguei já tarde, meu adorado velho ! Nem pude oscular-te a juba genial que a tesoura malévola do destino deitou abaixo, tal como se faz a um condenado na sentença iníqua da guilhotina !
A cabeleira branca voou, como a formar nuvens do ocaso divino do teu gênio, que só poderia pratear as resplandecentes paragens da Amazônia !
Como te encontro magro, meu Hércules ! Vi-te tão grande, erguendo a batuta inspiradora no tablado do Scala, da Ópera, de São Carlos e da Paz, e agora venho te encontrar tão exíguo e quase te confundo com as dobras do lençol de seda que te cobre !
Atleta, eras o Moisés da Bíblia a fazer brotar com a varinha as catadupas milagrosas da harmonia; mártir, transformaste-te nos fantasmas diáfanos destas matas a quem deste a vida nos teus cânticos !
Mas, como se deu tamanha fatalidade ? Seria essa cabeça um vulcão, cujas lavas eruptas, depois de iluminarem o mundo com a “Fosca”, fizeram-te ensangüentar a língua como o fundo da cratera ?!
Onde está o brilho desse olhar vago que dominava as multidões com o relâmpago dos raios daquela alma ardentíssima ?!
Mestre, tu fizeste a língua dos homens interpretar a alegria e as dores e só tiveste para a tua a sensibilidade cruciante da agonia !
Pobre águia ferida pelos tiros do Destino; escolheste para morrer a linha máxima do Equador, para com as asas abertas repartir, como um sol no ocaso o brilho da tua luz pelos dois hemisférios. Lei fatal das trajetórias: relativamente os astros também caem.
Eu quero adorar-te no tabernáculo sagrado da floresta, onde o canto fetichista dos sacerdotes indígenas entoam o “de profundis” ao mavioso cantor de Pery.
Nem podias, santo das multidões, encontrar mais reconcentrado Horto, do que nas margens deste rio-mar, para recolher nas suas ondas a baga do suor agonizante e confundir nas suas tempestades o gemido de um deus moribundo !
Carlos Gomes expirou: prostemo-nos.”
AMOUR (pseudônimo de Ignácio Moura – poeta, historiador, geógrafo, educador, polígrafo, tribuno, engenheiro, matemático, publicista e baluarte do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio fundador da “Mina Literária”, membro da Academia Paraense de Letras).
CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE CARLOS GOMES:
CERTIDÃO DE ÓBITO DE CARLOS GOMES:
(As fotos e os documentos foram retirados de meu livro "Olhos de Águia")
DENISE MARICATO - 16 de Setembro de 2009 - 113 anos da morte de Antonio Carlos Gomes
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDenise. Tudo tem o seu tempo. E o da sobrinha trineta do nosso querido msaestro, de trazer à tona coisas esquecidas, ou mesmo desconhecidas, de muitos campineiros, brasileiros e admiradores espalhados pelo planeta, chegou. Parabéns pelo seu trabalho. Fico à sua disposição e na grande torcida. Um beijo.
ResponderExcluirAna Bresil
Muito bom!
ResponderExcluirÉ necessário que nos emocionemos diante das manifestações dos talentosos e sensíveis literatos contemporâneos a chorar a morte do nosso imortal e inesquecível Maestro Antonio Carlos Gomes. Felizmente temos acesso a esses documentos literários graças a Denise Maricato que os resgata para nos ilustrar e ampliar o conhecimento dessa rica, extraordinária existência como foi a do grande Tonico de Campinas. Que mais fatos venham à luz, em seu esperado livro! Viva Carlos Gomes, através da sua vida e de sua Música.
ResponderExcluirAlcides L. Acosta