DANTE ALIGUIERI E OS 'GRÃOS DO PARAÍSO'
O  clássico “Divina Comédia”, do escritor italiano Dante Alighieri  (1265-1321) , é um livro ambicioso que sintetiza o pensamento político,  filosófico e teológico da Idade Média. Por isso é uma obra de difícil  acesso. Agora, no entanto, uma biografia crítica torna a descida de  Dante ao inferno uma jornada mais fácil e agradável. Trata-se de “Dante”, da escritora e tradutora inglesa Barbara Reynolds, uma das  maiores especialistas quando o assunto é o poeta florentino.Ela releu  toda a obra do autor, muniu-se de informações novas e escreveu um  calhamaço de 640 páginas que traça um perfil ágil e ousado do retratado.  Funciona para o leitor como o poeta Virgílio foi para Dante em sua  peregrinação pelas profundezas: um guia erudito e conhecedor de todos os  meandros dos versos alegóricos criados pelo escritor.
A  leitura da biografia mostra que a “Comédia” é uma resposta aos  infortúnios que perseguiram Dante em sua existência: ele também desceu  ao inferno em vida e teve que superar pelo menos três círculos de  condenações terrenas. O primeiro foi o da paixão não consumada.  Perdidamente enamorado por uma jovem de sua cidade, Beatrice Portinari,  que conhecia desde os nove anos de idade, ele não conseguiu ser  retribuído em seus sentimentos. Como era costume na época, ambos  casaram-se com parceiros escolhidos pelas respectivas famílias, mas isso  não impediu Dante de insistir em suas investidas. Fazia poemas  endereçados à amada e, ao encontrá-la em situações sociais, desmaiava.  Aos 24 anos, Beatrice morreu. Dante ficou devastado para o resto da  vida. Já nessa época, ele vivia outro ciclo infernal, o das drogas e  suas visões horripilantes. Membro de um grupo de poetas (os Fedeli  d’Amori) que endeusavam o amor, o florentino começou a fazer uso de  poções “inspiradoras” e parece não as ter abandonado. Barbara pesquisou o  herbário medieval e chegou à conclusão de que ele fez uso de maconha  (identificada como canapa) e de aloé vera (de onde se faz o alucinógeno  mescalina).
Registra também outra droga nomeada apenas como “grãos do paraíso” e cita como prova o trecho da “Comédia” em que Dante, “transumanizado” ao ascender ao Céu, se compara a Glauco, que “experimentou a erva” e se transformou em Deus do mar.
    A  autora levanta a hipótese de que o uso de estímulos psicodélicos esteja  na origem das visões divinas de Dante, tese válida também para as  aterradoras descrições do inferno, quando o autor se vinga de seus  inimigos políticos, reservando lugares de destaque na parte mais funda  da morada do Demo aos bajuladores, semeadores de discórdia, corruptos e  hipócritas. Integrante do grupo dos guelfos brancos (à frente do poder  em Florença), Dante defendeu a cidade na Batalha de Campaldino e foi  escolhido prior (alto posto na hierarquia social) aos 35 anos. Numa  crise entre os rivais guelfos negros, foi obrigado a mandar para o  exílio o amigo poeta Guido Cavalcanti, que acabou falecendo (de malária,  como ele). O pior viria a seguir, quando vai a Roma negociar a paz e é  traído pelo papa Bonifácio VIII: sua cidade é tomada pelos inimigos. Sem  recursos para pagar a vultuosa multa pela falsa condenação de  corrupção, amargou o resto da vida sem dinheiro, no exílio. Segundo  Barbara, “A Divina Comédia” seria assim não um tratado em versos sobre a  salvação religiosa pela prática da virtude, mas um relato alegórico  contra os usurpadores da vida justa em sociedade.Registra também outra droga nomeada apenas como “grãos do paraíso” e cita como prova o trecho da “Comédia” em que Dante, “transumanizado” ao ascender ao Céu, se compara a Glauco, que “experimentou a erva” e se transformou em Deus do mar.
CAMINHO DAS FLORES

 




Um marco na literatura quase no final da Idade Média.
ResponderExcluir